terça-feira, 18 de agosto de 2009


FEIRA DO LIVRO - SÃO GABRIEL
Em 2007, no decorrer da organização, durante e após a 1ª Feira do Livro de São Gabriel, um grupo de amantes da poesia, incentivados pelo Patrono Rossyr Berny, começou a trocar experiências literárias, até então escondidas nos cofres escuros de suas intimidades. Começaram a se descobrir escritores, caminho inexorável para a necessidade de plantar sentimentos e razões próprias nos corações e mentes dos leitores, esperando, de alguma forma, fazer de seus textos instrumentos de catarse e humanização. O primeiro passo esteve associado às festas ligadas à Feira do Livro, onde os textos começaram a aparecer timidamente. Logo, através do estímulo apaixonado do poeta Rossyr Berny, a gradativa participação e troca de novas experiências literárias no sítio Recanto das Letras, começou a fazer brotar a ânsia de dar vida à poesia, tirá-la da morte fria da solitária intimidade e semeá-la nas páginas dos livros.Não é à toa que este grupo se auto-intitula de Confraria da Feira. Um grupo de irmãos nas letras, nascido no contexto da 1ª Feira do Livro de São Gabriel e formado por poetas nascidos nesta Terra dos Marechais e por gente que, por contingência e opção, escolheram São Gabriel como sua querência, para trabalhar, amar e viver.Nesta primeira edição dos Poetas Gabrielenses, os frutos do movimento cultural da Feira do Livro de São Gabriel refletem o sentimento terrunho e a universalidade, semeando desejos de crescimento da Confraria, novos confrades, novas produções e novos livros. Versos para o futuro.
Razões para melhor recriar a vida e a poesiaSempre penso nos humanos como seres duais e ambíguos, capazes de amar e odiar, de prezar e desprezar, de criar e descriar, de produzirem claros e escuros.Pessoalmente, minhas vivências humanas têm sido com as faces do amar, prezar, criar e luzir. Claro, não desconheço os rostos impuros. É questão de livre-arbítrio.Melhor conheço os grupos humanos que se afinam com as divindades. Ah, são os poetas e as poetas. Complementam-se com todos os lados luminosos da vida. E não desconhecem os descaminhos e as dores. Mas de seus ódios, revoluções, desamores, constroem torres, palácios, leitos e faróis, indicando a perenidade do amar e do perdoar. São magos, todos.Agora encontro cinco, aqui, todos poetas e uma poeta (sempre elas a receberem nossos louvores). São gabrielenses de nascimento ou que vieram de outras plagas deixar a cidade mais bonita, fraterna. Fazem isso com versos e luminosa ternura.São cinco dedos de uma só mão. De preferência a esquerda, a do coração. Mas também a direita, com a qual escreveram estes punhados de poemas que passam a ser história literária gabrielense.Dou testemunho:Edson Prestes – A simples lembrança de Frida Kahlo em seus versos glorifica todas as mulheres, essas musas heroínas que habitam nossos corações e os fazem pulsar apressadamente. Nos tornam homens melhores. Com sua questão social, preocupado com o bem-estar de todos, faz com que o mundo esteja melhor cuidado por suas mãos escribas.Marcelo Mendonça – Eis aqui um uruguaio-brasileiro. Nossas coragens – que antes combateram e tingiram de vermelho as fronteiras – há muito se somam em fraternidade. Hoje se perenizam em versos. Porque nada mais imortal do que a poesia e o livro. Quem escreve em Espanhol “Chimarrita de Lapuente” pode elevar-se ao mundo singular da Poesia.Márcia Meneghini – Não porque Márcia é a única mulher do grupo, mas porque a musa é sempre uma deusa. E se escreve poemas, é o supra-sumo das divindades. O próprio porvir e o próximo deleitar. Sobre o poeta/poesia, escreve: “Tem a arte e a manha na linguagem... Tecendo o texto com sentimentos!” No mais, os poetas se calam para que cantes.Rafael Cabral Cruz – Primeiro que este livro existe porque Rafael o sonhou. Segundo porque quis vê-lo publicado. Junto aos seus ombros e horizonte somou seus amigos. Um homem nunca é apenas o seu texto. É, sobretudo, seu mundo. E Rafael canta, encanta, sua musa/mulher: “Desejo desejar-te / nos teus vales deslizantes / no suor de dois amantes.”Ronaldo Fontoura – Desterro do coração da amada e do mundo é tudo o que não queremos. Por isso a proximidade com ela é tudo o que buscamos conquistar. E a salvo está Ronaldo que escreve: “Teu fogo ausente ainda aquece minhas noites. / Teus murmúrios noturnos arranham as paredes semi-nuas, / Vestidas com tua única foto.” Espetáculo.Por fim, registro meus poemas nesta antologia, distinguido como Patrono da 1ª Feira Municipal do Livro de São Gabriel. Construí-os todos, um a um ao longo de 32 anos de poesia, permeados da figura da mulher e América divina, sulina e habitualmente sacrificada. Incluo alguns poemas cubanos, escritos em 2008, no fevereiro caribenho de Havana, Cienfuegos, Trinidad e Santa Clara. Um homem só pode ser feliz se tiver orgulho do que faz e se puder compartir a conquista com todos. É o que tento. E é o que conseguem com sobra os cinco poetas maravilhosos que apresento, envaidecido, aplaudindo de pé, o Edson, o Marcelo, a Márcia, o Rafael e o Ronaldo. São Gabriel merece.A vida vale a pena quando o poeta apronta-se a criar e recriar o mundo.Rossyr Berny
SEMANA FARROUPILHA
GlossárioPrefácio (ou antes de mais nada): seguinte, nós aqui, parando rodeio nas idéias (planejando este site), saímos com esta de glossário, dicionário (ou lista mesmo) de palavras, expressões e adágios do Rio Grande. Mas, se aquele especial que tu procuras faltar, manda aí que a gente junta tudo. Não se acanhe! A idéia é justamente contar com a tua ajuda. Basta clicar aqui e preencher o formulárioAs colaborações e criações dos internautas farão parte do glossário, identificadas por dois asteriscos (**) e por uma cor diferenciada, além do nome do autor, claro.A, de andar como gato em tapera• A LA BRUTA – expressão usada quando algo acontece inesperadamente, de maneira grosseira. • A LA FRESCA – expressão que manifesta espanto, surpresa. • A LA LOCA – de maneira impensada. ** ALUMIAR A COLA NA MACEGA – morrer (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS) • À MODA MIGUELÃO – de qualquer jeito; de maneira estabanada, apressada. • À PONTA DE FACA – sem meio-termo; de maneira radical, sem concessão.• ABAIXO DO CU DO CACHORRO – expressão utilizada para definir alguém que esteja desmoralizado, deprimido, desprezado.• ABERTO QUE NEM TAMANDUÁ EM PICADA – ditado gaúcho que significa à vontade, sem preocupação.• ABICHORNADO COMO URUBU EM TRONQUEIRA – ditado gaúcho. Expressão que define alguém que está abatido, desanimado, desalentado.• ABRIR O CHAMBRE – desaparecer, fugir.• ABRIR O PEITO – cantar.** AIPIM – mandioca (colaborado por Tiago R. Piaceski, de Goiânia)• AGÜENTAR O REPUXO – enfrentar ou suportar situação penosa ou trabalhosa.• AGÜENTAR O TIRÃO – sustentar uma opinião, o mesmo que agüentar o tranco.• AMASSADO QUE NEM DINHEIRO DE BÊBADO – diz-se de alguém com péssima aparência.• AMOR DE CHINA É COMO FOGO DE PALHA – refere-se ao amor de certas mulheres que, por ser fácil, é passageiro e dura pouco.** AMUADO – triste (colaborado por Rodrigo da Costa Vasconcellos, professor universitário, Chapecó - SC)• ANDAR COM A BARRIGA NO ESPINHAÇO – andar com fome, estar magro, desnutrido.• ANDAR COM A CHINCHA NA VIRILHA – estar sem dinheiro, em dificuldades financeiras.• ANDAR COM PASSARINHO NA CABEÇA – estar se preparando para aprontar alguma coisa.• ANDAR COMO CACHORRO QUE LAMBEU GRAXA – andar cismado, invocado, ressabiado, arredio.• ANDAR COMO GATO EM TAPERA – estar abandonado, esquecido ou desprezado. ** ANDAR COMO PAU EM ENCHENTE – andar de um lado pra outro, ao sabor dos acontecimentos (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS) • ANDAR COMO VIRA-BOSTA SEM NINHO – diz-se daqueles que não têm moradia fixa nem família e andam meio perdidos na vida. ** ANDAR CORTANDO ARAME COM OS DENTES – andar sem dinheiro (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS) • ANDAR DE LOMBO DURO – andar de mau humor, desconfiado, ressabiado.• ANDAR MATANDO CACHORRO A GRITO – andar na pindaíba, sem dinheiro.• ANDAR NA PONTA DOS CASCOS – estar muito feliz e com ótima disposição.• ANDAR NA TIORGA – andar bêbado.• APERTADO COMO CHINCHA DE BAGUAL – ditado gaúcho que significa estar em dificuldades financeiras.• ARREGANHAR OS DENTES – ameaçar alguém.• ARREPIAR A CARREIRA – desistir de alguma coisa, voltar atrás.** ATÉ PROVAR QUE NÃO É CAVALO, JÁ COMEU UM SACO DE MILHO E DOIS FARDOS DE ALFAFA – Dificuldade de provar inocência de fatos antes de ser punido (colaborado por Francisco Solano Fabres, engenheiro, Macaé - RJ)• ATRAVESSADO DAS GUAMPAS – de mau humor, azedo.B, de bagaceira que nem papagaio de zona• BACALHAU DE PORTA DE VENDA – pessoa exageradamente magra. • BAGACEIRA QUE NEM PAPAGAIO DE ZONA – diz-se da pessoa desbocada, que fala muito palavrão.• BATER A PASSARINHA – ter um palpite certo.• BATER O TIMBO – morrer.• BEBER ÁGUA DE BRUÇO – entregar-se à pederastia.** BOI LERDO BEBE ÁGUA SUJA – que se atrasou e ficou com a pior parte (colaborado por Jocelito Wesz, comerciário, Santo Ângelo - RS)• BOLEADO DOS CACOS – que não é muito certo das bolas, amalucado.** BOLITA – Bolinha de Gude (colaborado por Tiago R. Piaceski, de Goiânia)• BURRO CARREGADOR DE AÇÚCAR ATÉ O RABO É DOCE – ditado. Diz-se daquele que, de tanto conviver com determinados hábitos, acaba adquirindo-os.C, de cheio de nove horas• CACHORRO MORDIDO DE COBRA TEM MEDO DE LINGÜIÇA – ditado. É aquele que, traído ou enganado por falsos amigos, passou a tratar outras amizades com desconfiança. • CADA QUAL NO SEU SARAGUÁ – expressão que indica o mesmo que cada macaco no seu galho. Cada um no seu lugar.• CAIR DE COSTAS – ficar surpreso com alguma notícia.• CANTAR A TIRANA – dizer certas verdades a alguém.• CANTAR O FACÃO – usar o facão numa briga.• CARA DE CADELA – usada para definir alguém que fez algo errado mas se apresenta como se não o tivesse feito.• CARA DE TERNEIRA MAMÃO – cara de bobo.• CAVALO DE COMISSÁRIO – o cavalo que nunca perde uma corrida porque o seu dono é comissário de polícia. Expressão que indica favoritismo.• CAVALO SOLTO DAS PATAS – animal que corre muito.• CERRAR AS ESPORAS – esporear o animal.• CERRAR O NAMORO – levar o namoro a sério.• CHAMAR NA CHINCHA – chamar a atenção de alguém sobre alguma falta cometida.• CHAMAR O CAVALO NAS PUAS – cravar as esportas no animal.** CHEIO DE NÓ PELAS COSTAS – pessoa cheia de manias (colaborado por Saulo Orcina, pecuarista, Santa Vitória do Palmar -RS)• CHEIO DE NOVE HORAS – cheio de manias.• CHEIO QUE NEM GUAIACA DE TURCO – diz-se daquele que é rico.• CHEIO QUE NEM PINICO DE VELHA – aquele que é detestado por todos por ser presunçoso.• CHEIRAR A DEFUNTO – diz-se de uma situação de iminente conflito.• COMPRIDA QUE NEM PUTIADA DE GAGO – diz-se de uma conversa infindável ou de uma discussão que não leva a nada. O mesmo que comprida que nem cagada de pato e comprida que nem cuspida de turco.• CONHECIDO QUE NEM RÓTULO DE MAISENA – diz-se de uma pessoa muito popular.• CONSTRANGIDO COMO PADRE EM PUTEIRO – diz-se de uma pessoa que se sente pouco à vontade em determinada situação.** CORTADO DE ALÇA DE GAITA – cansado (colaborado por Rodrigo da Costa Vasconcellos, professor universitário, Chapecó - SC)• CUIDADO COM A CHIFRADA DO BOI MANSO – o mesmo que ‘cuidado com amigos falsos’.D, de desgastado que nem dente de cavalo• DÁ MAIS VOLTA QUE BOLACHA EM BOCA DE VELHO – diz-se daquele que não sabe como iniciar um assunto Prolixo. • DAR A LONCA – morrer.• DAR CHÁ DE GARFO – ofender alguém com indiretas.** DAR COM OS QUARTO NAS CARQUEJA - cair (colaboração de Luciana Correa da Silva, de Cruz Alta)• DAR O COURO – apanhar.• DAR UM TIRO NO ESCURO – tomar uma decisão sem ter certeza das conseqüências.• DAR UMA CHAMADA – passar uma descompostura, ou xingar alguém.• DAR UMA CHISPADA – ir rapidamente em algum lugar.• DE PITO ACESO – assanhado, excitado.• DE RÉDEA NO CHÃO – diz-se do cavalo completamente manso.** DEITOU O CABELO – Se diz quando alguém foi embora rápido, às pressas de um lugar (Colaborado por Ana Gusmão, Montevideo (Uruguai). Conforme a Ana, essa é lá de Santana do Livramento)• DELE QUE TE DELE – diz-se de uma tarefa que tem que ser realizada rapidamente.• DESGASTADO QUE NEM DENTE DE CAVALO VELHO – diz-se de alguém que não tem mais vigor físico para determinadas tarefas.• DIREITO COMO LISTRA DE PONCHO – diz-se daquele que tem um comportamento exemplar.• DORMIR NAS PALHAS – diz-se da pessoa que não toma cuidados que devia tomar.• DURO COMO CARNE DE PESCOÇO – diz-se do indivíduoE, de embarrar o pastel** É COMO COLA DE CAPÃO, SÓ SERVE PRA JUNTAR SUGEIRA – pessoa que não presta para nada (colaborado por José Renato, gerente de vendas, Santana do Livramento - RS)• EM CIMA DO LAÇO – atrasado para um compromisso. • EMBARRAR O PASTEL – botar tudo a perder.• EMPINAR O BRAÇO – entregar-se á embriaguez.• ENCOSTAR A MÃO – o mesmo que esbofetear, surrar.• ENCOSTAR O PAU – surrar com o relho. O mesmo que encostar o relho.** ENFIAR ÁGUA NO ESPETO – trabalhar inutilmente (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS)** ENFRENAR MAL O CAVALO – ser mal sucedido (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS)• ENREDAR-SE NAS QUARTAS – atrapalhar-se.• ENROLADO QUE NEM FUMO DE ROLO – diz-se daquele que está atrapalhado com alguma tarefa aparentemente fácil.• ENSEBADO QUE NEM TELEFONE DE AÇOUGUEIRO – diz-se de alguma coisa que está muito suja e não vê água a um bom tempo.• ENTRAR EM CURRAL DE RAMA – colocar-se em situações perigosas.• ENTREGAR AS FICHAS – ceder, concordar.** ERVA CAÚNA – erva mate de má qualidade (colaborado por Jurandir Antonio Bruschi, contador, Novo Hamburgo - RS)• ESCONDER O LEITE – negar, dissimular.• ESCONDIDO QUE NEM GURI CAGADO – diz-se daquele que fez alguma coisa errada e está com medo de aparecer. O mesmo eu escondido que nem preá em touceira.** ESGUALEPADO - indivíduo que anda mal de saúde ou financeiramente (colaboração de Luciana Correa da Silva, de Cruz Alta)• ESPARRAMADO COMO CASCO DE ÉGUA VELHA – ficar à vontade.• ESPARRAMADO QUE NEM CAGADA DE PATO – diz-se de algo que foi derramado e está difícil de juntar.• ESTAR A MEIA GUAMPA – estar meio embriagado.• ESTAR A PAU – estar em jejum.• ESTAR ABICHORNADO – estar triste, aborrecido e abatido.** ESTAR AJOJADO – namorando juntinhos no sofá, de cabeças encostadas. A expressão deriva do “ajojo”, que é uma tira de couro usada para unir as aspas da parelha de bois que estão na canga, para puxar o carro de bois. Geralmente, o pai da moça, ao ver os namorados muito juntinhos, puxa a garrucha para o “mól” da barriga e resmunga: “Óia o ajojo...” (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)• ESTAR CHEIRANDO A CHAMUSCO – estar na iminência de um conflito.• ESTAR COM A BARRIGA NO ESPINHAÇO – estar muito magro e com fome.• ESTAR COM O COMICHÃO NO LOMBO – diz-se de alguém que fica provocando para levar uma surra.• ESTAR COM O CAVALO PELA RÉDEA – estar pronto para partir.• ESTAR COMO CARANCHO EM TRONQUEIRA – estar muito triste.• ESTAR DE CARIJO ACESO – estar namorando.• ESTAR DE PAMCA – estar procurando encrenca, fazendo desordem.• ESTAR EM PONTO DE BALA – estar preparado para uma tarefa.• ESTAR NA PINDURA – estar na miséria.• ESTAR NA ESTICA – estar bem vestido.• ESTICAR O MOLAMBO – o mesmo que esticar a canela, morrer.F, de feio que nem cara de enforcado** FACEIRO COMO GANSO NOVO EM TAIPA DE AÇUDE – feliz (colaborado por Julio Cesar Pires Santos, engenheiro agrônomo, Lages - SC) • FALSA COMO COBRA ENGAMBELANDO SAPO – diz-se da mulher enganadora. • FAMINTO QUE NEM RATO DE IGREJA – que sempre está com fome, esfomeado.• FAREJAR CATINGA AGOURENTA – pressentir um incidente desagradável.• FAZER CHARQUEADA – ganhar todo o dinheiro do adversário no jogo.• FAZER-SE DE CANCHO RENGO – fazer-se de bobo.• FEIO QUE NEM CARA DE ENFORCADO – diz-se de uma pessoa muito feia.• FEIO QUE NEM BRIGA DE FOICE NO ESCURO – situação muito perigosa, onde tudo pode acontecer.** FEIO COMO TROTE DE VACA - diz-se da pessoa muito feia (colaboração de Luiz Romaldo dos Santos, de Viamão)** FINA COMO ASSOBIO DE PAPUDO - mulher esbelta (colaborado por Luis Henrique Brignani)• FINCAR AS ASPAS – morrer, o mesmo que fincar as guampas.• FINCAR O PÉ NO MUNDO – fugir.• FINCAR O RELHO – agredir alguém com um relho.• FIRME COMO PALANQUE EM BANHADO – o mesmo que firme que nem pau podre, significa fraco, inseguro e sem resistência.• FORTE COMO TOCO DE CHARUTO VELHO – sujeito musculoso que trabalha com serviços pesados.• FRESCO QUE NEM NETO CRIADO PELA VÓ – cheio de frescura na maneira de ser e de se tratar.** FRIO DE RANGUIAR CUSCO – frio intenso (colaborado por Maurício Zanini, médico, Blumenau - SC)• FRITANDO A MERDA PRA APROVEITAR O TORRESMO – diz-se daquele que está na miséria nem tendo o que comer.• FROUXO COMO PEIDO EM BOMBACHA – diz-se de alguma coisa que não está bem presa ou atada.G, de grosso que nem dedo destroncado** GAMBETA - ameaça que vai para um lado e vai para outro (colaboração de Joanne Furtado, de Curitiba)• GANHAR NOS PELEGOS – meter-se na cama, ir dormir. • GROÇO COMO DEDO DESTRONCADO – indivíduo bronco, grosseiro, inculto.H, de há cachorro na cancha• HÁ CACHORRO NA CANCHA – significa que alguma coisa está atrapalhando os planos.J, de juntar o torresmo• JUDIADO QUE NEM BEIÇO DE BÊBADO – diz-se de um objeto mal cuidado e todo estragado pelo mau uso. • JUNTAR O TORRESMO – juntar um dinheiro para enriquecer. • JUNTAVA GENTE COMO MOSCA EM BOSTA – algum acontecimento fantástico com grande aglomeração de pessoas. • JURURU COMO CARANHCO EM TRONQUEIRA – triste, pensativo, melancólico.L, de liso como bagre• LARGAR COM UM COURO NA COLA – despachar ou mandar uma pessoa embora com rispidez. • LARGAR DE MÃO – não insistir mais em um assunto.• LARGAR OS CACHORROS – censurar alguém rispidamente.• LERDO COMO MULA DE GUAXA – diz-se da pessoa mole, vagarosa.• LEVADO DA BRECA – travesso, levado, o mesmo que levado da casqueira ou levado da carepa.• LEVANTAR A GRIMPA – não se submeter a outro.• LEVANTAR POLVADEIRA – promover agitação.** LEVAR UMA SUMANTA DE PAU - apanhar muito (colaboração de Joanne Furtado, de Curitiba)** LIDAR COM OS VIDROS – beber bebida alcoólica (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS)• LIGEIRO QUE NEM TROTE DE PETIÇO – diz-se de um cavalo lerdo ou de uma pessoa vagarosa no andar.• LINDA COMO ESTAMPA DE LIVRO DE FIGURA – diz-se de uma moça muito bonita.• LISO COMO BAGRE – algo difícil de segurar por ser escorregadio.• LISO E SEM BABADO – franco e honesto.• LOMBO DE SEM-VERGONHA – safado, ordinário.M, de mijar fora da pichorra** MAIS BONITA QUE LARANJA DE AMOSTRA - enfeitada (colaboração de Gerson Farias Corrêa, de Florianópolis)** MAIS BRANCO QUE BUZANO NUMA FRUTA - pessoa de pele muito clara (colaboração de Joanne Furtado, de Curitiba)**MAIS CADENCIADO QUE TROTE DE GANSO - aquilo tudo certinho (colaborado por Jorge Ortiz, de Florianópolis)** MAIS CONHECIDA QUE PARTEIRA DE CAMPANHA - pessoa popular (colaborado por Jorge Ortiz, de Florianópolis)** MAIS CURTO QUE PATATA DE PORCO - pequeno comprimento, pouca distância entre dois pontos (colaborado por Francisco Solano Fabres, engenheiro, Macaé - RJ)• MÁ CARNADURA – pessoa que não consegue engordar, fraca de saúde.** MAIS FEIO QUE DESMAIO DE CORVO – homem muito feio (colaboração de José Felisberto Mulinari Corrêa, de Cruz Alta)** MAIS FEIO QUE NADAR DE PONCHO NO GUAÍBA – quando uma situação vai se deparar difícil (colaborado por Saulo Orcina, pecuarista, Santa Vitória do Palmar -RS)** MAIS FEIO QUE RODADA DE CUSCO EM LADEIRA – pessoa muito feia (colaborado por José Renato, gerente de vendas, Santana do Livramento - RS)** MAIS FEIO QUE TOMBO DE MÃO NO BOLSO - situação ou pessoa feia (colaboração de Marcelo F. Corrêa, de Curitiba) ** MAIS FELIZ QUE GURI DE BOTA NOVA – felicidade (colaborado por Tiago R. Piaceski, de Goiânia)• MAIS FRIO QUE BARRIGA DE SAPO – pessoa insensível, sem paixão.** MAIS GROSSO QUE DEDO DESTRONCADO - pessoa com palavreado mais rústico e direto (colaboração de Marcelo F. Corrêa, de Curitiba) ** MAIS JUSTO QUE DEDO EM NARIZ - Situação onde as coisas acontecem bem juntas (colaborado por Gilson, de Viamão-RS)• MAIS LERDO DO QUE MULA GUACHA – pessoa preguiçosa e sem iniciativa.** MAIS LISO QUE BUNDA DE SANTO – sujeito difícil de pegar (colaboração de Luiz Romaldo dos Santos, de Viamão)** MAIS LISO QUE JUNDIÁ ENSABOADO - objeto escorregadio, difícil de segurar (colaboração de Fábio Mattje, de Pinhalzinho)** MAIS LISO QUE MUÇUM ENSABOADO - pessoa sem dinheiro ou difícil de ser pega (colaboração de José Felisberto Mulinari Corrêa, de Cruz Alta)** MAIS PERDIDO QUE CUPIM EM METALÚRGICA – carioca no Acampamento Farroupilha (colaborado por Francis Casali, professor de educação física de Farroupilha-RS)** MAIS PERDIDO QUE CUSCO EM TIROTEIO – confuso, desorientado (colaborado por Francisco Solano Fabres, engenheiro, Macaé - RJ)** MAIS POR BAIXO QUE UMBIGO DE COBRA – indivíduo muito apático (colaborado por Francis Casali, professor de educação física de Farroupilha-RS)** MAIS POR FORA QUE GARRÃO EM AÇOUGUE - pessoa que está por fora de alguma situação (colaboração de Jairton Marques, de Caxias do Sul)** MAIS QUIETO QUE GURI CAGADO EM BEIRA DE RANCHO - diz-se de quem está tentando disfarçar (colaboração de Gerson Farias Corrêa, de Florianópolis)** MAIS SÉRIO DO QUE GURI DE QUEM ROUBARAM AS BALAS – sujeito carrancudo (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)• MAL-INTENCIONADO COMO CIGANO À NOITE – diz-se daquele que está com a intenção de fazer alguma cilada.• MANDAR-SE A LA VIRA – largar-se na estrada, ir-se embora.** MANSO COMO GATO DE BOLICHO – pessoa tranqüila (colaborado por José Renato, gerente de vendas, Santana do Livramento - RS)• MARCAR NA PALETA – não desculpar algo feito de mau.• MATE DO ESTRIBO – último mate.** ME CAIU OS BUTIÁ DO BOLSO - Quando ficamos surpresos com alguma situação(colaborado por Luiz Romaldo dos Santos, de Viamão)** ME DORMI - quando alguém dorme além do esperado (colaborado por Jandora Severo Poli, de Porto Alegre)** METER OS PEITOS N’ÁGUA – enfrentar uma situação difícil. Mais apertado do que rato em guampa (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)** MONTAR NUM PORCO – enfurecer-se, fazer um escândalo (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)• MIJAR FORA DA PICHORRA – não cumprir com os compromissos assumidos.• MONTAR NUM PORCO – envergonhar-se, encabular.N, de não valer um sabugo• NÃO AGÜENTAR CARONA – não suportar ofensas sem reagir. • NÃO ENJEITAR PARADA – estar pronto para o que der e vier.• NÃO LEVAR DE COMPADRE – não aceitar certas companhias sem primeiro conhece-las melhor.• NÃO VALER UM SABUGO – não valer nada.** NEM O MINUANO ACARICIA – pessoa por demais de feia (colaborado por José Renato, gerente de vendas, Santana do Livramento - RS)• NO MATO SEM CACHORRO – em situação embaraçosa, difícil.** NOS PÉS DA ÉGUA - cansado, prostrado, atirado (colaboração de Marida Mafaldo Schmitz, de Contagem/MG)O, de olho de gato ladrão• O BOI ENGORDA COM O OLHO DO DONO – ninguém melhor que a própria pessoa para cuidar de seus interesses. ** O VIVENTE QUER MUMU, MAS NÃO QUER ABRIR A LATA– a pessoa quer algo bom, mas sem nenhum esforço; mumu = doce de leite (colaborado por Hector Dufau, consultor de tecnologia, São Paulo - SP) • OLHO DE GATO LADRÃO – olhar desconfiado.P, de passar o pito• PACHOLA COMO GATO DE CRIANÇA – diz-se da pessoa pedante, vaidosa, e de elegância duvidosa.** PALMEAR PORONGO – tomar chimarrão (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS)• PARAR RODEIO NAS IDÉIAS – recordar, relembrar fatos passados. • PASSAR A PERNA – enganar.• PASSAR A LÍNGUA – contar um segredo a outros.• PASSAR O PITO – repreender.• PASSAR UMA NOITE DE CACHORRO – passar mal a noite.• PELADO COMO PÁTIO DE COLÉGIO – campo com pouco pasto.** PELAR A CORUJA – Matar (colaborado por Francisco Solano Fabres, engenheiro, Macaé - RJ)• PERFUMADO QUE NEM VIÚVA ALEGRE – diz-se da pessoa cheirosa.** PIOR QUE TALHO NA BUNDA - Algo ou alguém muito ruim (colaborado por Jorge Ortiz, de Florianópolis)** PLANTAR FIGUEIRA – cair do cavalo (colaborado por Valandro Ferreira, funcionário público municipal, São Gabriel-RS)• PRAGA DE URUBU NÃO MATA CAVALO GORDO – expressão que significa que não devemos temer a inveja alheia.Q, de quem tá tomado de razão não precisa de espora** QUANDO O VIVENTE ESTÁ COM AZAR, ATÉ NO CAGAR SE DESCADERA – má sorte, azar extremo, atraindo desgraça (colaborado por Francisco Solano Fabres, engenheiro, Macaé - RJ) • QUEIMAR CAMPO EM DIA DE CHUVA – mentir. • QUEM TÁ TOMADO DE RAZÃO NÃO PRECISA DE ESPORA – ditado que significa que a verdade está acima de qualquer argumento.R, de ruim como cusco bichado na orelha• RELINCHA MAIS DO QUE POTRO CORRIDO NA MANADA – diz-se do homem que é rejeitado da convivência dos amigos.** RETO COMO GOELA DE JOÃO GRANDE - Coisa ou caminho reto (colaborado por Jorge Ortiz, de Florianópolis)• RUIM COMO A CARNE DA PÁ – diz-se da pessoa que não vale nada. • RUIM COMO CUSCO BICHADO NA ORELHA – diz-se da pessoa que não presta, mau caráter, falsa.S, de soltar as patas• SACUDIR OS ARREIOS – rebelar-se. • SAIR DE ATRAVESSADO – tratar alguém mal.• SAIR DO FACHO – sair a passeio para se distrair.• SAIR FEDENDO – sair apressadamente, sair correndo, o mesmo que sair tinindo.• SALGADO COMO PIPOCA DE FESTA – diz-se da comida muito salgada.** SE CAI DE QUATRO SEGUE PASTANDO - pessoa com pouca instrução (colaborado por Saulo Orcina, pecuarista, Santa Vitória do Palmar -RS)** SE TAPAR DE BICHO - sair em disparada como se estivesse fugindo de um enxame de abelhas (colaborado por Gilson, de Viamão-RS)• SECA COMO PARTO DE GALINHA – diz-se da pessoa muito magra.• SEM-VERGONHA QUE NEM POMBO DE PRAÇA – pessoa que não tem palavra.• SENTAR NO CABRESTO – negar-se a fazer alguma coisa.• SÉRIO COMO VIÚVA EM RETRATO – pessoa que dificilmente sorri.** SÉRIO QUE NEM GURI QUE TÁ CAGADO – sujeito carrancudo (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)• SOLTAR AS PATAS – ser estúpido.• SURRADA QUE NEM CASACO DE MENDIGO – diz-se de alguma coisa muito usada.• SUSPENDER UM PILEQUE – embebedar-se.T, de tomar chá de sumiço** TASTAVIANDO - índio que sai cambaleando depois de levar um palavreado atravessado ou até mesmo em uma briga (colaboração de Alexandre Klock Ernzen, de Sulina)** TE FAZ DE GALINHA MORTA PRA PASSEAR DE CAMIONETE - quando alguém quer se fazer de bobo (colaborado por Jandora Severo Poli, de Porto Alegre)** TE FAZ DE LEITÃO VESGO PRA MAMAR EM DUAS TETAS - quando alguém quer se fazer de bobo (colaborado por Jandora Severo Poli, de Porto Alegre)** TE FAZ DE MORTO PRA GANHAR SAPATO NOVO – fazer-se de bobo (colaborado por Carlos Eduardo Costa Gomes, funcionário público municipal, Porto Alegre-RS)** TE FAZ DE SALAME - quando alguém quer se fazer de bobo (colaborado por Jandora Severo Poli, de Porto Alegre)• TEM MAIS LANHO QUE PICANHA DE REIÚNO – sujeito cheio de cicatrizes provocadas por brigas em função do temperamento. • TER MUITA ARMAÇÃO E POUCO JOGO – ser agradável mas incapaz de ajudar em momentos difíceis.• TIRAR O CAVALO DA CHUVA – retirar o que disse, desistir de algum negócio.• TIRAR O CORPO FORA – não assumir responsabilidade pelo que fez.• TOMAR CHÁ DE SUMIÇO – desaparecer sem deixar rastro.• TRAIÇOEIRO COMO CRUZEIRA NA TOCA – pessoa capaz de uma traição a qualquer momento.• TRANQÜILO COMO ÁGUA DE POÇO – diz-se de quem está de bem com a vida.** TROCANDO ORELHA – desconfiado (colaborado por Rodrigo da Costa Vasconcellos, professor universitário, Chapecó - SC)V, de vazio como pastel de rodoviária• VAZIO COMO PASTEL DE RODOVIÁRIA – pessoa fútil. • VICIADO QUE NEM CACHORRO OVELHEIRO – pessoa que não consegue se livrar dos vícios.• VIÚVA NOVA É QUE NEM LENHA VERDE: ENQUANTO CHORA NUMA PONTA, QUEIMA NA OUTRA – expressão para mostrar as duas facetas da personalidade humana, a alegria e a tristeza** VIRADO NO REBOLO - índio velho que tem sabedoria de todo tipo de lida no campo (colaboração de Alexandre Klock Ernzen, de Sulina)






SANTA PROSTITUTA - A GUAPA
A LENDA DAS SANTAS PROSTITUTAS (Porto Alegre, São Gabriel e São Borja)As Santas Prostitutas destas lendas são as três do Rio Grande do Sul: a Maria Degolada, de Porto Alegre, a Irmãzinha Guapa, de São Gabriel e Maria do Carmo, de São Borja.Todas eram muito bonitas e bondosas para com os pobres e as crianças. Todas tinham como penosa profissão a prostituição e tiveram morte violenta às mãos de homens fardados, sacrificadas no altar de sua condição de mulher.A Maria Degolada (Maria Francelina) foi comer um churrasco com o cabo de nome Bruno da Brigada Militar, no morro que hoje tem seu nome (um morro situado no atual bairro Partenon, defronte ao terreno onde funciona o Hospital Psiquiátrico São Pedro, na avenida Bento Gonçalves) e ali foi assassinada com a própria faca do assador.Posteriormente, o cabo Bruno foi julgado pela justiça e condenado a 30 anos de reclusão na Casa de Detenção de Porto Alegre (em fevereiro de 1900), e veio afalecer em 16 de setembro de 1906, seis anos depois, de "Nephrite Intestinal".Maria Francellina foi enterrada no jazigo nº 741, do Campo Santo da Santa Casa de Misericórdia, em 14 de novembro de 1899.A figueira que se encontrava no local onde Maria morreu (foto acima), foi arrancada por um vendaval em data desconhecida (supostamente década de 60). No local, foi construída uma pequena Capela em homenagem à Maria Degolada.Com a elucidação do caso as populações periféricas de Porto Alegre passaram a considerar Maria Francelina como uma santa que atendia aos pedidos e orações dos desafortunados, principalmente após se ter espalhado a notícia de que em uma sessão espírita realizada nas proximidades do local do crime, havia sido recebida uma mensagem da moça declarando que não desejava ser lembrada como “Maria Degolada”, e sim pelo seu verdadeiro nome. Nessa época, já surgira no alto do morro uma pequena vila, cujos moradores decidiram em reunião que dali em diante o lugar seria chamado de Maria da Conceição.Maria Degolada, apesar de ter sido uma pessoa real, tornou-se um mito através de uma construção coletiva. Sua importância está demonstrada na grande quantidade de placas de agradecimento e oferendas que são levadas ao seu túmulo e sua capela e, especialmente, no fato da maioria dos integrantes da comunidade saberem sobre a história dela. Nesse sentido, essa Maria além de ser um personagem histórico é um mito fundador da identidade de uma comunidade.Além disso, a Maria Degolada foi assassinada por um representante do poder público: um policial. Essa história criou um significado que continua presente no imaginário atual da comunidade do morro que considera-se marginalizada e excluída socialmente. Vários moradores locais falam com certa indignação em relação à atuação da polícia com sua comunidade.A Irmãzinha Guapa era dona de um bordel e estava se enfeitando para um baile de carnaval diante do espelho quando foi atingida por um tiro dado na rua através da janela, por um cabo dos Provisórios, a mando de uma rica estanceira gabrielense, cujo marido era amante da Guapa.A Maria do Carmo saia de um baile em São Borja e foi convidada para beber com um militar do Norte. Como gostava muito de uma "saideira" e de militares aceitou, para terminar morta e esquartejada nuns matos rasteiros do potreiro que fica no bairro hoje chamado "Maria do Carmo". Seus restos foram achados mais tarde por meninos que procuravam seus cachorros e os foram encontrar rendo os ossos da infeliz prostituta.São muito as associações entre as três: todas eram prostitutas, bonitas, bondosas e todas se chamavam Maria, como a injustiçada Maria Madalena bíblica. As três tem hoje a cor azul como símbolo e capela erguida pela mão do povo e onde lhe são feitos pedidos e promessas. A Maria Degolada tem uma restrição: não atende pedido de Brigadiano (e com toda razão!), porque foi assassinada por um deles e a Maria do Carmo, ao contrário, tem uma curiosa predileção por pedido militar, embora tenha sido esquartejada por um deles. A promessa que as pessoas ricas mais fazem à Maria do Carmo é a de pintar de azul o seu túmulo.A religião católica e a maioria da sociedade condena a prostituição que é a profissão mais antiga do mundo, mas é bom relembrar que no período romano as Vestais foram sacerdotisas-prostitutas que participavam de orgias reais para procriar meninos entre os quais se elegia o rei de Roma. A lei que obrigou as Vestais a se conservarem virgem foi imposta no século VI a.C. por Tarquinio, o Velho. Assim, as qualidades pelas quais as mulheres eram consideradas outrora sagradas, agora passaram a ser a razão pela qual era degradada. O amor passou a ser dissociado do corpo para que os seres humanos pudessem alcançar união puramente espiritual com Deus.Maria Madalena, considerada a antítese da Virgem Maria também foi considerada como "pecadora" e renegada por Simão, mas tornou-se consorte de Cristo e mantinham um amor sexual. O ato sexual só foi condenado pelos padres das Igrejas dessa época, que diziam que todo aquele que buscava o prazer físico era materialista e mal. O maior dos méritos, então, era negar a natureza humana e abster-se de tudo o que fosse fonte de prazer.Para concluir esse texto, devemos esclarecer que a prostituição é uma profissão que também merece todo nosso respeito. Por favor, não pensem que estou incentivando ninguém a se prostituir, mas não serei eu a criticar o modo de vida das pessoas. Possuímos o livre arbítrio para fazermos o que quisermos com nossas vidas. Entretanto, existem milhares de mulheres, que são forçadas a aceitar o livre assédio de seus chefes ou patrões para não perder o emprego, outras são submetidas à trabalhos escravos ou até mesmo são estupradas pelos próprios maridos ou pelos pais ou padrastos. Sempre digo: não vamos julgar para não sermos julgados e essas santas prostitutas são um grande exemplo do que lhes digo!Todos nós temos direito à um lugar ao Sol, não sejamos preconceituosos, muito menos discriminadores. Respeite para ser respeitado!