segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CRÔNICA DE (MOACYR SCLIAR) "OS TERRORISTAS"

Era um professor duro, exigente e implacável.As provas eram feitas sem aviso prévio.Todos os trabalhos valiam
nota e eram corrigidos segundo os critérios mais rigorosos.Resultado:no fim do ano quase todos os alunos estavam à beira da reprovação.As notas que ele anotava cuidadosamente no livro de chamada era as mais baixas possíveis.O que fazer?.Reuni-
am-se todos os dias no bar em frente ao colégio, para discutir a situação, mas nada lhes ocorria.Até que um deles teve uma
ideia brilhante.O livro de chamada.A solução estava ali:tinham de se apossar do livro de chamada e mudar as notas.Um 0 po-
deria se transformar em 8.Um 1 poderia virar 7 ( ou 10,dependendo do grau de ambição).
O problema era pegar o livro, que o professor não largava nunca, nem mesmo para ir ao banheiro.Aparentemente
só uma catástrofe poderia seperá-los.
Recorreram,pois, a catástrofe.Um dos alunos telefonou do orelhão em frente ao colégio, avisando que havia um principio de incêndio na casa do professor.Avisado, o pobre homem saiu correndo da sala de aula, deixando sobre a mesa
o famigerado livro de presenças.
Acreditareis se eu disser que ninguém tocou no livro?.Ninguém tocou no livro.Os rapazes se olhavam,mas nenhum
deles tomou a iniciativa de mudar as notas.Às vezes a consciência pesa mais que a ameaça da reprovação.
Moacyr Scliar. Costuma dizer que é perfeccionist:procura sempre a palavra exata, a frase perfeita.Essa caracterís-
tica está nas obras desse gaúcho de Porto Alegre, nascido em 1937.Ele é médico, e ainda assim encontra tempo para escre -
ver contos, ensaios e romances.Vários deles premiados.Um feliz inicio de semana a todos(as), é o que deseja Dalvino José Zeferino.