quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mahatma Gandhi




Mahatma Gandhi (1869 – 1948)
da Tradição

Temos no mundo duas grandes Tradições esotéricas: a Ocidental que remonta às Escolas de Mistério do Antigo Egito e da Caldéia. Dela nutriram-se várias gerações de nossos dirigentes espirituais e nossa Tradição sempre foi mantida secreta ou, de alguma forma sob o controle de determinados grupos sociais, contra outros que poderiam destruí-lo intencionalmente (como os mais altos funcionários das religiões constituídas, particularmente judaísmo, cristianismo e islamismo) ou por ignorância (como todos aqueles a quem a Tradição representava complicação exageradamente distante de sua lida cotidiana). Segundo desejam alguns, dentre os quais destaca-se Platão, esta Tradição remonta mais remotamente ainda à Atlântida, cuja existência empírica jamais foi conclusivamente comprovada ou definitivamente descartada.
A Tradição Oriental se apresenta de maneira distinta principalmente na China, no Tibete, no Japão e na Índia. Ali não parece ter ocorrido tão severa cisão entre a religião e a Tradição, de maneira que as próprias religiões constituídas se transformaram em importantes veículos de transmissão da Tradição. Enquanto no Ocidente se tinha de enfrentar perseguições as mais diversas à Tradição, no Oriente, por suas peculiaridades, esta foi intensamente difundida e popularizada. Ali a Tradição protege-se a si mesma em sua complexidade e fascina a quantos dela se aproximam. Também segundo alguns aquela Tradição reverbera a de um outro Continente Perdido no Oceano Pacífico: a Lemúria, de existência tão provável ou improvável quanto a Atlântida e datação, portanto, tão complexa quanto sua similar ocidental.
Embora aparente, não há divergência de fundo entre as Tradições do Ocidente e do Oriente, o que foi provado pelas descobertas sensacionais de gente do quilate de Fritjof Capra e Joseph Campell. Mera questão de escolha pessoal, de afinidade eletiva, identifico-me com a Tradição de minha gente, de meu povo, do mundo e da civilização em que nasci e me criei. Sempre com enorme respeito pela Tradição Ocidental e buscando preservar a forma como a nossa Tradição se encaminha há milênios.
Faço este preâmbulo por ser necessário pontuar o quanto Mohandas Gandhi foi movido pela Tradição de seu povo. Poucos seres humanos incorporaram tão profundamente a Tradição e a alma de sua gente como Gandhi. Este o principal motivo que leva seus biógrafos a sempre fazerem reiteradas referências à Tradição Oriental e, frequentemente, converter-se a ela, por ser mesmo fascinante.

A Teologia Hindu e a vinda de Gandhi

Se em algum momento na história da humanidade se pode dizer que uma Nação teve um porta-voz, esta Nação foi a Índia e seu porta-voz consensual na primeira metade do século XX foi Mohandas Karamchand Gandhi – Mahatma, a “Grande Alma”.
A complexa Teologia Hindu reza que há um único Deus e este se apresenta em 3 formas: Brahma, o Criador; Shiva, o Destruidor (sempre presente quando a história chega a seu final) e Vishnu, o Equilibrador (a serviço do Dharma). Quando o caos ameaça a humanidade, Vishnu toma a forma humana para recompor a ordem. Segundo o Mahabharata, Vishnu veio ao mundo como Krishna, no alvorecer da civilização indiana. Para seus contemporâneos, Mohandas Gandhi, que repudiava ser chamado assim, constituía a mais recente encarnação da divindade, portanto era chamado de Grande Alma. Devotou a sua vida à causa da Independência da Índia e a encaminhou política e religiosamente em perfeita harmonia com a Tradição de seu povo, daí o estrondoso sucesso obtido.

Sua vida

Descendente de Brahmanes, de sua infância em Porbandar Gandhi registra em sua autobiografia a freqüência aos locais sagrados e de prece com a mesma naturalidade do registro de episódios corriqueiros e cotidianos. A religião de seus ancestrais lançava profundas raízes em seu coração. Casou-se, a exemplo de todos de sua casta e Nação àquele tempo, ao final da infância com uma prima, também saindo da infância, Kasturbai.
Adulto, parte para estudar direito em Londres, formando-se em 1891 e regressando a sua terra para praticar a profissão. Dois anos depois vai, a convite, para a África do Sul, onde trabalha com uma empresa hindu e faceia as primeiras dificuldades diante do poderoso Império Britânico, que domina as Nações do mundo no século XIX e primeiros lustros do XX com o mesmo poder e descaso para outros povos com que o Império Ianque hoje.

A luta pela libertação da Índia

Em 1914 regressa à Índia em definitivo e dá início à sua luta pela independência da dominação britânica que já dura quase 3 séculos e, com igual vigor, pela Tradição de sua gente, em grande medida contaminada e fragilizada diante da infecção capitalista.
Como líder político e espiritual da Índia soube utilizar-se engenhosamente de toda a Tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalado pela dominação e deu muito que pensar àqueles que se consideravam “superiores” e por isso dominavam. Este sempre foi e segue sendo o discurso do dominador: uma pretensa “superioridade” que, ao fim e ao cabo demonstra-se circunscrever ao campo da belicosidade e ponto final. Gandhi centra sua luta na busca de demonstrar a superioridade moral dos hindus sobre seus dominadores britânicos e, assim, reaviva a mente de seus conterrâneos quanto a 2 ensinamentos, tão antigos quanto o hinduísmo: A-HIMSA – Não violência ou, como Gandhi preferia dizer, “Persistência pela Verdade” e SATIAGRAHA – Viver em santidade.
Tomemos a não violência. Gandhi pregava a resistência pacífica (não confundir com passiva; a não violência deve ser ativa e provocativa!). Não concordar em se submeter ao mal e estar disposto a dar até a vida se necessário for, para provar que está do lado do que é justo, bom e correto. Foi assim que, de demonstração maciça em demonstração maciça, o Império Britânico comprovou muitas vezes a superioridade moral daquele povo oprimido e dominado.
A famosa “Marcha para o Sal” foi um ponto de inflexão decisivo. Os Hindus, moradores da região banhada pelo Oceano não por acaso chamado de Índico, eram proibidos de produzir sal. O sal utilizado no cotidiano de todas as famílias tinha o fluxo, a produção e a circulação, monopolizadas pelos britânicos. Gandhi ensina os hindus a desobedecerem a esta sandice. Do centro da Índia, em 1930, faz saber ao Primeiro Ministro Britânico que se dirigiria ao mar para produzir sal num gesto de desobediência civil, ativa, provocativa e contudo pacífica. Foi acompanhado de um pequeno grupo e a este se foram agregando cada vez mais significativas massas humanas. Ao fim, a história registra que milhares de pessoas andaram mais de 320 Km a pé. Este contingente imenso de seres humanos chega à praia e começa a fazer sal. Qual o problema? O povo da Índia vai à praia banhada pelo Oceano Índico fazer sal para o seu consumo. O que têm os britânicos a ver com isso?
O controle do sal estava na raiz do controle de toda a economia hindu pelos britânicos. Tão logo Gandhi começa a fazer sal e ser imitado a dominação é colocada em xeque. Os ingleses já não controlam os indianos. Estes estão prestes a tomar seu destino em suas próprias mãos.
Outros fatores contribuem para a emancipação do povo hindu de maneira diferente daquela desejada por Gandhi que, mais de uma vez, fez um “jejum até a morte” para protestar contra a dominação britânica e pedir paz a seu povo. Em momentos considerados cruciais para a economia britânica Gandhi convocava o povo a “jornadas de jejum e meditação” – na prática ninguém trabalhava, mas Gandhi jamais falava ou mesmo pensava na palavra “greve”. A expressão apropriada dentro da Tradição hindu para o que se estava fazendo era “Jornada de jejum e meditação”.

Um Exemplo

Admirado por aliados e adversários, foi chamado pelo Primeiro Ministro Britânico Winston Churchill de “faquir despido”. A questão que marca é: um faquir despido, que se alimenta com uma côdea de arroz e uma tirina d’água por dia e se veste com uma peça de tecido feita por ele mesmo e que muito se assemelha a uma fralda, um homem com tal forma de comportamento e hábitos espartanos pode ser suspeito de corrupção? Alguém presumiria estar ele lutando por algo diferente do que diz?
Albert Einstein o saudou como “porta-voz da humanidade”.
Quando o armamento mais sofisticado está nas mãos do adversário, que domina, a resistência pacífica, fundada na resistência e persistência pela Verdade é o encaminhamento mais eficiente. Impossível ao hindu derrotar o dominador britânico através de guerrilhas ou luta armada. Por outro lado, utilizando a Verdade como arma seu poderio é inquestionável!
Encaminhar o processo político a partir de um resgate profundo do que de mais sincero, bonito e duradouro existe na Tradição e na Alma de seu povo, esta é uma das lições que nos deixa Mahatma Gandhi.

Lázaro Curvêlo Chaves – 29/06/2006
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Pensamentos de Mahatma Gandhi

1
O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disto.

2
Creio poder afirmar, sem arrogância e com a devida humildade, que a minha mensagem e os meus métodos são válidos, em sua essência, para todo o mundo.

3
Acho que vai certo método através das minhas incoerências. Creio que há uma coerência que passa por todas as minhas incoerências assim como há na natureza uma unidade que permeia as aparentes diversidades.

4
As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos.

5
Satyagraha - a força do espírito - não depende do número; depende do grau de firmeza.

6
Satyagraha e Ahimsa são como duas faces da mesma medalha, ou melhor, como as duas cades de um pequeno disco de metal liso e sem incisões. Quem poderá dizer qual é a certa? A não-violência é o meio. A Verdade, o fim.

7
A minha vida é um Todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade.

8
Uma coisa lançou profundas raízes em mim: a convicção de que a moral é o fundamento das coisas, e a verdade, a substância de qualquer moral. A verdade tornou-se meu único objetivo. Ganhou importância a cada dia. E também a minha definição dela se foi constantemente ampliando.

9
Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política.

10
A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade.

11
O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo a verdade não se torna erro pelo f ato de ninguém a ver.

12
O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo.

13
O Amor e a verdade estão tão unidos entre si que é praticamente impossível separá-los. São como duas faces da mesma medalha.

14
O ahimsa (amor) não é somente um estado negativo que consiste em não fazer o mal, mas também um estado positivo que consiste em amar, em fazer o bem a todos, inclusive a quem faz o mal.

15
O ahimsa não é coisa tão fácil. É mais fácil dançar sobre uma corda que sobre o fio da ahimsa.

16
Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.

17
A única maneira de castigar quem se ama é sofrer em seu lugar.

18
É o sofrimento, e só o sofrimento, que abre no homem a compreensão interior.

19
Unir a mais firme resistência ao mal com a maior benevolência para com o malfeitor. Não existe outro modo de purificar o mundo.

20
A minha natural inclinação para cuidar dos doentes transformou-se aos poucos em paixão; a tal ponto que muitas vezes fui obrigado a descuidar o meu trabalho. . .

21
A não-violência é a mais alta qualidade de oração. A riqueza não pode consegui-Ia, a cólera foge dela, o orgulho devora-a, a gula e a luxúria ofuscam-na, a mentira a esvazia, toda a pressão não justificada a compromete.

22
Não-violência não quer dizer renúncia a toda forma de luta contra o mal. Pelo contrário. A não-violência, pelo menos como eu a concebo, é uma luta ainda mais ativa e real que a própria lei do talião - mas em plano moral.

23
A não-violência não pode ser definida como um método passivo ou inativo. É um movimento bem mais ativo que outros e exige o uso das armas. A verdade e a não-violência são, talvez, as forças mais ativas de que o mundo dispõe.

24
Para tornar-se verdadeira força, a não-violência deve nascer do espírito.

25
Creio que a não-violência é infinitamente superior à violência, e que o perdão é bem mais viril que o castigo...

26
A não-violência, em sua concepção dinâmica, significa sofrimento consciente. Não quer absolutamente dizer submissão humilde à vontade do malfeitor, mas um empenho, com todo o ânimo, contra o tirano. Assim um só indivíduo, tendo como base esta lei, pode desafiar os poderes de um império injusto para salvar a própria honra, a própria religião, a própria alma e adiantar as premissas para a queda e a regeneração daquele mesmo império.

27
O método da não-violência pode parecer demorado, muito demorado, mas eu estou convencido de que é o mais rápido.

28
Após meio século de experiência, sei que a humanidade não pode ser libertada senão pela não-violência. Se bem entendi, é esta a lição central do cristianismo.

29
Só se adquire perfeita saúde vivendo na obediência às leis da Natureza. A verdadeira felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem rigoroso controle da gula. Todos os demais sentidos estarão automaticamente sujeitos a controle quando a gula estiver sob controle. Aquele que domina os próprios sentidos conquistou o mundo inteiro e tornou-se parte harmoniosa da natureza.


30
A civilização, no sentido real da palavra, não consiste na multiplicação, mas na vontade de espontânea limitação das necessidades. Só essa espontânea limitação acarreta a felicidade e a verdadeira satisfação. E aumenta a capacidade de servir.

31
É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências dos próprios atos. É justo que a pessoa que come em demasia se sinta mal ou jejue. É injusto que quem cede aos próprios apetites fuja às conseqüências tomando tônicos ou outros remédios. É ainda mais injusto que uma pessoa ceda às próprias paixões animalescas e fuja às conseqüências dos próprios atos.
A Natureza é inexorável, e vingar-se-á completamente de uma tal violação de suas leis.

32
Aprendi, graças a uma amarga experiência, a única suprema lição: controlar a ira. E do mesmo modo que o calor conservado se transforma em energia, assim a nossa ira controlada pode transformar-se em uma função capaz de mover o mundo. Não é que eu não me ire ou perca o controle. O que eu não dou é campo à ira. Cultivo a paciência e a mansidão e, de uma maneira geral, consigo. Mas quando a ira me assalta, limito-me a controlá-la. Como consigo? É um hábito que cada um deve adquirir e cultivar com uma prática assídua.

33
O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física espiritual. Inicialmente escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo descobri, todavia, seu valor espiritual. E de repente dei conta de que eram esses momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus. Agora sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio.

34
Aqueles que têm um grande autocontrole, ou que estão totalmente absortos no trabalho, falam pouco. Palavra e ação juntas não andam bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio.

35
Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros.

36
Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa.

37
A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor que o livro da humanidade?

38
Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas esteja tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível.

39
Nada mais longe do meu pensamento que a idéia de fechar-me e erguer barreiras. Mas afirmo, com todo respeito, que o apreço pelas demais culturas pode convenientementemente seguir, e nunca anteceder, o apreço e a assimilação da nossa. (...) Um aprendizado acadêmico, não baseado na prática, é como um cadáver embalsamado, talvez para ser visto, mas que não inspira nem nobilita nada. A minha religião proíbe-me de diminuir ou desprezar as outras culturas, e insiste, sob pena de suicídio civil, na necessidade de assimilar e viver a vida.

40
Ler e escrever, de per si, não são educação. Eu iniciaria a educação da criança, portanto, ensinando-lhe um trabalho manual útil, e colocando-a em grau de produzir desde o momento em que começa sua educação. Desse modo todas as escolas poderiam tornar-se auto-suficientes, com a condição de o Estado comprar os manufaturados.
Acredito que um tal sistema educativo permitira o mais alto desenvolvimento da mente e da alma. É preciso, porém, que o trabalho manual não seja ensinado apenas mecanicamente, como se faz hoje, mas cientificamente, isto é, a criança deveria saber o porquê e o como de cada operação.
Os olhos, os ouvidos e a língua vêm antes da mão. Ler vem antes de escrever e desenhar antes de traçar as letras do alfabeto.
Se seguirmos este método, a compreensão das crianças terá oportunidade de se desenvolver melhor do que quando é freada iniciando a instrução pelo alfabeto.

41
Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é "tabu".

42
A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência.

43
Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão.

44
Quem busca a verdade, quem obedece a lei do amor, não pode estar preocupado com o amanhã.

45
As divergências de opinião não devem significar hostilidade. Se fosse assim, minha mulher e eu deveríamos ser inimigos figadais. Não conheço duas pessoas no mundo que não tenham tido divergências de opinião. Como seguidor da Gita (Bhagavad Gita), sempre procurei nutrir pelos que discordam de mim o mesmo afeto que nutro pelos que me são mais queridos e vizinhos.

46
Continuarei confessando os erros cometidos. O único tirano que aceito neste mundo é a "silenciosa e pequena voz" dentro de mim. Embora tenha que enfrentar a perspectiva de formar minoria de um só, creio humildemente que tenho coragem de encontrar-me numa minoria tão desesperadora.

47
Nas questões de consciência a lei da maioria não conta.

48
Estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza.

49
Acredito na essencial unidade do homem, e, portanto na unidade de tudo o que vive. Por conseguinte, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida.

50
Minha missão não se esgota na fraternidade entre os indianos. A minha missão não está simplesmente na libertação da Índia, embora ela absorva, em prática, toda a minha vida e todo o meu tempo. Por meio da libertação da Índia espero atuar e desenvolver a missão da fraternidade dos homens.
O meu patriotismo não é exclusivo. Engloba tudo. Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem exceções, com o maior bem e a paz de toda a humanidade.

51
A mulher deve deixar de se considerar o objeto da concupiscência do homem. O remédio está em suas mãos mais que nas mãos do homem.

52
Uma vida sem religião é como um barco sem leme.

53
A fé – um sexto sentido – transcende o intelecto sem contradizê-lo.

54
A minha fé, nas densas trevas, resplandece mais viva.

55
Somente podemos sentir deus destacando-nos dos sentidos.

56
O que eu quero alcançar, o ideal que sempre almejei com sofreguidão (...) é conseguir o meu pleno desenvolvimento, ver Deus face-a-face, conseguir a libertação do Eu.

57
Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma.

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58
A oração salvou-me a vida. Sem a oração teria ficado muito tempo sem fé. Ela salvou-me do desespero. Com o tempo a minha fé aumentou e a necessidade de orar tornou-se mais irresistível... A minha paz muitas vezes causa inveja. Ela vem-me da oração. Eu sou um homem de oração. Como o corpo se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura.

59
O Jejum é a oração mais dolorosa e também a mais sincera e compensadora.


60
O Jejum é uma arma potente. Nem todos podem usá-la. Simples resistência física não significa aptidão para jejum. O Jejum não tem absolutamente sentido sem fé em Deus.

61
Para mim nada mais purificador e fortificante que um jejum.

62
Os meus adversários serão obrigados a reconhecer que tenho razão. A verdade triunfará. . . Até agora todos os meus jejuns foram maravilhosos: não digo em sentido material, mas por aquilo que acontece dentro de mim. É uma paz celestial.

63
Jejum para purificar a si mesmo e aos outros é uma antiga regra que durará enquanto o homem acreditar em Deus.

64
Tenho profunda fé no método de jejum particular e público. . . Sofrer mesmo até a morte, e, portanto mesmo mediante um jejum perpétuo, e a arma extrema do satyagrahi. É o último dever que podemos cumprir. O Jejum faz parte de meu ser, como acontece, em maior ou menor escala, com todos os que procuraram a verdade. Eu estou fazendo uma experiência de ahimsa em vasta escala, uma experiência talvez até hoje desconhecida pela história.

65
Quem quer levar uma vida pura deve estar sempre pronto para o sacrifício.

66
O dever do sacrifício não nos obriga a abandonar o mundo e a retirar-nos para uma floresta, e sim a estar sempre prontos a sacrificar-nos pelos outros.

67
Quem venceu o medo da morte venceu todos os outros medos.

68
Os louvores do mundo não me agradam; pelo contrário, muitas vezes me entristecem.

69
Quando ouço gritar Mahatma Gandhi Ki jai, cada som desta frase me transpassa o coração como se fosse uma flecha. Se pensasse, embora por um só instante, que tais gritos podem merecer-me o swaraj; conseguiria aceitar o meu sofrimento. Mas quando constato que as pessoas perdem tempo e gastam energias em aclamações vãs, e passam ao longo quando se trata de trabalho, gostaria que, em vez de gritarem meu nome, me acendessem uma pira fúnebre, na qual eu pudesse subir para apagar uma vez por todas o fogo que arde o coração.

70
Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias.

71
Sei por experiência que a castidade é fácil para quem é senhor de si mesmo.

72
O brahmacharya é o controle dos sentidos no pensamento, nas palavras, e na ação. . . O que a ele aspira não deixará nunca de ter consciência de suas faltas, não deixará nunca de perseguir as paixões que se aninham ainda nos ângulos escuros de seu coração, e lutará sem trégua pela total libertação.

73
O brahmacharya, como todas as outras regras, deve ser observado nos pensamentos, nas palavras e nas ações. Lemos na Gita e a experiência confirma-no-lo todos os dias que quem domina o próprio corpo, mas alimenta maus pensamentos faz um esforço vão. Quando o espírito se dispersa, o corpo inteiro, cedo ou tarde, o segue na perdição.

74
Por vezes pensa-se que e muito difícil, ou quase impossível conservar castidade. O motivo desta falsa opinião e que freqüentemente, a palavra castidade é entendida em sentido limitado demais.
Pensa-se que a castidade é o domínio das paixões animalescas. Esta idéia de castidade é incompleta e falsa.

75
Vivo pela libertação da índia e morreria por ela, pois e parte da verdade.
Só uma Índia livre pode adorar o Deus verdadeiro. Trabalho pela libertação da Índia porque o meu Swadeshi me ensina que, tendo nascido e herdado sua cultura, sou mais apto a servir à Índia e ela tem prioridade de direitos aos meus serviços. Mas o meu patriotismo não é exclusivo; não tem por meta apenas não fazer mal a ninguém, mas fazer bem a todos no verdadeiro sentido da palavra. A libertação da Índia, como eu a concebo, não poderá nunca constituir ameaça para o mundo.

76
Possuo a não-violência do corajoso? Só a morte dirá. Se me matarem e eu com uma oração nos lábios pelo meu assassino e com o pensamento em Deus, ciente da sua presença viva no santuário do meu coração, então, e só então, poder-se-á dizer que possuo a não-violência do corajoso.

77
Não desejo morrer pela paralisação progressiva das minhas faculdades, corno um homem vencido. A bala de meu assassino poderia pôr fim à minha vida. Acolhê-la-ia com alegria.

78
A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma toda a família humana. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião.

79
A força de um homem e de um povo está na não-violência. Experimentem.

Sobre a Revolução não violenta de Mahatma Gandhi

" Gandhi continua o que o Buddha começou. Em Buddha o espírito é o jogo do amor isto é, a tarefa de criar condições espirituais diferentes no mundo; Gandhi dedica-se a transformar condições existenciais"
Albert Schweitzer
" Não violência é a lei de nossa espécie como violência é a lei do bruto. O espírito mente dormente no bruto, e ele não sabe nenhuma lei mas o de poder físico. A dignidade de homem requer obediência a uma lei mais alta - a força do espírito ".
Mahatma Gandhi

" Se o homem só perceberá que é desumano obedecer leis que são injustas, a tirania de nenhum homem o escravizará".
Mahatma Gandhi

"Não pode haver nenhuma paz dentro sem verdadeiro conhecimento ".
Mahatma Gandhi

"Para autodefesa, eu restabeleceria a cultura espiritual. O melhor e autodefesa mais duradoura é autopurificação ".
Mahatma Gandhi




Um pedido ao Papai Noel - Moacyr Scliar


As crianças vêem o Papai Noel como um velhinho simpático, bonachão, que aparece uma vez por ano trazendo presentes. Um adulto, se acreditasse em Papai Noel, pensaria de outra maneira. Pensaria no Papai Noel como uma figura real, claro, porque adultos de há muito deixaram para trás a imaginação infantil. E isso geraria muitas perguntas. É casado, o Papai Noel? Se é casado, por que a mulher dele nunca aparece? E como será a mulher dele? Uma mulher simpática, bonachona, dadivosa, uma verdadeira Mamãe Noel, ou quem sabe é uma megera, sempre disposta a brigar com o marido e a acusá-lo (“Não me venha com essa história que você passou a noite entregando brinquedos, que eu não acredito”)? E filhos? Será que o Papai Noel tem filhos? E como será que esses filhos o vêem? Será que também o acusam, com frases tipo: “Meu pai se interessa por todos os filhos, menos por nós”?. E a vida cotidiana do Papai Noel, de que maneira transcorre? Diz a lenda que ele tem uma gigantesca fábrica de brinquedos no Pólo Norte. Se isso é verdade, como está enfrentando a crise? Está mantendo a produção, ou vai dar férias coletivas para os empregados? E como será o seu relacionamento com o sindicato da categoria? O que tem a dizer sobre a redução do IPI?Mas vamos dizer que, por um instante, esse adulto cético, amargurado, passe por aquilo que o poeta inglês Coleridge chamou de “suspension of disbelief”, a suspensão da descrença, condição importante para que penetremos no mundo da fantasia literária e da fantasia em geral. De repente, esse adulto vê-se diante do Papai Noel, que ali está, sorridente, perguntando ao homem o que ele quer: “Peça, e seu pedido será atendido.” O que você responderia?As respostas talvez variassem, mas há uma na qual todos nós concordaríamos. E seria a seguinte: faça com que eu acredite de novo em Papai Noel. Faça com que eu recupere a ingênua e alegre crença da infância. Mais: faça com que eu recupere todas as minhas crenças, a crença de que os pais sabem tudo e podem tudo, a crença de que um mundo melhor, com mais justiça e menos iniqüidade, é possível. A crença de que a fome e a destruição ambiental vão terminar, que os povos vão se entender, que as guerras e o terrorismo terminarão. A crença de que os seres humanos são no fundo intrinsecamente bons e de que a solidariedade entre nós e possível. A crença de que nem tudo é feroz competição ou luta pelo poder.Há chance de que este sonho se torne realidade? Não sabemos. Mas temos de sonhar. E temos de acreditar, ainda que por um momento, por um fugaz momento, de que Papai Noel existe. É a criança que, apesar de tudo, vive dentro de nós consolando e dando forças ao adulto que somos. Milagre natalino? Certamente. Mas uma vez por ano, ao menos, podemos crer em milagres.
Fonte: ZH

O mistério da CAsa Verde - Moacyr Scliar

O mistério da Casa Verde é uma releitura do clássico ?O Alienista? de Machado de Assis. A releitura de Moacyr Scliar foi editada em 2003 pela Editora Ática e pertence à coleção Descobrindo os Clássicos. O autor Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde mora até hoje. Já recebeu diversos prêmios literários. Além de escritor consagrado é também médico de Saúde Pública. Fundador da Academia Brasileira de Letras e principal escritor do Brasil, Machado de Assis era do Rio de Janeiro. Criou-se lá, no subúrbio, menino pobre que sofreu muito. Arturzinho, personagem central da releitura, era um menino corajoso, gostava muito de aventuras, tinha um rival, André que fazia parte da turma junto a Pedro Bola e Léo, o intelectual e mais inteligente deles. Já na obra ?O alienista? o protagonista é Simão Bacamarte, um homem estranho que achava que todas as pessoas eram anormais e as mandava para seu ?consultório?: a Casa Verde. Ele se achava perfeito, sem defeitos. A história de Machado de Assis aconteceu no final do século XIX, usavam roupa da época e foi quando começaram a surgir clínicas para loucos. Na versão original, Simão manda soltar todos os ?presos? da Casa Verde, descobre que era normal ser maluco. O doutor percebeu que ele era perfeito e isso não era normal, então ele prendeu-se na Casa Verde e entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo, assim acaba a história. Dizem os cronistas que ele morreu daí a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou. Já na releitura a história acaba com o começo do namoro de Arturzinho e Lúcia. Os meninos realizaram seu sonho, tendo o seu clube de jovens numa parte da antiga Casa Verde e na outra parte foram organizados o Centro Cultural Machado de Assis (onde acontece uma encenação todas às sextas-feiras), uma sala de vídeo, uma biblioteca e uma oficina de artes. Na linguagem utilizada pelos dois autores, podemos perceber uma grande diferença, veja um trecho da obra de Machado de Assis: ?A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é argüida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e não curado, mas descurado, até que a morte o vinha desfraldar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua?. O autor usa uma linguagem culta, difícil de entender. Já Moacyr Scliar, usa uma linguagem fácil, para jovens, veja: ?Espera um pouco: o cara disse que é um médico que cuida de loucos? Mas ele tem mais cara de maluco do que de médico??. O livro todo é muito bom, repleto de aventuras, uma leitura bem agradável. A parte de que eu mais gostei foi o final, pois Arturzinho acabou namorando com Lúcia e realizou o seu sonho de ter um clube. Moacyr Scliar é um grande autor, nesta obra ele nos faz viajar. Uma leitura com palavras bem explícitas.

A colina dos suspiros - Moacyr Scliar

Futebol, intriga, paixão e mistério são os ingredientes desta história. A história é verídica. Nos anos 70, o Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre, vendeu seu estádio e o lugar se tornou um cemitério (João XXIII). Entre os torcedores do time figura o escritor gaúcho Moacyr Scliar, que inspirado no episódio escreveu um romance divertido. Justamente sobre uma equipe decadente cujo campo vai abrigar a Pirâmide do Eterno Repouso. Entre os tipos pitorescos que recheiam a trama, o mais estranho é Rubinho, craque com potencial de gênio, atormentado por assombrações. A ascendência russa e a cultura judaica são decisivas na obra de Moacir Scliar, assim como os conhecimentos, experiências e vivência de médico sanitarista. Admiração confessa pelos escritores Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Franz Kafka e, na música, por Mozart, Philip Glass e Chico Buarque. Futebol é o tema de A colina dos suspiros, do gaúcho Moacyr Scliar, e a pequena cidade de Pau Seco é o cenário. Da realidade à ficção, o autor apresenta neste romance a pequena cidade de Pau Seco, com dois clubes de futebol que se digladiam há muito tempo. Futebol em Pau Seco é o que move ou paralisa a cidade. O estádio fica junto do cemitério. Ali, o Pau Seco Futebol Clube, à beira da falência, cede seu estádio para a construção de um cemitério. A salvação está em Rubinho, um dos trabalhadores da obra, que se revela um extraordinário jogador. Rubinho, a possível salvação dos paussequenses, é o jogador-revelação da cidade, que sofre uma humilhação pública, pois tem medo de marcar gol em frente ao túmulo do falecido ídolo Bugio. Desaparece, e só tem um desejo - vingança. Trata-se de um momento decisivo em sua vida. Com humor e sutileza, questões éticas, políticas, sociais, familiares, amorosas, o bem e o mal são discutidos. O cemitério volta a ser estádio. Aí aparece de tudo: coronel todo-poderoso com seus mandos e desmandos, pobre que sai do anonimato para a riqueza sem preparo, maracutaias e espertezas. Esta narrativa terá surpreendentes desdobramentos e também por isso, fascina o público jovem ou, melhor, de qualquer idade. Com humor e sutileza, Moacyr Scliar discute questões éticas, políticas, sociais, familiares, amorosas, o bem e o mal. Com humor leve, essa saborosa crônica cativa pelo ótimo texto, só interrompido pelas risadas que desperta.

Comentário sobre O centauro no jardim, de Moacyr Scliar



A obra literária O centauro no jardim traz a história de um dos filhos de uma família de origem judaica, que nasceu diferente dos outros filhos. Era um centauro. Por ser assim, sua mãe ficou traumatizada por vários dias depois do parto, mas a família toda se dedicou a cuidá-lo e foi amado por todos. Cuidando para não ser visto pelos vizinhos, cresceu sem a liberdade de ir e vir e se dedicou a estudar revelando-se muito inteligente.
Mais tarde, depois de ter fugido de casa, cansado pela falta de poder valer-se por si só e conhecer outros lugares, foi parar num circo, onde despertou o interesse da dona do circo e também seu horror quando ela descobriu que era um centauro e não um homem. Sua vida continuou, encontrou uma centaura, filha de um fazendeiro, ambos se uniram e foram morar juntos. Tiveram a oportunidade de se submeter a uma operação que os transformou em pessoas normais, porém seus pés eram patas de cavalo. Tiveram filhos gêmeos normais.
Mas, ao parecer, Guedali e Tita, ex-centauros, ainda tinham instintos animais e sentiam saudades de andar pelo mato, correr livremente sem usar os sapatos especiais que escondiam suas patas. Patas que, com o uso de sapatos, foram se transformando em pés de gente.
Há ainda o aparecimento de outro centauro jovem; a esfinge, metade mulher e metade leoa que impede a reversão da operação que Guedali queria fazer depois de se separar da mulher. A história termina com Guedali num restaurante tunisiano, rodeado de amigos, da mulher e dos filhos, com sua vida retomada e tranqüila, pensando se contaria aos seus amigos a verdade sobre sua vida.
O autor, descendente de judeus, aproveita sua visão sobre os costumes judeus para compor seu texto literário com seres fantásticos. Desse modo, a história de amor e de aspectos religiosos judaicos vai se desenrolando. Podemos ver como a religião supera qualquer empecilho para ser seguida, como no caso da circuncisão que o mohel teve que fazer no centaurinho, e também mais tarde ao ser iniciado na religião através dos ritos necessários.
Em relação à vida pessoal do centauro e da centaura, ambos querem uma vida normal, casar, ter filhos, posses, ou seja, as diferenças estão mais na aparência, o que torna a historia mais verossímil para o leitor que passa a compreender todas as situações estranhas que lá ocorrem.
A própria cirurgia a que se submeteram para a mudança da aparência física também conta com o conhecimento do autor sobre Medicina, o que também ajuda na aceitação do relato.
Ao colocar centauros como personagens principais, creio que o autor quis personificar a força de uma raça, sua vontade de viver apesar das dificuldades da vida e, finalmente, o êxito depois dos sofrimentos. Ao incluir uma esfinge, sinônimo de uma figura que permanece através do tempo a capaz de guardar segredos, simbolizaria justamente a impenetrabilidade, a resistência, a força e a garra de uma religião que é parte ativa na vida dos judeus.
Os seres que o autor utiliza na sua história são representantes de seu imaginário e que vem a representar, quem sabe, sua própria visão da religião e da raça judaica. Afinal, uma raça que se transformou através dos tempos, mas que ao mesmo tempo, preserva seus costumes e sente a saudade de voltar a sua terra, tal como os centauros sentem a vontade de correr pelos campos, livres.
Uma história fantástica com personagens fantásticos que limitam com o real.

No caminho dos sonhos - Moacyr Scliar

Alguma vez você já pensou em abandonar tudo – escola, família, amigos – e começar de novo? Poucas pessoas nunca pensaram nisso.Marcelo, o personagem da história, abandonou tudo e refugiou-se numa praia quase deserta do Rio de Janeiro. Segundo ele, por estar farto de sua vida quadrada, certinha, por não querer seguir os passos de seu pai e de seu avô, pessoas que nunca ousaram nada, que nunca descobriram nada.Como sua família e seus amigos reagiriam diante de uma resolução dessas?Lendo No Caminho dos sonhos você poderá se recordar de seus sonhos de liberdade e refletir a respeito da escolha de Marcelo.

Um sonho no caroço do abacate, de Moacir Scliar

Um sonho no caroço do abacate, de Moacir Scliar, é um manifesto contra sentimentos e emoções pré-concebidas e, em especial, o preconceito contra judeus e negros.O autor traz à tona o tema do estranhamento do diferente, a incapacidade de aceitação, pela sociedade, daquele que foge dos padrões sociais e culturais estabelecidos como "normais".História que aponta e discute fatos do cotidiano de todo jovem e que, segundo o próprio autor, não foi escrita com o propósito de "dar lições", mas simplesmente para compartilhar, com os leitores, experiências que fazem parte de suas lembranças pessoais.A amizade, o preconceito, a pluralidade cultural, a ética e o amor servirão como um exercício de reflexão para que o jovem leitor exerça, de fato, sua cidadania plena.O inicio da estrutura narrativa usada pelo autor para uma temática direcionada a adolescentes é perfeita, simples e objetiva.EnredoUm garoto com um nome pouco comum, Mordoqueu Stern (ou simplesmente Mardo), nascido em uma família de imigrantes de judeus lituanos, acaba se tornando um grande amigo de Carlos, um negro, filho de um consultor jurídico de uma grande estatal que tinha acabado de ser transferido de Salvador para São Paulo. Eles lutam para ficar amigos e lutam para serem aceitos no colégio e nas respectivas famílias.Por motivos óbvios, os dois jovens encontraram alguma resistência para realizarem suas matrículas numa escola freqüentada por filhos de famílias abastadas. Juntos, os dois amigos enfrentam a discriminação, a injustiça e a incompreensão.A mãe de Mardo, judia, ao imigrar para o Brasil, deixa na Rússia um sonho de infância: o de comer abacate. Fruta cara, inacessível, o abacate representa o sonho improvável de liberdade (de crença, de religião), de felicidade, de conquista e de esperança. O caroço do abacate talvez guardasse um segredo que não podia mais ser revelado à senhora Stern: um sonho que ficou perdido na sua imaginação infantil e na pátria que teve de abandonar por causa do nazismo.

Moacyr Scliar

A noite em que os hotéis estavam cheios
O casal chegou à cidade tarde da noite. Estavam cansados da viagem; ela, grávida, não se sentia bem. Foram procurar um lugar onde passar a noite. Hotel, hospedaria, qualquer coisa serviria, desde que não fosse muito caro.Não seria fácil, como eles logo descobriram. No primeiro hotel o gerente, homem de maus modos, foi logo dizendo que não havia lugar. No segundo, o encarregado da portaria olhou com desconfiança o casal e resolveu pedir documentos. O homem disse que não tinha, na pressa da viagem esquecera os documentos.— E como pretende o senhor conseguir um lugar num hotel, se não tem documentos? — disse o encarregado. — Eu nem sei se o senhor vai pagar a conta ou não!O viajante não disse nada. Tomou a esposa pelo braço e seguiu adiante. No terceiro hotel também não havia vaga. No quarto — que era mais uma modesta hospedaria — havia, mas o dono desconfiou do casal e resolveu dizer que o estabelecimento estava lotado. Contudo, para não ficar mal, resolveu dar uma desculpa:— O senhor vê, se o governo nos desse incentivos, como dão para os grandes hotéis, eu já teria feito uma reforma aqui. Poderia até receber delegações estrangeiras. Mas até hoje não consegui nada. Se eu conhecesse alguém influente... O senhor não conhece ninguém nas altas esferas?O viajante hesitou, depois disse que sim, que talvez conhecesse alguém nas altas esferas.— Pois então — disse o dono da hospedaria — fale para esse seu conhecido da minha hospedaria. Assim, da próxima vez que o senhor vier, talvez já possa lhe dar um quarto de primeira classe, com banho e tudo.O viajante agradeceu, lamentando apenas que seu problema fosse mais urgente: precisava de um quarto para aquela noite. Foi adiante.No hotel seguinte, quase tiveram êxito. O gerente estava esperando um casal de conhecidos artistas, que viajavam incógnitos. Quando os viajantes apareceram, pensou que fossem os hóspedes que aguardava e disse que sim, que o quarto já estava pronto. Ainda fez um elogio.— O disfarce está muito bom. Que disfarce? Perguntou o viajante. Essas roupas velhas que vocês estão usando, disse o gerente. Isso não é disfarce, disse o homem, são as roupas que nós temos. O gerente aí percebeu o engano:— Sinto muito — desculpou-se. — Eu pensei que tinha um quarto vago, mas parece que já foi ocupado.O casal foi adiante. No hotel seguinte, também não havia vaga, e o gerente era metido a engraçado. Ali perto havia uma manjedoura, disse, por que não se hospedavam lá? Não seria muito confortável, mas em compensação não pagariam diária. Para surpresa dele, o viajante achou a idéia boa, e até agradeceu. Saíram.Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de forasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré.