Entender a emoção não é tarefa fácil, mas vamos tentar. Como sabemos que estamos emocionados? Invariavelmente pelas sensações e movimentos que nosso corpo produz: dor de barriga, um “frio no estômago”, chorar, rir sem parar, taquicardia, tremer, desmaiar, perder a voz, ficar “branco que nem cera” ou “vermelho de raiva...”. No estudo etimológico da palavra descobrimos que emoção se origina de duas outras palavras do latim – ex movere – que significam em movimento. Faz sentido? Se nosso corpo se movimenta quando nos emocionamos, então faz sentido! Mas por quê a Psicologia se preocupa com as emoções? Estudar o comportamento humano é o objetivo maior da Psicologia e entender porque nos emocionamos e de maneira a emoção influencia nosso comportamento, faz parte desse objetivo. Muitos estudiosos, anteriores ao século XX já se preocupavam com a emoção e seus efeitos sobre o comportamento humano. Desde a Grécia Antiga e até meados do século XIX, filósofos e psicólogos acreditavam que as emoções eram instintos básicos que deveriam ser controlados sob pena do homem ter sua capacidade de pensar seriamente afetada. No século XX, as investigações produzidas sobre a emoção nos levaram a um outro olhar e entendimento. Os cientistas despertaram para o fato de que se emocionar, mas compreender e estar consciente de suas emoções era uma qualidade que permitia ao ser humano desenvolver a capacidade de melhor se relacionar no e com o mundo. Além disso, com o auxílio dos desenvolvimentos tecnológicos, pesquisadores estão descobrindo que a emoção influi diretamente no nosso sistema imunológico, na nossa saúde – o mal do século XXI, o stress é de origem fundamentalmente emocional – é o resultado da incapacidade de lidar coma as emoções; aliás, esta capacidade, foi definida como uma das múltiplas inteligências do ser humano (inteligência emocional), pelo psicólogo americano Howard Gardner (1999). Charles Darwin (1872) deu início a uma investigação, com a qual pretendia identificar as emoções básicas “universais”, de origem biológica. Este trabalho foi seqüenciado pelo Psicólogo Carrol Izard que conseguiu identificar dez emoções distintas, dentre as quais a tristeza, o interesse, o desgosto e a alegria. * Roberto e Erasmo Carlos Bem, tantas pesquisas acabaram por originar três correntes para a teoria da emoção: A teoria JAMES-LANGE (1880) – desenvolvida pelos psicólogos William James (USA) e Carl Lange (Dinamarca) esta teoria acredita que a emoção é uma alteração fisiológica provocada por estímulos do ambiente, transmitida pela percepção sensorial. A teoria CANNON-BARD (1920) – desenvolvida por William Cannon e Phillip Bard afirma que as alterações fisiológicas que levam a emoção ocorrem simultaneamente a percepção de estímulos do meio ambiente. A teoria COGNITIVISTA (década de1960) surgiu a partir das pesquisas sobre a inteligência e conhecimento (cognição) e postula que a emoção dependerá da percepção que o homem tem sobre determinada situação, isto é, dependerá de como entendemos, compreendemos determinada situação. Freud (1910)- um dos grandes pensadores do século XX - amplia o conceito de emoção para o de afeto e demonstra através da Psicanálise que o que registramos em nossa psiqué são as representações afetivas vinculadas às experiências emocionais. Um dos teóricos mais estudados atualmente, o psicólogo e médico francês Henri Wallon ,(1879-1962) iniciou suas pesquisas com crianças lesadas neurologicamente e elaborou uma teoria da emoção. Para ele, a emoção tem dupla origem – é tanto biológica quanto social e o que ela garante é a sobrevivência da espécie humana. Ou seja, a emoção tem uma característica bastante peculiar – ela é contagiante! Que adulto consegue ficar imune ao choro de um bebê? Este caráter contagiante da emoção leva o ser humano a cuidar de sua prole e assim a garantir a sobrevivência da espécie; É na convivência com o Outro e com o Grupo Social que aprendemos a identificar, nomear e lidar com nossas emoções. O trabalho e a escola são duas áreas de ação do ser humano, desencadeadoras de emoções por excelência, no entanto até meados do século XX a emoção era totalmente descartada de seus domínios por influencia do pensamento cartesiano. Hoje, o conceito de inteligência emocional introduzido por Daniel Goleman, com base nos estudos de Howard Gardner tem sido amplamente abordado e desenvolvido nas empresas por profissionais de recursos humanos; assim como a teoria da emoção de Henri Wallon tem sido profundamente estudada por educadores e psicólogos escolares com o objetivo de melhor entender o processo ensino-aprendizagem. Achou difícil entender tudo isso? Mas, cá entre nós, o assunto é contagiante não é mesmo?! Segue em anexo um breve texto* do filósofo inglês Bertrand Russel (1872/1970) que poderá ajudar ou complicar... Deixe se emocionar! * texto escrito com o Português de Portugal. A (Má-) Emoção Controlada Pela Razão Há a idéia de que quando se concede à razão inteira liberdade ela destrói todas as emoções profundas. Esta opinião parece-me devida a uma concepção inteiramente errada da função da razão na vida humana. Não é objetivo da razão gerar emoções, embora possa ser parte da sua função descobrir os meios de impedir que tais emoções sejam um obstáculo ao bem-estar. Descobrir os meios de diminuir o ódio e a inveja é sem dúvida parte da função da psicologia racional. Mas é um erro supor que diminuindo essas paixões, diminuiremos ao mesmo tempo a intensidade das paixões que a razão não condena. No amor apaixonado, na afeição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objetivo é a felicidade, a própria e a dos outros. Nada há de irracional nas paixões como paixões e muitas pessoas irracionais sentem somente as paixões mais triviais. Ninguém deve recear que ao optar pela razão torne triste a vida. Ao contrário, pois a razão consiste, em geral, na harmonia interior; o homem que a realiza sente-se mais livre na contemplação do mundo e no emprego da sua energia para conseguir os seus propósitos exteriores, do que o homem que é continuamente embaraçado por conflitos íntimos. Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior. Bertrand Russell, in 'A Conquista da Felicidade’.
Regina Célia de Souza