Paulo Sant'anna
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na
sagrada relação dos meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que
os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto de vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
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SOBRE A AUTORIA DO TEXTO
Retirado do site: http://www.blassoc.com.br/bettyvidigaltextovm.htm
"O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na edição de 19 de junho de 2002, diz: “O colunista Paulo Sant’Ana recebeu esse e-mail do jornalista Emanuel Mattos no dia de seu aniversário e, para seu espanto, identificou que o texto, assinado por Vinícius de Moraes, é de sua autoria. Surpreso, imediatamente ligou e desfez a confusão. A criação de Sant’Ana já deve ter circulado por muitas caixas de mensagens com a assinatura de Vinícius, sem que ninguém soubesse da troca de autor. Somente, é claro, o próprio Sant’Ana.”
Sim: o próprio Santana – e também qualquer pessoa minimamente dotada de espírito crítico e que conheça algo de Vinícius. Qualquer coisa! Não é preciso ser um grande estudioso de sua obra. A ausência do tom lírico que permeia todos os seus escritos deveria bastar para acender uma luz de alerta no olho do leitor.
Alguém, em algum momento, decidiu que o texto seria muito mais “significativo” se fosse assinado por Vinícius de Moraes. O espantoso é que outra pessoa o receba e engula essa autoria sem questioná-la. (...)
Recebi, enviado por Suzete Braun, secretária de Paulo Sant'Ana, um e-mail com a seguinte resposta dada por ele:
"Que Vinicius, nada! Este texto é meu, foi publicado há anos neste espaço de Zero Hora. Faz parte do meu livro O Gênio Idiota. Lembro-me que esta coluna, sob o título de Meus Secretos Amigos, fez tanto sucesso que as pessoas recortavam-na e a colavam nas paredes de suas cozinhas. E incrivelmente o meu amigo Emanuel me mandou o poema como se fosse de Vinicius de Moraes, achando que tinha tudo a ver comigo. Não só tinha a ver comigo como era meu. E está lá na Internet, em página adornada, com excelente desenho ilustrativo, assinado por Vinicius de Moraes, acrescido de um regalito: "in Antologia Poética". Quero dizer que isso, a par de me envaidecer, me enfurece: vou acionar na Justiça por usurpação de direitos autorais as nove viúvas do Vinicius de Moraes. Estes grandes poetas brasileiros não passam de meros plagiadores.
Paulo Sant'Ana"
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