O meu encontro com o Voluntariado nunca teve data marcada. Também não resultou do acaso. Surgiu de forma simples, como uma vontade que não se explica, só se sente. Fez crescer a necessidade de aparecer na vida dos outros com um sorriso de esperança.
“Hospital”… Façamos a experiência. Basta proferir a palavra e… bah! os olhares tornam-se sombrios e os sorrisos abandonam de imediato os rostos denunciando a conotação negativa que envolve estes locais. Que ninguém duvide, são sítios onde se encontra uma vasta panóplia de padecimentos, verdadeiras crateras de sofrimento. “Para travar as batalhas contra a doença estão lá os médicos(as), enfermeiros(as) e o restante pessoal…” – é uma frase muito freqüente e proferida por aqueles que conseguem esquecer o assunto logo a seguir à conversa. Eu, porém, dava comigo amiúde, a pensar se não precisaria também de ânimo a alma daquele que não entende, não encaminha e muito menos sabe aceitar o sofrimento do corpo!Foi neste ponto que conheci o serviço dos Voluntários.
Quando me perguntam o que faço, não sei dizer. Ou respondo “nada, na verdade, não faço nada. Pelo menos nada de importante”. E não minto. Sei que a minha missão passa por coisas pequenas.
Atentemos na realidade das pessoas que ali chegam queixosas e já vergadas com a falta de saúde. Depois pensemos como se sentirão ao serem indiferentemente deitados numa maca, despidos das suas roupas sem qualquer pudor, e despojados dos seus haveres (roupa e pertences são depositados displicentemente num saco preto – igualzinho àquele que usamos para o lixo!)… E se isto não chegar a magoar-nos, então pensemos num exame que se faz e que exige, no mínimo umas duas horas até ditar o resultado, se ninguém aparece, se ninguém fala, o doente sente-se abandonado, esquecido e não raro começa a cogitar possíveis motivos de tanta demora. Se esta pessoa não tiver entrado doente, tem boas perspectivas de sair realmente abalada. Quanto não vale aqui uma presença que devolva a dignidade, um olhar atento, um conforto?
Quem somos nós para exigir que tenhamos todos o mesmo grau de resistência? Quem definiu a medida para o tradicional “ser forte” não nos deu ainda a conhecer a tabela de referências… E se encontramos pessoas pacientes, conformadas, também existem aquelas que se tornam agressivas, e revoltadas perante a mesma situação de dor. Não julgo, acompanho. Não recrimino, tento entender. Às vezes nem falo, sei que o silêncio também é reconfortante.
E a gratificação surge sempre que nos seguram na mão e nos pedem que fiquemos enquanto fazem o exame ou são suturados… Nos olhares ansiosos e meigos que nos oferecem… E no sorriso que nos lançam quando vão embora…
Vale tanto a pena!
Alice Ribeiro
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