terça-feira, 27 de julho de 2010

Reveses da comunicação

 
 
Reveses da comunicação
por Angelina Garcia

"Algumas pessoas tomam, com frequência, como crítica pessoal, aspectos do comportamento humano rejeitados pelo senso comum, os quais, em conversa descontraída, alguém levanta simplesmente a título de observação ou de questionamento próprio"
Reclamamos, muitas vezes, da dificuldade em se entabular um diálogo com determinadas pessoas, pois tudo o que dizemos é mal compreendido, podendo desencadear ásperas discussões ou até rompimentos. Quanto mais tentamos nos explicar, maior a confusão.
A comunicação não ocorre de modo direto, como às vezes se supõe; ou seja, de um lado um emissor, de outro um receptor, bastando uma língua comum para que a mensagem seja decodificada. Além da língua, várias outras condições estão implicadas na produção de sentidos entre interlocutores.
Assim sendo, recebo e interpreto a fala do outro a partir não só de conhecimentos partilhados, ou da minha posição ideológica, ou da memória racional de outros sentidos despertados daquele dizer. Entram também as sensações guardadas, relativas às condições psíquicas e emocionais do indivíduo, que são mobilizadas pelo que o outro diz.
Algumas pessoas tomam, com frequência, como crítica pessoal, aspectos do comportamento humano rejeitados pelo senso comum, os quais, em conversa descontraída, alguém levanta simplesmente a título de observação ou de questionamento próprio. O que levaria uma pessoa a se sentir alvo constante do olhar alheio? O que a faz pensar que tudo o que o outro diz de negativo quer se referir ela?
Se por um lado encontramos a insegurança; por outro, ou pelo mesmo, observa-se certo egocentrismo nesse comportamento.
A insegurança resulte talvez de uma história do sujeito marcada por rejeições do seu ciclo familiar e outros, pautadas na idéia de certo e errado e, consequentemente, pelo pecado e culpa, os quais contribuíram para minar sua autoestima. Desse modo, ele espera sempre que pessoas à sua volta continuem observando o que, a seu ver, ele tem de pior. Mesmo quando a fala do outro não lhe é dirigida diretamente, ele produz sentidos dentro dessa sua condição de inseguro.
É pela insegurança, também, que esse sujeito se encontra centrado em si, como se precisasse, o tempo todo, defender-se de alguma acusação. Dentro desse quadro, ele oferece poucas possibilidades de troca; a comunicação fica truncada, pois cada vez que se sente atingido durante o diálogo, ele o interrompe para se defender, justificar-se, ou, no mínimo, certificar-se se o outro está ou não se referindo a ele. E, assim, não é possível aprofundar ou ampliar a conversa.






Liberte-se da baixa autoestima


  
Liberte-se da baixa autoestima

por Emilce Shrividya Starling

"... a mente negativa está presa dentro de seus próprios pensamentos errôneos. Julga e duvida de tudo. Imagina medos e fantasias. Alimenta culpa, cobranças e o ódio de si mesma" A meta do Yoga é entrar em contato com a divindade que habita em nosso interior. É permitir que o Ser interior se expresse em nossos pensamentos, palavras e ações, experimentando entusiasmo em tudo que fazemos.

É acordar de manhã, com o coração agradecido, sentindo-se restaurado. É fazer seus deveres sentindo-se contente e apreciar a beleza da vida. É aceitar o momento presente, abandonar o que o constrange, aprender com as dificuldades.

A Filosofia do Yoga nos ensina a ancorar na percepção que a Consciência divina que habita em nosso interior , em todos os seres viventes, em toda a natureza. E, verdadeiramente, a meta é experimentar a própria divindade interior.

Ao ter essa experiência do Ser, através da devoção, do canto dos mantras, da meditação, do relaxamento profundo, podemos sentir nossa própria grandeza. Podemos sentir o amor dentro e fora de nós. Podemos reconhecer nosso próprio valor e descobrir o valor dos outros.

Apesar dessa grandeza divina existir em todos nós, algumas pessoas se acham indignas e pecadoras. Sentem rejeição por si mesmas. Elas só veem seus defeitos e até inventam defeitos que não têm. Não acreditam que podem vencer na vida, não têm autoconfiança. Não acreditam no amor ou na felicidade.

Sentir essa raiva e rejeição por si mesmo tira o entusiasmo, gera depressão, frustração e ansiedade. É ser comandado pelo ego negativo que é o adversário da bondade.

Contemple: Como alguém pode sentir alegria sentindo raiva de si mesmo? Como pode sentir entusiasmo se não se aceita, se não gosta de si mesmo? Como se sente uma pessoa que se detesta, que menospreza seus esforços, que conversa consigo mesma sempre se criticando? Como fica o estado da mente de quem se desvaloriza, que acha que sempre realiza menos que os outros?

Com certeza, quem sente isso se maltrata, se diminui e permite que o ego negativo o domine. Esse é um estado mental deplorável de alguém muito egoísta, que apenas se volta para si mesmo. Sente-se vitima. E, fica tão absorvido em si mesmo que esquece dos outros. É uma forma de dizer: “Quero toda a atenção. Me ajude!”

Essa aversão a si mesmo torna-se tão enraizada que a pessoa se identifica com cada negatividade que surge na mente e pensa: “Sou tão ruim.Não mereço nada de bom. Não gosto de mim. Sou pecador. Ninguém pode gostar de mim, pois não sou bom.” E, assim, nega sua verdadeira natureza divina, nega seu próprio valor.

Para entender e assimilar melhor os ensinamentos, o yoga nos conta sábias histórias.

Hoje, vamos contemplar um conto sobre a mente, sobre o ego e suas criações negativas:

Certa vez, um anjo veio visitar a Terra e chegou até uma enorme floresta. Lá ele encontrou uma criatura com mil braços e pernas, e cada parte do seu corpo se movimentava constantemente. Ela não parava quieta nem por um momento.

Em uma de suas mãos carregava uma clava coberta de pregos e se batia com isso repetidamente. A cada golpe que dava a si mesma, ela chorava de dor e pânico, dizendo: “Não me bata. Por favor, não me bata novamente.”

Tentando evitar os golpes que recebia de sua própria mão, ela corria de um lado para o outro. Estava com tanto medo e pânico que nem prestou atenção onde andava e caiu em um poço profundo.

Foi bem difícil sair desse poço. Ela demorou muito tempo para escalar as paredes do poço. E, quando conseguiu, se sentou completamente ofegante e cansada. Porém, logo que ela se recuperou, ficou de pé e recomeçou a se bater com sua própria mão, com sua própria arma.

Desesperada, correu para a um denso espinheiro. Quando saiu de lá, estava sangrando, arranhada e coberta de espinhos.

Logo depois, se refugiou em um lindo pomar, onde havia passarinhos, flores bonitas e frutos deliciosos. Mas, ela não notou a beleza desse lugar. Estava tão apavorada, com ódio de si mesma, que se sentou e continuou gritando e se batendo.

O anjo, sentindo muita compaixão, tentou ajudá-la, dizendo: “Fique tranquila. Relaxe. Apenas respire e se acalme. Por que você está se machucando assim? Por que você está sendo violenta com você ? De quem você está fugindo?” Aonde você está indo?”

Ela porém não podia ouvir as palavras gentis do anjo celestial. Não podia ver seu bondoso sorriso e nem sentir seu toque suave. Não podia sentir sua bondade e sabedoria. E até pensou que esse ser de luz fosse seu inimigo. Assim, ela gritou:

-Afaste-se de mim! Não quero ouvir seus conselhos!

De fato, ela não queria melhorar, não queria deixar de sofrer. A expectativa de deixar aquela floresta escura da autodepreciação e crueldade no qual ela vivia, era impensável para ela.

Gostava de ser vítima, e pensava: “Coitadinha de mim, sofro mais do que qualquer pessoa. Oh! pobre de mim. Por que isso está acontecendo comigo?”

Um sábio, que meditava perto dali, saiu da meditação e disse ao anjo:

- Ouça. Este é o planeta Terra. Isso é o *samsara, o mundo do nascimento e morte. Esta criatura que você tentou ajudar é a mente com suas incontáveis criações. A mente imagina e cria tudo, e depois se pune com suas próprias tendências. Esses mil braços e pernas são as tendências da mente.

O anjo compreendeu, acenou gentilmente com a cabeça, e foi embora. "

Esse conto mostra como a mente negativa está presa dentro de seus próprios pensamentos errôneos. Julga e duvida de tudo. Imagina medos e fantasias. Alimenta culpa, cobranças e o ódio de si mesma.

Há muita sabedoria nesse conto que nos faz refletir o que fazemos conosco quando cultivamos padrões mentais negativos, quando não nos aceitamos, quando nos rejeitamos.

Se alimentarmos essa aversão a nós mesmos, brigando conosco, nos culpando, nos criticando e punindo, é como se batêssemos em nós mesmos, sem a menor complacência ou bondade.

Entenda que essa aversão por si mesmo apenas leva você para a escuridão dentro de você. Essa autodepreciação cria a baixa autoestima. Mas, essa não é a sua única escolha.

Você precisa quebrar as correntes da autodepreciação, elo por elo. Pare de se criticar. Não se diminua e nem permita que alguém diminua você. Pare de se bater com suas crenças negativas. Não seja seu inimigo.

Os antídotos para o veneno mental da baixa autoestima são: a gratidão e o autoconhecimento.

Ao agradecer a você mesmo, você começa a ter autoconfiança e se liberta dessa opressão interna negativa. Ao começar a agradecer ao que faz, começa a se valorizar e vai descobrindo suas qualidades, seus talentos, confiando mais em você.

Ao sentir gratidão por você, por todos e por tudo, surge um sentimento de contentamento, curando você com o bálsamo da serenidade e aceitação.

Goste de você e se aceite, como verdadeiramente você é, sem críticas e julgamentos. Seja seu melhor amigo. Namastê! Deus em mim saúda Deus em você! Fique em paz!

*Samsara, o termo sânscrito e páli para "movimento contínuo" ou "fluxo contínuo" refere-se no yoga ao conceito de nascimento, velhice, decreptude e morte, no qual todos os seres no universo participam e do qual só se pode escapar através da iluminação. O samsara é a roda das encarnações, a vida e a morte, e somente saíremos dessa roda de vidas e de sofrimento, de maya (ilusão), através da iluminação.








Quais são os principais fatores que afetam a saúde mental da mulher?



Quais são os principais fatores que afetam a saúde mental da mulher?
por Joel Rennó Jr.

Em seu primeiro livro Mentes Femininas - A saúde mental ao    alcance da mulher - clique aqui - o senhor enfatiza que em psiquiatria é essencial a importância da prática clínica. Com base nessa sua larga experiência, quais são os principais fatores que afetam a saúde mental da mulher?
Resposta: Sem dúvida, além do conhecimento científico, a prática clínica do médico é que dá a oportunidade ao profissional para que ele conduza bem a realização do diagnóstico psiquiátrico correto bem como a terapêutica eficaz.

Fatores prejudicias à saúde mental da mulher Personalidade; antecedentes pessoais e familiares de transtornos mentais (como depressão), aspectos genéticos; estresse; uso abusivo de drogas (ex: anfetaminas utilizadas para emagrecimento), abuso físico e sexual; aspectos biológicos, psicossociais e culturais Respeito muito as neurociências, composta por profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Mas, daí, muitos neurocientistas com formação em biologia, podem reduzir o espectro comportamental humano apenas a alterações estruturais e funcionais do Sistema Nervoso Central (SNC), o que leva a erros, já que alguns desses neurocientistas nunca atenderam a nenhum paciente.

A integração entre as pesquisas do SNC e a experiência clínica é fundamental quando analisamos o comportamento humano, envolvendo aspectos biológicos, mas psicossociais e até culturais, todos complexos e interagindo entre eles.
Saúde mental sofre influência da personalidade

A saúde mental da mulher pode sofrer influências da personalidade individual dessa mulher em questão, de antecedentes pessoais e familiares de transtornos mentais (como depressão), de aspectos genéticos, de diferentes vulnerabilidades ao estresse e também de influências de sua cultura modelada pelo meio social no qual esta mulher está inserida. Nunca podemos deixar de pesquisar o histórico de negligência, uso abusivo de drogas (por exemplo as anfetaminas utilizadas para emagrecimento), abuso físico e sexual na infância e adolescência.

A análise da psicopatologia e do meio em que esta mulher está inserida só pode ser adequadamente avaliada por profissionais das áreas de psicologia e psiquiatria (médico). É assim que eu penso, não somos frutos apenas de nosso cérebro estrutural.


É normal sentir depressão?

 
É normal sentir depressão?
por Joel Rennó Jr.

Depressão é um dos distúrbios mentais que mais causam sofrimento
Resposta: Em psiquiatria, falar em maior ou menor grau de sofrimento de um determinado transtorno mental é complexo. Inúmeros fatores e diferentes níveis de prejuízos ou incapacitações estão envolvidos. Porém, sem dúvida, a depressão é um dos transtornos mentais que mais causam sofrimento tanto aos pacientes quanto aos familiares. Até porque a sua prevalência também é alta

Há vários fatores significativos que podem levar ao sofrimento do paciente deprimido:

1º) Muitos quadros clínicos de transtorno depressivo maior são recorrentes, têm curso crônico, e acabam, infelizmente, sendo subtratados ou mal diagnosticados. Há muito abandono de medicação por falta de conhecimento ou orientação. Com isso, os prejuízos sóciofuncionais, ou seja, a incapacitação gerada em diversos níveis de atividades e interações profissionais e familiares é significativa.
2º) A pessoa perde, quando deprimida, o prazer por quaisquer atividades interessantes ou cotidianas de sua vida (a psiquiatria denomina anedonia), isola-se, sofre rejeição e é sempre "rotulada" ou estigmatizada como alguém "fraco", "pavio curto", "sem fé", "acomodado" o que aumenta mais intensamente a culpa enorme que o deprimido já sente.
Ninguém é imune à depressão por toda a vida. Sentir tristeza é normal, mas sentir depressão não A sociedade precisa saber formas construtivas e saudáveis de lidar e ajudar uma pessoa com depressão, incentivando-a ao tratamento correto ao invés de julgá-la ou condená-la. Pode ocorrer com qualquer um de nós, em um momento variável de nossas vidas. Ninguém é imune a ela por toda a vida, mesmo os considerados "normais" podem ter o quadro clínico de depressão em um determinado momento.
3º) O sofrimento pode ser aumentado devido a *comorbidades comuns (principalmente em mulheres), ou seja, associação com outros transtornos mentais como alcoolismo e uso de outras drogas e transtornos de ansiedade (pânico, fobias, ansiedade generalizada, etc). A magnitude da depressão é aumentada perante tais comorbidades.
4º) Depressão não tratada adequadamente traz graves prejuízos sócioeconômicos (desemprego, perda de amigos com isolamento, queda financeira) e declínio significativo da saúde física (piora o curso de diabete, doenças cardiológicas e várias outras doenças, inclusive as crônico-degenerativas).
Sentir tristeza é normal, porém, sentir depressão não. É fundamental as pessoas sempre aprenderem a fazer a diferenciação, orientando-se sobre os critérios diagnósticos da depressão que é um transtorno mental que requer tratamento medicamentoso e psicoterápico associados. Grupos como a ABRATA (www.abrata.org.br ) são fundamentais também.

*Comorbidade: o termo é formado pelo prefixo latino "cum", que significa contiguidade, correlação, companhia, e pela palavra morbidade, que é a capacidade de produzir doença








É possível sair de depressão sem tomar medicamentos?




É possível sair de depressão sem tomar medicamentos?
por Joel Rennó Jr.

Resposta: As pessoas usam o termo depressão com vários sentidos. Temos que ter muito cuidado com tais definições.

"Quando o diagnóstico de "depressão maior" é bem realizado, o uso de antidepressivos é fundamental. A psicoterapia interpessoal, comportamental e cognitiva, entre outras, também é importante" Depressão para as pessoas leigas pode significar um sentimento temporário de tristeza ou luto, reativo a alguma perda afetiva ou financeira, frustração, desilusão, doença, incapacitação ou baixa autoestima.
Muitas pessoas (até bem intencionadas) falam que tiveram depressão e se julgam no direito de dar orientações, sem estarem preparadas para isso. Falam que simples medidas podem eliminar a depressão, como se a depressão fosse igual para todos. Será que realmente tiveram a doença depressiva na sua essência, bem diagnosticada pelo psiquiatra?
Portanto, em primeiro lugar, precisamos saber se a depressão a que todos se referem é a doença ou transtorno mental conhecido como "depressão maior" diagnosticado pelo especialista que é o psiquiatra.
Na doença depressiva ("episódio depressivo maior") há sintomas como tristeza, desânimo, humor deprimido, anedonia (perda de prazer ou interesse por atividades cotidianas), pensamentos negativos (morte, culpa, ruína, menos valia), diminuição da atenção/concentração com prejuízos de memória, lentificação psicomotora ou até, pelo contrário, agitação, além das alterações do sono e apetite. Tais sintomas têm que estar presentes por pelo menos duas semanas, na maior parte dos dias, causando grande sofrimento e incapacitação.
Quando o diagnóstico de depressão maior é bem realizado, o uso de antidepressivos é fundamental. A psicoterapia interpessoal, comportamental e cognitiva, entre outras, também é importante. Práticas complementares de atividades físicas, atividades de lazer, yoga, meditação e até acupuntura (de acordo com o interesse de cada indivíduo) ajudam, porém, nos casos mais leves.
Indico tais atividades complementares aos meus pacientes, porém, não podemos deixar de fornecer também os recursos médicos com comprovações científicas. Muitos quadros de depressão são subtratados, havendo persistência de sintomas residuais - principal fator de recorrências ou cronificação da doença depressiva; isso pode se tornar muito sério.
Cabe lembrar que a depressão é uma doença com componentes biológicos, psicológicos e sociais. É complexa e heterogênea, completamente diferente entre os diferentes indivíduos, com níveis de gravidade variáveis. Não há fórmulas mágicas ou verdades absolutas.









Fatores prejudiciais à saúde mental da mulher aliados ao ciclo reprodutivo

   
Fatores prejudiciais à saúde mental da mulher aliados ao ciclo reprodutivo

por Joel Rennó Jr.

O psiquiatra Prof. Dr. Joel Rennó Jr. que colabora no Vya Estelar há cinco anos, esclarece os principais pontos da saúde mental da mulher aliados ao seu ciclo reprodutivo. Esse é o tema de seu primeiro livro Mentes Femininas - A saúde mental ao alcance da mulher - que será lançado no dia 18 de novembro em São Paulo -
O objetivo deste livro é auxiliar e ensinar todas as mulheres sobre a saúde feminina. Como alguns problemas surgem e o que fazer para evitá-los. E, se surgirem, como curá-los e a quem procurar. O livro trata de assuntos como TPM, menopausa, ansiedade, depressão entre muitos outros. Leia mais - clique aqui

Entrevista 

Vya Estelar - Por que o senhor decidiu escrever um livro unindo os focos saúde da mental da mulher aliado ao seu ciclo reprodutivo?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Porque na minha prática clínica de 15 anos, atuando especificamente nesta área de conhecimento médico, acompanhando também as principais publicações científicas, observei que os hormônios e suas respectivas variações em períodos críticos do ciclo reprodutivo feminino como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa podem contribuir para o desencadeamento de transtornos depressivos e ansiosos em mulheres.
TPM - Outro fato comum é a piora de algumas doenças como epilepsia, enxaqueca, alcoolismo, fibromialgia e bulimia na semana que antecede a menstruação. Portanto, o humor, o comportamento feminino e até mesmo algumas doenças clínicas sofrem influências significativas das peculiaridades do ciclo reprodutivo feminino.
Vya Estelar – Qual é a função do hormônio estrógeno ou estrogênio? A queda desse hormônio afeta a saúde mental da mulher?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O estrógeno é um hormônio sexual feminino produzido nos ovários, embora pequenas quantidades dele sejam produzidas na adrenal (glândula que fica no pólo do rim).
O estrógeno promove o desenvolvimento das características sexuais secundárias como o desenvolvimento das mamas. O estrógeno age na mulher desde o intraútero, durante o desenvolvimento da gestação, organizando a arquitetura do cérebro feminino e sua ação continua na puberdade influenciando o humor e o comportamento; através da interação com receptores (proteínas) localizados na superfície dos neurônios que sintetizam e regulam a liberação de neurotransmissores (mensageiros químicos cerebrais) como serotonina, noradrenalina, etc. Sua ação em nível de SNC é marcante, tanto em nível estrutural quanto funcional. Leva até a alterações na forma como os neurônios estabelecem novas sinapses (comunicações).
O volume de neurônios do hipocampo (região da memória) aumenta sob a influência do estrógeno.
Estrógeno e saúde mental - A ação do estrógeno no SNC, regulando vários neurotransmissores diferentes, pode explicar por que a sua queda pode causar depressão, por exemplo, em mulheres vulneráveis.
Vya Estelar – A TPM de fato causa todo esse “estrago” afetando o comportamento de forma drástica ou a própria TPM pode ser usada por algumas mulheres como uma “muleta psíquica” para justificar atitudes impulsivas, impensadas ou que não sejam politicamente corretas?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. - Na nossa sociedade, a TPM ainda é envolvida por muitos mitos e preconceitos. Apesar da maioria das mulheres apresentar a forma leve de TPM que melhora com mudanças de hábitos alimentares, atividades físicas e comportamentos, não podemos nos esquecer que os sintomas psíquicos graves ocorrem no universo de 3% a 9% das mulheres.
TPM grave
A TPM grave é conhecida como transtorno disfórico pré-menstrual, gera prejuízos sóciofuncionais significativos e muito sofrimento.
TPM grave - A impulsividade, a tristeza e a irritabilidade são sintomas marcantes e precisam ser tratados com antidepressivos serotoninérgicos (que aumentam a disponibilidade de serotonina no sistema nervoso central)
Infelizmente, até mesmo alguns médicos ginecologistas ainda não acreditam nessa hipótese, mas realmente ela existe e precisa ser encarada com embasamento científico.
Vya Estelar – Como a mulher atual encara a gestação? É um processo tranqüilo? Ou cada caso é um caso?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A gestação costuma ter diferentes significados e representações para as mulheres. As percepções variam individualmente, algumas mulheres com mecanismos psicológicos neuróticos têm até uma exacerbação das angústias e neuroses durante a gestação.
Posso dizer que a gestação leva a mulher a reviver seus relacionamentos e suas vivências de filha (agora em outro papel) de uma forma positiva ou negativa, dependendo do seu histórico de vínculos afetivos e características de sua personalidade. Na gestação, a fragilidade de alguns relacionamentos conjugais ou familiares pode também se exacerbar.
Para algumas mulheres, torna-se um sinal de invasão e até desconfiguração do seu corpo e de sua vida. Isso não é para denegrir esta maravilhosa fase de vida da mulher, mas para deixar claro, sem preconceitos e com dados clínicos e científicos substanciais, que as vivências podem ser muito distantes daquele modelo mágico e idealizado de felicidade universal obrigatória.
Cerca de 10% a 20% das gestantes têm depressão, o que é ignorado nos exames de pré-natal.
Vya Estelar – Em caso de depressão ou mesmo tristeza durante a gestação, qual deve ser o procedimento?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O tratamento deve ser realizado quando o diagnóstico psiquiátrico detectou a doença depressão. É claro que isso precisa ser feito por um especialista e com todos os cuidados envolvidos, avaliando-se os riscos e benefícios envolvidos. Alguns antidepressivos podem ser utilizados.
A depressão pode prejudicar o desenvolvimento do feto e levar a um bebê prematuro, com baixo peso, caso não seja tratada.
Vya Estelar – Por que parte das mulheres tem depressão pós-parto? Como saber se está com essa depressão?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O fator biológico, devido à queda abrupta dos hormônios sexuais femininos, é a principal hipótese. Outros fatores de risco envolvem gravidez não planejada, conflitos conjugais, violências domésticas, antecedentes pessoais e familiares de depressão, uso de álcool e drogas na gestação, depressão na gestação que não foi tratada e idade (adolescentes podem ter taxas mais elevadas que a de mulheres adultas).
A depressão pós-parto ocorre em 15% a 20% das mulheres.
Depressão pós-parto: diagnóstico e sintomas
O diagnóstico de depressão pós-parto envolve a análise dos mesmos sinais e sintomas da depressão maior em outros períodos de vida da mulher: tristeza, desânimo, cansaço, fadiga, humor deprimido, pensamentos negativos (culpa, morte, ruína, menos-valia), indiferença ou rejeição à criança, anedonia (perda de prazer ou interesse pelas atividades habituais), alterações de atenção/concentração, alterações do sono e apetite e até ideação suicida.
Depressão pós-parto - Tais sintomas devem estar presentes por pelo menos duas semanas, na maior parte dos dias, com grandes prejuízos sóciofuncionais e sofrimento.
Reitero a importância de uma avaliação psiquiátrica, porque há diferentes subtipos de depressão. Muito cuidado para também se descartar quadros orgânicos que possam levar a sintomas depressivos como o *hipotireoidismo.
Vya Estelar – De que forma o climatério afeta o comportamento feminino?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, o climatério vai de 40 anos até 65 anos de idade (transição entre a vida reprodutiva e a **senescência). O período crítico é a perimenopausa (início por volta dos 45 anos e termina até um ano após a menopausa, por volta dos 51 anos de idade).
Perimenopausa: sintomas
A perimenopausa é caracterizada por oscilações dos níveis hormonais, sintomas físicos (dores e ondas de calor) e sintomas psíquicos (tristeza, irritabilidade, depressão e ansiedade). A perimenopausa, mesmo em mulheres sem histórico de depressão, é um fator de risco para a depressão, aumentando a chance em duas vezes.
Vya Estelar – De que forma a infertilidade por parte da mulher ou do cônjuge afeta a sua saúde mental?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A infertilidade, através da realização de sucessivos tratamentos, pode gerar angústia, ansiedade e depressão. Há muitas expectativas, muitas cobranças (sociais e familiares) e subjetivas nesta área delicada da dinâmica do casal. Aqui, novamente, os papéis individuais, a cumplicidade do casal são expostos a uma série de provas.
Os tratamentos costumam ser dificeis para algumas mulheres, gerando frustrações quando as tentativas fracassam. O contexto amplo do universo de vida de cada mulher infértil precisa ser analisado cuidadosamente, assim como de seu marido.
Diferentes significados e simbolismos advêm dessa análise pormenorizada. A psicoterapia de suporte é a primeira opção, deve fornecer recursos para essa mulher aprender a lidar com os fatores estressores específicos para ela e para o marido. O tratamento deve envolver o casal. Em algumas situações, o uso de medicamentos pode ser necessário.
Vya Estelar – Como o senhor trata as questões de anorexia, culto à magreza, dietas absurdas, consumo de anfetaminas?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, são assuntos muito amplos e complexos, onde se requer uma análise individualizada.
As áreas médicas devem se integrar às questões sociais e culturais que envolvem o universo de vida das mulheres.
As mulheres que usam anfetaminas podem ser anoréxicas (que têm uma distorção de imagem corporal, emagrecimento excessivo, rígido e progressivo controle da dieta, ou seja, um transtorno alimentar grave), mas também podem ser mulheres normais em busca de um padrão corporal idealizado ou estimulado socialmente.



Conheço muitas mulheres que buscam ser magras porque se sentem rejeitadas ou com baixa auto-estima e até se dispõem a buscar todos os recursos (mesmo os arriscados) para conseguir tais objetivos. Obtêm medicamentos em Internet ou são influenciadas em academias de ginástica.
Algumas mulheres precisam ser magras por causa de suas profissões, carreiras e casamentos. Não podemos também nos esquecer que muitas mulheres tomam anfetaminas achando que estão tomando “produtos formulados naturalmente”, sem consciência plena do que estão utilizando.
Não existe remédio milagroso para emagrecer
Posso dizer que, até o momento, não há medicamentos milagrosos para emagrecimento – e mesmo dietas. Todos esses modismos são falsos e ilusórios, com riscos à saúde das mulheres.
Rimonabanto - Recentemente, tivemos a retirada do rimonabanto (conhecido como “antibarriga”), um medicamento novo para emagrecimento que estava aumentando o risco para depressão e suicídio por atuar no SNC em receptores endocanabinóides.
Na prática, pouco ainda se conhece das vias complexas do metabolismo humano e as relações do mesmo com o controle do peso e da saciedade no ser humano.
Vya Estelar – De que forma a sexualidade feminina afeta a saúde mental da mulher?
Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A sexualidade é um indicador da qualidade de vida das mulheres e também de sua saúde, fisica ou mental.



Termômetro - Só há boa sexualidade com psiquismo saudável em um corpo são.



Há algumas doenças clínicas que também interferem na sexualidade, como o hipotireoidismo que pode diminuir o desejo sexual. Alguns medicamentos que as mulheres utilizam também.



O mais comum é que as alterações psicológicas levem à Disfunção Sexual Feminina (DSF). O histórico de vida das mulheres, com antecedentes de violência doméstica e educação rígida interferem também nesse campo.



Historicamente, a mulher sempre foi muito reprimida em sua sexualidade, só mesmo recentemente vem conseguindo expressar os seus desejos mais íntimos na cama, sem correr riscos de ser marginalizada ou rotulada, sem ter conflitos que possam causar um nível de estresse significativo capaz de desencadear quadros de ansiedade e depressão.
A disfunção sexual feminina pode mascarar conflitos internos ou mesmo conjugais da mulher, portanto, nem sempre a questão é simples, como uma queda do nível hormonal.
Sexualidade feminina é mais complexa do que masculina
Cabe ressaltar que a sexualidade feminina é muito mais complexa do que a do homem. No homem, o estímulo visual direto tem uma importância maior, na mulher as percepções e os órgãos do sentido (toque, olfato), além de todo o envolvimento e comprometimento afetivo do parceiro são os maiores estimuladores. Os hormônios sexuais e um conjunto de neurotransmissores libidinosos acompanham os estímulos elétricos que estão na origem da atração erótica.
Portanto, algumas fragilidades psíquicas podem ficar encobertas, inicialmente, por várias DSF. O marido tem um grande papel, ou seja, o tratamento só dá resultados quando todo o casal se envolve. O foco da psicoterapia deve ser amplo, nunca apenas voltado à DSF.
*Hipotireoidismo: 1 insuficiência da atividade fisiológica da glândula tireóide; 2 má condição orgânica resultante dessa diminuição acentuada, caracterizada por baixa taxa metabólica e perda de vitalidade (Fonte: Dicionário Houaiss)
**Senescência: 1 qualidade de senescente; velhice; 2 processo de tornar-se senil; 3 condição do que está próximo de se tornar senil (Fonte: Dicionário Houaiss)