quarta-feira, 28 de julho de 2010

As primeiras leituras na pré-escola

As primeiras leituras na pré-escola

Fazer de cada criança um leitor requer atividades diárias em que a garotada tenha a oportunidade de ler, trocar idéias, comentar notícias e muito mais

Maria Fernanda Ziegler

Para formar futuros leitores, é fundamental que a leitura faça parte da rotina diária. O ideal é que não só a escola disponha uma biblioteca mas também todas as salas tenham espaço reservado para livros, revistas e outros materiais impressos - onde todos possam manusear o material livremente e comecem a entender o sentido que o mundo letrado tem para todas as pessoas já alfabetizadas. Por isso, os especialistas dizem que não cabe exigir atividades complementares depois da leitura. Ao contrário. Nessa fase, é melhor não escolarizar a tarefa e esperar algum resultado da parte das crianças. Portanto, nada de questionários sobre a história. O melhor é bater papo e trocar impressões sem compromisso. Ao estabelecer como rotina que cada texto lido seja seguido de perguntas preestabelecidas, você pode criar a sensação de que o ato de ler está necessariamente vinculado a essas respostas (ou à produção de desenhos), o que não é verdade.
"O que fazer depois da roda de leitura deve estar a serviço da construção desse comportamento. Conversar sobre as impressões de cada um abre espaço para que as crianças digam do que mais gostaram ou lembrem de algum episódio já vivido e, assim, se apropriem do uso social do ler", diz Léiva Sousa, coordenadora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga, no norte do Pará, que transformou as aulas de leitura do município.
Antes mesmo de o projeto ser instituído, em 2005, as atividades de leitura eram parte da rotina das escolas. O problema é que elas não serviam para formar leitores. As propostas eram soltas, com muita produção de desenhos sobre temas livres e datas comemorativas. Havia também uma mistura entre o ato de ler e o de contar histórias. A solução foi mudar as práticas em sala para aproximar as crianças dos diferentes gêneros literários e mostrar como há importantes distinções entre a linguagem escrita e a falada. Hoje, as professoras da rede explicam claramente o motivo pelo qual aquele texto foi escolhido e, durante a leitura, respeitam a versão original, não substituindo palavras nem simplificando a narrativa (leia nos quadros outras experiências bem-sucedidas em pré-escolas de Cajamar, na Grande São Paulo, e São Miguel do Oeste, em Santa Catarina).
Ao fazer leituras em voz alta, o professor obtém vários benefícios, que são o que os especialistas chamam de desenvolver comportamentos leitores:
- permitir a interação da garotada com as práticas de leitura,
- fazer com que todos se aproximem e se familiarizem com a linguagem escrita,
- aumentar a curiosidade pelos livros e outros materiais escritos,
- mostrar as diferenças entre a linguagem escrita e a oral,
- ampliar as referências literárias,
- e mostrar que a leitura é sempre fonte de prazer e entretenimento.

E então, vamos começar a promover cada vez mais atividades de leitura para a turma?

O segredo está na entonação



Jaqueline conta histórias para a turma e as crianças com os livros (foto abaixo): escolher títulos de qualidade literária aumenta o interesseA professora Jaqueline Thomaz, da EMEI Emerson Cruz Machado, em Cajamar, na Grande São Paulo, adora contar histórias para suas turmas. Ela mostra as ilustrações do livro e lê todos os dias antes do lanche para as crianças de 3 e 4 anos. Sempre que pode, se fantasia, usa fantoches, monta um verdadeiro teatro - tudo para garantir um interesse maior do grupo, já que se manter concentrado não é exatamente o forte nessa faixa etária. Por isso, a atividade dura de cinco a 15 minutos, no máximo. À medida que o ano vai avançando, a garotada se familiariza com esse momento e passa a esperar por ele. "Tem mãe que conta que o filho junta os bonecos, faz uma roda e começa a contar uma história com o livro na mão, imitando o que ocorre na sala. Nessas horas, eu vejo que o trabalho está surtindo efeito", comemora Jaqueline.
Além de escolher bons títulos, privilegiando sempre a qualidade literária, a professora acredita que a chave para obter sucesso em atividades de leitura com classes de Educação Infantil é a entonação. Ela conta que, quando está lendo, altera a voz a cada mudança de personagem. E ensina: as obras precisam ser manuseadas livremente pelas crianças. "No início, muitos nem sequer conhecem livros e mordem, amassam, empilham. Mas, se a escola não der essa oportunidade aos pequenos, quem vai dar?", pergunta. Ao ampliar a curiosidade da turma pelo material escrito, a professora permite que todos comecem a entender o sentido das práticas de leitura, se aproximem do mundo das letras e ganhem familiaridade com ele.


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