sexta-feira, 2 de julho de 2010

Introspecção



Desde que experimentei o verdadeiro silêncio,

deixei de temer a morte.
Que mais pode ser a morte
que um silêncio prolongado...
Aquele silêncio
em que o relógio que o pode marcar
é o relógio solar
ponteiro dirigido ao céu,
sem tic-tac.
Desde que conheci o verdadeiro silêncio,
deixei de ter medo da vida,
da vida que come o silêncio...
Conto-me no relógio de areia,
uma a uma
se deixa tombar,
a contar os segundos,
sem ruído de ponteiros,
nem cucos a espreitar.
É nesse marcar de tempo
sem tic-tac de solidões
que me nascem orquestras de silêncios
em ondas a levarem-me ao céu
como que na derradeira viagem,
com o tempo contado
em relógios de lua...
Que mais será a morte
que um silêncio,
onde o compasso não vem da areia,
nem do sol,
mas tão só da lua,
donde mire o mundo com poesia,
donde continuarei a fazer-te poesia,
calma, serena,
a minha,
viva...
gravada pelo vento
nas dunas do meu silêncio...

Adelaide Monteiro















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