O que leva muitos casamentos ao fracasso é a noção falsa que se tem do amor hoje. Há no ar uma 'caricatura' do amor. Se eu lhe der uma nota de cem reais falsa, você não aceitará, pois ela não vale nada, e você ainda poderia ser incriminado por causa dela. Se você construir uma casa usando cimento falsificado, cuidado por que ela poderá desabar sobre a sua cabeça. Se você levar para o casamento um amor falso, ele certamente desabará, pois o 'cimento' da união é o amor.
Para mostrar bem claro o que é amar, vamos iniciar mostrando o que não é amar. Amor não egoísmo; isto é, preferencia por mim, mas pelo outro. Se você come uma fruta com gosto, não pode dizer que a ama. Se você treme de paixão diante de uma menina, e lhe diz : 'eu te amo', esteja certo de que você está mentindo, pois esta tremedeira é sinal de que você quer saciar o seu ego desejoso de prazer. Isto não é amor, é paixão carnal, é egoísmo. Se você está encantada com a beleza dele e se desdobra em declarar o seu amor por ele, saiba que isto também não é ainda amor, pois amor não é pura emoção ou sentimento.
Amar é muito mais do que isso, pois não é satisfazer a si mesmo, mas ao outro.
Quando você disser a alguém 'eu te amo', esteja certo de que você não quer a sua própria satisfação ou felicidade, mas a do outro. Cuidado com as 'caricaturas' do amor porque são falsas, e não podem fazer a felicidade do casal. Todo jovem tem sede de amar, mas muitas vezes o seu amor é mascarado e se apresenta falso e perigoso. Amar não é apoderar´se do outro para satisfazer-se; é o contrário, é dar-se ao outro para completá-lo. E para isto é preciso que você se renuncie, se esqueça. Você corre o risco de, insatisfeito, querer apaixonadamente agarrar aquilo que lhe falta; e isto não é amar.
Assim o amor morre nas suas mãos. Você só começará a compreender o que é amar, quando a sua vontade de fazer o bem ao outro for maior do que a sua necessidade de tomá-lo só para si, para satisfazer-se. São precisos oito anos para formar um médico, dez anos para se defender uma tese de doutorado. Para amar de verdade, será preciso uma longa preparação, porque somos egoístas. Sabemos, que a pressa é inimiga da perfeição. Há um provérbio chinês que ensina que tudo aquilo que quisermos construir sem contar com o tempo, ele mesmo se incumbe de destruir. Se você pintar uma parede que ainda está molhada, vai perder o serviço e a tinta.
O amor é hoje uma palavra tão mal usada, tão gasta, que é preciso ser redefinida para ser autêntica. O maior engano que existe hoje sobre o amor, é que, na maioria das vezes, quando alguém fala que está amando, na verdade está amando a si mesmo. Isto não é amor; é egoísmo. Há muitas 'miragens' do amor. Se o seu coração bate acelerado diante de alguém que o atrai, isto é sensibilidade, não chame ainda de amor. Se você perdeu o controle e se entregou a ele, isto é fraqueza, não chame isto ainda de amor. Se você está encantada com a cultura dele, fascinada pela sua bela carreira, e já não consegue mais ficar sem a conversa dele, isto é admiração, ainda não é amor.
Amar é uma decisão. E a decisão não é tomada apenas com o coração, empurrado pela sensibilidade. A decisão é tomada com a razão. Amar não é um ato intuitivo, mecânico, é uma decisão livre e consciente. É um ato da vontade, do querer. Para amar é preciso aceitar 'perder-se', esquecer-se, não voltar a si mesmo. É claro que a sensibilidade ajuda você sair de si mesmo, mas ela não é suficiente para levá-lo a amar. A admiração pelo outro, a afeição, empurram você para ele, mas isto ainda não é amor. Lembre-se, o amor é como uma via de mão única, que sai de você e vai até o outro.
É fácil viver as caricaturas do amor, mas o autêntico amor é exigente. A autenticidade do amor se verifica pela cruz. Todo amor verdadeiro traz o sinal do sacrifício. E é através desse sinal que você identifica o verdadeiro amor e o falso. Não há amor sem renúncia. Depois que o pecado entrou em nossa história, amar tornou-se uma 'imolação a si mesmo', uma verdadeira crucificação própria. Mas os seus frutos são doces.
Quando se planta amor, se colhe amor, ensinava São João da Cruz. Muitas vezes você pode ter reclamado de que não recebeu amor, mas será que você semeou amor ali naquele lugar? Se você amar gratuitamente, receberá tudo de volta. Se nos apegarmos ciosamente a nós mesmos e às criaturas, acabaremos perdendo tudo.
Para que o seu namoro seja rico é preciso basear-se neste amor que é doação de si mesmo para construir o outro. Se não houver amor, não haverá crescimento mútuo, e será tempo perdido. O seu namoro só terá sentido se for um aprendizado do autêntico amor. O amor tem muitas faces: a compreensão, a aceitação do outro, o perdão, a busca da verdade, a paciência, a sinceridade, a fidelidade, a bondade, o perdão, e tudo que faz o outro crescer.