quarta-feira, 28 de julho de 2010

As primeiras leituras na pré-escola

As primeiras leituras na pré-escola

Fazer de cada criança um leitor requer atividades diárias em que a garotada tenha a oportunidade de ler, trocar idéias, comentar notícias e muito mais

Maria Fernanda Ziegler

Para formar futuros leitores, é fundamental que a leitura faça parte da rotina diária. O ideal é que não só a escola disponha uma biblioteca mas também todas as salas tenham espaço reservado para livros, revistas e outros materiais impressos - onde todos possam manusear o material livremente e comecem a entender o sentido que o mundo letrado tem para todas as pessoas já alfabetizadas. Por isso, os especialistas dizem que não cabe exigir atividades complementares depois da leitura. Ao contrário. Nessa fase, é melhor não escolarizar a tarefa e esperar algum resultado da parte das crianças. Portanto, nada de questionários sobre a história. O melhor é bater papo e trocar impressões sem compromisso. Ao estabelecer como rotina que cada texto lido seja seguido de perguntas preestabelecidas, você pode criar a sensação de que o ato de ler está necessariamente vinculado a essas respostas (ou à produção de desenhos), o que não é verdade.
"O que fazer depois da roda de leitura deve estar a serviço da construção desse comportamento. Conversar sobre as impressões de cada um abre espaço para que as crianças digam do que mais gostaram ou lembrem de algum episódio já vivido e, assim, se apropriem do uso social do ler", diz Léiva Sousa, coordenadora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga, no norte do Pará, que transformou as aulas de leitura do município.
Antes mesmo de o projeto ser instituído, em 2005, as atividades de leitura eram parte da rotina das escolas. O problema é que elas não serviam para formar leitores. As propostas eram soltas, com muita produção de desenhos sobre temas livres e datas comemorativas. Havia também uma mistura entre o ato de ler e o de contar histórias. A solução foi mudar as práticas em sala para aproximar as crianças dos diferentes gêneros literários e mostrar como há importantes distinções entre a linguagem escrita e a falada. Hoje, as professoras da rede explicam claramente o motivo pelo qual aquele texto foi escolhido e, durante a leitura, respeitam a versão original, não substituindo palavras nem simplificando a narrativa (leia nos quadros outras experiências bem-sucedidas em pré-escolas de Cajamar, na Grande São Paulo, e São Miguel do Oeste, em Santa Catarina).
Ao fazer leituras em voz alta, o professor obtém vários benefícios, que são o que os especialistas chamam de desenvolver comportamentos leitores:
- permitir a interação da garotada com as práticas de leitura,
- fazer com que todos se aproximem e se familiarizem com a linguagem escrita,
- aumentar a curiosidade pelos livros e outros materiais escritos,
- mostrar as diferenças entre a linguagem escrita e a oral,
- ampliar as referências literárias,
- e mostrar que a leitura é sempre fonte de prazer e entretenimento.

E então, vamos começar a promover cada vez mais atividades de leitura para a turma?

O segredo está na entonação



Jaqueline conta histórias para a turma e as crianças com os livros (foto abaixo): escolher títulos de qualidade literária aumenta o interesseA professora Jaqueline Thomaz, da EMEI Emerson Cruz Machado, em Cajamar, na Grande São Paulo, adora contar histórias para suas turmas. Ela mostra as ilustrações do livro e lê todos os dias antes do lanche para as crianças de 3 e 4 anos. Sempre que pode, se fantasia, usa fantoches, monta um verdadeiro teatro - tudo para garantir um interesse maior do grupo, já que se manter concentrado não é exatamente o forte nessa faixa etária. Por isso, a atividade dura de cinco a 15 minutos, no máximo. À medida que o ano vai avançando, a garotada se familiariza com esse momento e passa a esperar por ele. "Tem mãe que conta que o filho junta os bonecos, faz uma roda e começa a contar uma história com o livro na mão, imitando o que ocorre na sala. Nessas horas, eu vejo que o trabalho está surtindo efeito", comemora Jaqueline.
Além de escolher bons títulos, privilegiando sempre a qualidade literária, a professora acredita que a chave para obter sucesso em atividades de leitura com classes de Educação Infantil é a entonação. Ela conta que, quando está lendo, altera a voz a cada mudança de personagem. E ensina: as obras precisam ser manuseadas livremente pelas crianças. "No início, muitos nem sequer conhecem livros e mordem, amassam, empilham. Mas, se a escola não der essa oportunidade aos pequenos, quem vai dar?", pergunta. Ao ampliar a curiosidade da turma pelo material escrito, a professora permite que todos comecem a entender o sentido das práticas de leitura, se aproximem do mundo das letras e ganhem familiaridade com ele.


Linguagem oral e escrita

Linguagem oral e escrita



Faixa etária


4 e 5 anos






Conteúdo


Linguagem oral, leitura e escrita






Objetivos


- Desenvolver a comunicação oral por meio da exposição de idéias.


- Ampliar os conhecimentos sobre o sistema de escrita, trocando experiências e discutindo a grafia das palavras.


- Aprender a organizar uma lista.


- Realizar atividades em grupo, compartilhar decisões e respeitar opiniões.






Mais sobre leitura






Especial


TUDO SOBRE LEITURA






Conteúdos


- Oralidade.


- Leitura e escrita.


- Respeito aos colegas e à diversidade de opiniões.






Tempo estimado


Seis atividades






Materiais necessários


Cartolina, folhas de papel sulfite, papel-cartão, canetas, coloridas, brinquedos diversos, giz de cera e crachás.






Desenvolvimento das atividades






1ª etapa


Comece o projeto com uma roda de conversa, estimulando todos a contar a você e aos colegas o que mais gostam de fazer ou de comer. A maioria vai querer falar sobre isso, e provavelmente de forma desorganizada. É hora então de apresentar o projeto, sugerindo a confecção de um produto a ser feito coletivamente: o livro das preferências. Explique que cada um terá uma página contendo as informações sobre o brinquedo mais querido, a comida mais gostosa, a música favorita e assim por diante. Para decidir os itens que serão contemplados, converse com a classe e coloque as sugestões no quadro. A lista pode incluir filmes, brincadeiras, personagens etc. Escolhidos os tópicos, peça que cada um fale sobre os temas. Vá anotando as citações em uma cartolina, com letras grandes e legíveis. Uma boa maneira de estimular o discurso é fazer perguntas: qual é seu personagem preferido? De que brinquedo você mais gosta? Dada a resposta, peça justificativas. Incentive os colegas a comentar, socializando as opiniões (Você pensa a mesma coisa que seu colega? Por quê? Qual é sua opinião?). Para a conversa ficar mais animada, sugira que todos levem de casa os objetos mencionados para compartilhá-los com a turma. Reserve uma atividade para essa troca de experiências.






2ª etapa


Monte a lista em uma folha de sulfite com os tópicos a ser respondidos brinquedo, fruta etc. Faça cópias e distribua as páginas. Leia os temas em voz alta para não haver dúvidas e proponha a elaboração oral da listagem antes do registro. Em seguida, organize duplas de trabalho para a produção escrita e deixe as crianças usarem as próprias concepções. Uma vai ajudar a outra, mas é preciso intervir para leválas a refletir sobre a maneira de grafar as palavras. O melhor modo de proceder é perguntar por que optaram por determinada letra e fazê-las utilizar o que já conhecem, comparando as sílabas usadas com as vistas em outros contextos. Peça que leiam o próprio registro. Assim é possível observar a ausência de uma letra ou a necessidade de alterar algumas delas.






3ª etapa


Antes de partir para a confecção do livro, leve algumas obras infantis para a classe, como as de contos, para que a organização das páginas seja observada. Chame atenção para a numeração e o índice.






Produto final


- Livro






Para a publicação ficar bem acabada, é recomendável que a lista seja passada a limpo e que as páginas contenham ilustrações e o nome um fazer o próprio retrato. Delegue completo do autor. Uma idéia é cada algumas decisões à turma, como o título, o visual e as cores da capa e das páginas. Realize intervenções para ajudar na organização da publicação, ensinando a numerar as páginas e a fazer o índice. Como haverá apenas um exemplar, deixe-o disponível para o grupo consultar nos momentos livres e, posteriormente, organize um rodízio para que todos o levem para casa


e leiam com os familiares.






Avaliação


Observe se as crianças conseguem se expressar oralmente e como interagem com os colegas quando eles estão fazendo a exposição. Observe se avançaram em relação à escrita: a primeira lista certamente será feita com sua ajuda. Mas na preparação da versão final você pode conferir os avanços em relação aos procedimentos de escritor e ao conhecimento sobre a confecção de um livro.






Projeto Sarau Infantil

Projeto



Sarau infantil


Faixa etária


4 e 5 anos






Conteúdo


Linguagem oral, leitura e escrita






Mais sobre Linguagem Oral






Reportagens






Linguagem oral com poesias


O que não pode faltar na pré-escola


Coletânea de cantigas de roda


As primeiras leituras na pré-escola


Planos de aula






Roda de conversa


Linguagem oral e escrita


Livros sobre os dinossauros


Vídeos






Pedro Bandeira lê "Mais respeito, eu sou criança!"


Ricardo Azevedo lê o poema "Bola de Gude"


Objetivos


- Ampliar o repertório de poesias conhecidas pela turma.


- Utilizar a linguagem oral, adequando-a a uma situação comunicativa formal.






Conteúdo


- Comunicação oral.






Anos


Pré-escola.






Tempo estimado


Dois meses.






Material necessário


- Filmadora


- Caixa de papelão


- Aparelho de som


- CD A Arca de Noé - Vols. 1 e 2 (vários intérpretes, Universal Music Brasil, 16 reais)






Livros


- A Arca de Noé (Vinicius de Moraes, 64 págs., Ed. Cia. das Letrinhas, tel. 11/3707-3500, 46,50 reais)


- Poemas Desengonçados (Ricardo Azevedo, 56 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 26,90 reais)


- Mais Respeito, Eu Sou Criança (Pedro Bandeira, 80 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172-002, 29,50 reais)






Flexibilização


Para ampliar a capacidade de comunicação e expressão de crianças com deficiência auditiva e auxiliá-las a utilizar libras, posicione as crianças em semicírculo no momento da leitura, para que visualizem o educador, os colegas e o intérprete. É importante que todos falem, um de cada vez, para facilitar a compreensão. Apresente os autores por meio de fotos e estimule a criança a declamar, em libras, poemas que já conhece. Você também pode declamar algumas poesias para servir como modelo de leitor. Explique a todos as etapas do projeto e apresente uma nova poesia às crianças a cada dia. Peça à criança surda que observe a expressão facial e os movimentos do corpo do intérprete quando este estiver declamando. Proponha que a criança leve um bilhete para casa pedindo que os pais escrevam uma poesia para ser apresentada aos colegas. Incentive a criança surda a participar da confecção da "caixa mágica" e explique que ali serão colocadas as poesias e os livros utilizados no projeto. Apresente à criança a poesia que ela irá declamar junto com dois ou três colegas. Convidar um surdo adulto para declamar na sala em libras para que a criança tenha outros exemplos também é uma boa alternativa. Filme a criança surda declamando com o seu grupo e num segundo momento retome o vídeo para que juntos possam ver o que precisa ser melhorado. No dia do sarau, é interessante que a poesia que será declamada em libras seja lida para a plateia. Registrar todos os avanços da criança é fundamental.










Desenvolvimento


1ª etapa


Pergunte quais poemas as crianças conhecem e estimule-as a declamar. Convide-as a conhecer outros, mostrando os livros selecionados. Leia em voz alta alguns deles, caprichando na entonação. Compartilhe a ideia de organizar um sarau de poesia e convidar os pais para assistir ao evento. Explique que para isso é preciso conhecer vários poemas e aprender a declamá-los.






2ª etapa


Apresente algumas faixas do CD de poesia musicada para familiarizar a turma com o gênero.






3ª etapa


Leia para os pequenos todos os dias os livros escolhidos para o projeto. Converse com eles sobre as poesias e como se deve declamar, cuidando da entonação e da altura da voz, para que o público compreenda e ouça com clareza o que for dito. Como tarefa de casa, oriente que peçam aos pais para recitar e registrar por escrito poemas e versinhos que apreciem. Use a caixa de papelão para guardar os textos poéticos fornecidos pelos pais, os livros e o CD.






4ª etapa


Leia a poesia Bola de Gude, do livro Poemas Desengonçados, chamando a atenção da turma para a entonação, dicção e altura da sua voz. Proponha que a recitem coletivamente. Repita o procedimento com outros poemas. Use a filmadora para gravar esses momentos.






5ª etapa


Exiba o vídeo para que as crianças possam analisar como estão se saindo e em que precisam melhorar. Ajude-as apontando o que estiver adequado também.






6ª etapa


É hora de selecionar o que será apresentado no sarau. Pergunte às crianças quais são os textos prediletos delas e decidam se as declamações serão feitas individualmente, em duplas, trios ou grupos maiores. Convide as famílias para o evento.






7ª etapa


Ensaie com a turma os poemas. Filme novamente e exponha as imagens para que todos possam se aperfeiçoar.






Produto final


Sarau infantil.






Avaliação


Observe e registre o avanço das crianças no que se refere à apropriação na forma de se expressar em situações de comunicação formal.


O que não pode faltar na pré-escola

1. Brincar







Por que trabalhar Essa é uma fase de ampliação do universo de informações: a mamãe é vendedora, o papai é motorista, o herói preferido voa, o livro de histórias fala de uma princesa bonita e corajosa. O meio de processar e assimilar tantos assuntos - enfim, entender o mundo - é brincar de faz-de-conta. "A complexidade da fantasia criada depende das experiências já vividas. Por isso, é fundamental oferecer ambientes ricos em possibilidades", afirma Zilma Galvão, da USP.










BRINCAR Nessa fase, a turma já compartilha momentos no parque (à esq.) e no faz-de-conta (direita).


Fotos: Leo Drumond/Ag. NitroO que propor As crianças ainda se divertem com os brinquedos de encaixar ou no parque, mas na pré-escola ganham destaque os jogos de regras - que exigem cumprimento de normas, concentração e raciocínio - e, principalmente, os simbólicos, em que se assumem papéis. Elas se apropriam dos elementos da realidade e dão a eles novos significados. Por meio da fantasia, aprendem sobre cultura. Ao dar bronca em uma boneca, por exemplo, os pequenos usam frases ouvidas de diálogos dos adultos, da TV e, em especial, de livros de histórias. A literatura traz elementos ausentes do cotidiano.






A meninada vai se tornando capaz de interagir com as brincadeiras por um tempo maior e considerar que os outros podem participar também. "No faz-de-conta, acontece algo íntimo que não se deve atropelar. O professor contribui com um gesto, uma palavra ou um brinquedo, mas a turma é livre para aceitar ou não", explica Zilma.






Uma boa estratégia para enriquecer o brincar é atrair a garotada para espaços diferenciados, como o canto da casinha, do salão de maquiagem, da mecânica ou da biblioteca. O cenário, por si só, avisa a proposta da brincadeira e pressupõe papéis. Depois, com o tempo, o grupo mesmo produzirá outros.






Esta pré-escola faz Na CMEI Patrícia Galvão, em Guarulhos, na Grande São Paulo, o brincar é encarado como uma situação cotidiana e um direito das crianças. Em todas as salas ficam fantoches, fantasias e cenários para as atividades simbólicas, bastante apreciadas. Quando enjoam, os pequenos vão à brinquedoteca e os trocam por outros. Não são raras as vezes em que a turma de 4 anos se empolga com um livro lido em sala, corre para o canto em que ficam as fantasias e assume o papel dos personagens. Segundo a diretora Djenane Martins Oliveira, para garantir e melhorar as possibilidades de experimentação lúdica, os pequenos têm acesso diário a brinquedos de variados materiais, como tecido, plástico, madeira e espuma. Há também aqueles que não parecem, mas são brinquedos também, como pedrinhas, grama e areia. "Sempre temos à disposição das crianças caixas de papelão, que elas usam para produzir objetos que são incluídos nas atividades por elas mesmas."


2. Linguagem oral



Por que trabalhar No início da pré-escola, coloca-se um importante desafio em linguagem oral: não apenas falar, mas antecipar e planejar o que se quer dizer. "Para que isso aconteça, ou seja, para que a oralidade seja usada cada vez mais e de melhor forma, é preciso trabalhá-la diariamente com base em diferentes temas, contextos e interlocutores", diz Maria Virgínia, da Editora Moderna.










LINGUAGEM ORAL A fala se aprimora em contextos diversos, como na roda de conversa.


Fotos: Leo Drumond/Ag. NitroO que propor A escola deve oferecer um ambiente que estimule a comunicação verbal - não apenas em sala mas também no refeitório, no pátio, na brinquedoteca, nos corredores. Para conversar, ali estão amigos, educadores, merendeiros, porteiros e diretores. Oportunidades tão distintas tornam as situações de fala mais ricas, elaboradas e complexas.






Os momentos são divididos em dois tipos: formais e informais. Os informais são, por exemplo, as rodas de conversa. Nelas, o professor faz uma proposição, por exemplo, a respeito de uma notícia da comunidade ou de algo que será feito depois, como uma receita culinária. Nesse momento, cada um ouve o que os outros têm a dizer, coloca sua opinião e inicia os próprios relatos.






Situações formais são aquelas em que as crianças se dirigem a outros interlocutores que não os próprios colegas de classe, como outra turma, para quem vão contar uma história, ou um adulto a ser entrevistado. Assim, ao longo de toda a pré-escola, são desenvolvidas e aperfeiçoadas competências como a de recontar histórias e elaborar perguntas, declamar poesias e relatar acontecimentos do próprio cotidiano ou de outras pessoas. De acordo com Maria Virgínia, "o resultado é que os pequenos aprendem linguagem e com a linguagem".






Essa competência também é potencializada por meio das brincadeiras com as palavras presentes na tradição oral, nos textos poéticos e nas parlendas, por exemplo - que já contribuem para o aumento do repertório verbal desde a creche.






Esta pré-escola faz São diversas as experiências de desenvolvimento da linguagem oral na UMEI Mangueiras, em Belo Horizonte. Lá, as rodas de conversa sobre o planejamento do dia abrem as atividades, mas outros temas também fazem parte do bate-papo. Na sala ou no pátio, elas recontam histórias e apresentam músicas e dramatizações. "Os mais velhos ajudam no desenvolvimento da linguagem dos menores durante atividades corporais. Eles criam canções e gritos de guerra e os pequenos se juntam a eles, cantando também", conta a vice-diretora, Mônica Freitas Mol de Andrade.







3. Movimento















MOVIMENTO Na pré-escola, as crianças planejam as ações, como onde se apoiar para subir no escorregador. Foto: Marcos RosaPor que trabalhar Na pré-escola, a criança já tem desenvoltura para se comunicar verbalmente. Mesmo assim, o movimento ainda é um meio de expressar o que ela quer. Por isso, eles continuam a ser valorizados na pré-escola. Nessa fase, ela se torna mais ciente de si, conhece mais o corpo e ganha competência para atuar no mundo. "Por isso, é preciso evitar a tendência de deixar atividades desse tipo de lado com turmas a partir dos 4 anos", diz Maria Paula, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.






O que propor Atividades como danças, jogos esportivos e teatro aumentam e fazem evoluir as possibilidades com o corpo. Ações como segurar o talher e o lápis e usar a tesoura se aprimoram, mas não adianta promover "treinos". "As habilidades se consolidam apenas diante das necessidades reais", explica Maria Paula.






Em especial entre os maiores, de 5 e 6 anos, a capacidade de planejar as ações de movimento se amplia. Por isso, atividades ao ar livre, no parque, se tornam mais ricas. Para se divertir num escorregador, as crianças conseguem observar os degraus onde pisar e calcular o que fazer para chegar ao topo e depois deslizar.






Esta pré-escola faz A professora Magda Carvalho Aranda, da CEI Maria do Rosário Bastos, em Poços de Caldas, a 465 quilômetros de Belo Horizonte, propõe jogos corporais para as crianças de 5 anos. Em um deles, elas batem palmas, levam as mãos aos pés e também à cabeça. Após uma seqüência simples, a turma combina movimentos mais elaborados, como levantar a mão esquerda e se manter apenas sobre o pé direito, favorecendo o equilíbrio. A mesma atividade pode se tornar mais divertida se acompanhada de música com ritmos cada vez mais rápidos. Outra brincadeira que os pequenos curtem é a da maria-fumaça. "Conforme o ritmo de um chocalho acelera, o corpo entra no embalo, com movimentos de braços e pernas", explica Magda.


4. Arte



Por que trabalhar As experiências desenvolvidas em música e artes plásticas, de acordo com Silvana, do Avisa Lá, têm papel primordial na formação do pensamento simbólico. "Ambas exercem forte influência no desenvolvimento da criatividade e da imaginação." Nessa fase, as duas linguagens já são trabalhadas de forma separada.










ARTE O desenho, feito com materiais como o carvão (direita), e a colagem com lã (à esq.) se aprimoram.


Fotos: Marcelo RudiniO que propor É essencial ampliar o repertório de canções, promover o contato com instrumentos variados e explorar os sons da natureza e dos feitos com o corpo, além do silêncio. O bom projeto é o que permite conhecer e criar.






Em artes visuais, é importante apresentar obras de pintores famosos - para ampliar o repertório e trazer riqueza ao trabalho dos pequenos -, mas não como pretexto para propor cópias. Nessa fase, o ideal é desenvolver cada vez mais o desenho e a pintura, em atividades diárias. Não é necessário usar grande variedade de materiais.






Esta pré-escola faz Nas salas de préescola do CMEI Dr. Arnaldo Carnasciali, em Curitiba, sempre há nas paredes uma pintura, gravura ou fotografia para ampliar o repertório dos pequenos. Durante um projeto sobre identidade, as turmas fizeram retratos. Olhando no espelho, cada um produziu o seu, usando lã e barbante para compor os cabelos, por exemplo. Todos desenharam também o amigo, aprimorando a percepção sobre o outro.






A experimentação musical inclui a exploração de estilos diferentes, como cantigas de roda, músicas clássicas e canções do folclore brasileiro. "Essas situações ampliam o repertório, favorecem a concentração e permitem o desenvolvimento de habilidades como o ritmo", diz a diretora, Vanessa de Sousa Martinez.




5. Leitura e escrita



Por que trabalhar É um adulto leitor que mostra às crianças o significado da escrita que está nos livros. Ao escutar uma história, as turmas entram na narrativa e compartilham as sensações dos personagens. "É hora de ampliar o repertório e dar maior organização ao pensamento", diz Débora Rana, coordenadora pedagógica de Educação Infantil da Escola Projeto Vida, na capital paulista.










LEITURA E ESCRITA Conhecer os gêneros (direita) é o melhor meio de entrar no mundo dos textos (à esq.).


Fotos: Leo Drumond/Ag. NitroO que propor Durante as rodas de histórias, o grupo é capaz de escolher os livros prediletos, acompanhar a obra de um autor, opinar e fazer relatos. Quanto maior a variedade de gêneros, melhor: contos, poesias, parlendas, quadrinhas, gibis, lendas, fábulas, bilhetes, crônicas, textos informativos e instrucionais.






A leitura diária de diferentes gêneros pelo professor aumenta cada vez mais a curiosidade e o conhecimento sobre a linguagem escrita. "Aos 4 anos, já é possível recontar textos e aos 5 produzir as próprias histórias, ditando o texto a um escriba", afirma Débora.






Esta pré-escola faz Na Creche Conveniada Lírios do Campo, em São José dos Campos, a 97 quilômetros de São Paulo, a pré-escola tem acesso a textos de diferentes gêneros, desenvolve atividades de reconto de histórias, leva livros para casa nos fins de semana, cria poesias e é estimulada a escrever. Mesmo durante as brincadeiras, surgem oportunidades de enriquecer a escrita. "Quando inauguramos o canto do cabeleireiro, visitamos um salão de beleza. Depois, foi produzido um texto sobre o encontro com os profissionais e elaborada uma tabela de preços", relata a coordenadora pedagógica Ana Lúcia Rodrigues da Silva Ferreira.




3 perguntas Lino de Macedo











Lino de Macedo


Foto: Karine BasilioProfessor do Instituto de Psicologia da USP fala sobre o desenvolvimento dos 4 aos 6 anos.






Como se caracteriza o pensamento da criança pré-escolar?


Ele é principalmente substitutivo e imitativo. Substitutivo porque ela descobre que objetos, pessoas e ações podem ser trocados ou evocados por outros. Imitativo porque ela entra no universo da ficção: imagina e faz correspondências.






De que maneira o faz-de-conta desenvolve as linguagens?


No faz-de-conta, a criança realiza um esforço de tradução. Ela não é velha, mas representa esse papel no jogo simbólico. Também não é um bicho, mas pode imitá-lo. Esse fingimento aumenta o repertório das diversas linguagens, como o desenho, a fala, a música e a dança.






Como aproveitar a capacidade de representação?


A criança descobre simbolicamente a importância do adulto em sua vida e as diferenças entre ambos. Isso ocorre, por exemplo, quando ela faz de conta que é mãe e repreende o fi lho. Cabe ao professor, portanto, possibilitar que ela entenda essa assimetria e, ainda que intuitivamente, o valor do adulto.


















Linguagem oral com poesias


"Poesia é descoberta das coisas que eu nunca vi." A definição do escritor brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954) se encaixa perfeitamente no que os textos do gênero podem representar para os pequenos que estão descobrindo as possibilidades da linguagem e da oralidade. Organizar frequentemente leitura de versos em voz alta para os alunos e ensiná-los a recitar é uma maneira de propiciar a ampliação do universo discursivo deles (leia o projeto didático). "A poesia tem características, como a musicalidade e a rima, que despertam o interesse das crianças pelas palavras, mesmo que elas ainda não saibam escrevê-las", diz Adriana Sobhie, diretora de orientação educacional da Secretaria de Educação de Tupã, a 514 quilômetros de São Paulo.
O contato estabelecido pelos alunos com o material poético pode ocorrer desde cedo: eles se relacionam com poemas ao se movimentar no ritmo de uma canção, por exemplo. Afinal, um poema acompanhado de instrumentos é música. E eles mesmos têm seus momentos poéticos, quando brincam de rimar com elementos do cotidiano, como "O pincel caiu em cima do pastel cheio de mel".
Mas isso não quer dizer que um trabalho bem feito na Educação Infantil possa dispensar muita pesquisa e estudo.
O primeiro passo é definir o que vai ser lido. As escolhas têm de despertar a curiosidade das crianças pela sonoridade, entre outras coisas. "Não faz sentido descartar textos que apresentem termos difíceis de serem pronunciados ou priorizar produções que não despertam o interesse da turma pelo contexto só porque são consideradas clássicas", diz Renata de Souza, coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil Maria Betty Coelho Silva (CELLIJ), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Presidente Prudente. As educadoras da EMEIF Nossa Senhora de Fátima, em Tupã, por exemplo, escolheram Bola de Gude, do poeta brasileiro Ricardo Azevedo, que conta a opinião de um menino sobre bolas e, em especial, da que dá nome ao poema (assista ao vídeo em que Ricardo Azevedo declamando este poema).
Outro ponto importante é a dedicação aos textos antes de apresentá-los ao grupo. Leia o material várias vezes para compreender o tema e ensaie a leitura em voz alta, conferindo ritmo e entonação. Isso contribui para você ser encarado como um bom modelo de declamador.
Para desenvolver a oralidade, também vale usar as adivinhas, como "O que é, o que é, quanto mais curto for, mais rápido é?" (o tempo). Breves e simples, são de fácil memorização. Parlendas, como "amanhã é domingo, pede cachimbo...", costumam apresentar frases na ordem direta, o que facilita a repetição também. Já os trava-línguas são interessantes por serem complicados: os pequenos não resistem ao desafio de dizer, por exemplo, "O rato rasgou a roupa do rei de Roma" corretamente e, à medida que vão acertando, acelerarem o ritmo da pronúncia.

Reportagem sugerida por 1 leitor: Sergio Vale da Paixão, Quatiguá, PR