segunda-feira, 7 de junho de 2010

EJA - O QUE E COMO ENSINAR?

Oferecer condições para que os educadores que atuam com Educação


de Jovens e Adultos reconheçam que a alfabetização não se resume à


aprendizagem do funcionamento da linguagem escrita e do sistema de representação numérica, mas compreende também o aprendizado de habilidades cognitivas, a ampliação do universo de conhecimentos, o domínio de habilidades comunicativas, e possibilita aos sujeitos o


acesso a diversas manifestações da linguagem escrita em nossa


sociedade.


Ao final deste módulo, pretende-se que os educadores possam:


• compreender que os jovens e adultos possuem conhecimentos


prévios importantes sobre leitura, escrita e Matemática, e esses devem


ser sempre considerados no planejamento de qualquer atividade


pedagógica;


• utilizar mais e melhor informações sobre o funcionamento do


sistema de escrita, do sistema decimal de numeração, do cálculo


mental e das operações matemáticas.


• Processo de aquisição da linguagem escrita;


• sistema decimal de numeração;


• cálculo mental e operações matemáticas.


• Proposta Curricular e o livro Viver, Aprender 1 – Guia do educador;


• cartelas;


• papel sulfite;


• pincel atômico;


• papel para cartaz;


• fita adesiva.






PRIMEIRA ATIVIDADE


Diagnóstico de escrita (4h)


1. Realize a atividade Tempestade de idéias, pedindo aos educadores


que pensem rapidamente e escrevam:


O que os jovens e adultos sabem sobre escrita?






Após cinco minutos, peça que dêem suas respostas e, neste momentoorganize-as no quadro-de-giz ou escreva-as em uma folha de papepara cartaz. A síntese com as respostas dos educadores deve ficar eum lugar visível, pois será retomada ao longo das discussões sobre escrita.






2. Logo em seguida, proponha o ditado do título de uma notícia de


jornal. Explicite que o objetivo dessa estratégia é fazer com que os


educadores possam refletir e socializar suas opiniões a respeito do que os jovens e adultos sabem sobre escrita antes de entrar na escola. Para isso, proponha o seguinte:


Imaginem-se como educandos que estão chegando à escola pela


primeira vez e que deverão escrever o que eu irei ditar. Para realizar esta atividade é fundamental que os educadores tentem colocar-se de fato no lugar dos alunos; esse é um aspecto que deve ser bastante reforçado. Planeje previamente a atividade: um texto


interessante pode ser uma notícia de jornal. É importante que você dê algumas informações sobre a notícia escolhida: o título e o assunto, o jornal em que foi publicada etc. Ao final dessa etapa, leia a notícia em voz alta para os “educandos” e explique que o ditado será apenas dotítulo da notícia.


3. Os educadores devem escrever o que foi ditado em cartelas com


pincel atômico, em letras grandes; quando terminarem, deverão pregar as cartelas no quadro na parede ou colocar no chão, dependendo do espaço disponível. O importante é garantir que todas as cartelas fiquem expostas.


De maneira geral, os educadores têm muita dificuldade


para realizar essa atividade. Alguns comentários comuns são:


“os alunos não sabem escrever nada” (deixam a cartela em branco),


“os alunos não sabem escrever, por isso desenham” (produzem


cartelas com escritas e desenhos misturados), “tenho alunos


de todo tipo: os que não sabem nada e os que sabem alguma


coisa” (produzem cartelas com o texto faltando letras, sílabas


e/ou com erros de ortografia). É importante enfatizar que jovens e


adultos pouco ou não-escolarizados não confundem o modo de


representação da escrita com desenhos, portanto, essas cartelas (com desenhos ou mesclando desenhos e escrita) não demonstram os conhecimentos que eles possuem. Esse tipo de representação ocorre apenas com crianças.






4. Quando todas as cartelas estiverem disponíveis e organizadas em


um grande painel, peça aos educadores que se levantem de dez em


dez e as observem. A seguir, solicite que um educador venha à frente


do painel e, com a ajuda dos demais, procure classificá-las, fazendo


um agrupamento das escritas por semelhanças. Ele pode colocar todas as cartelas em branco juntas, as que tiverem desenho, as que tiverem desenho e escrita, as que tiverem só letras, as que tiverem letras e palavras, as que tiverem somente as palavras etc.






5. Faça comentários gerais a respeito da produção dos educadores e


confronte-a com as respostas dadas na Tempestade de idéias.


O tempo previsto até esta etapa é de 2 horas.






6. Quando os educadores terminarem a leitura, forme grupos e


apresente as escritas dos alunos que estão em processo de


alfabetização do Anexo 1, pedindo para que observem e identifiquem o que esses jovens e adultos sabem sobre a escrita.


7. Os grupos deverão socializar suas impressões. A seguir, um educador voluntário lê, em voz alta, os textos Os alunos podem produzir textos desde o início da alfabetização e O que é preciso compreender sobre o funcionamento da escrita, do livro Viver, Aprender 1 – Guia do educador (pp. 11 a 15). É importante que comparem suas impressões sobre a escrita dos alunos com as análises apresentadas nos textos. Para complementar a atividade, apresente o texto Sistema


alfabético e ortografia, da Proposta Curricular (pp. 67 a 70), e solicite


que façam uma leitura silenciosa.






SEGUNDA ATIVIDADE


Diagnóstico de leitura (4h)


1. Solicite aos educadores que escrevam: O que os jovens e adultos que não passaram pela escola sabem


sobre leitura?


Após cinco minutos, peça aos educadores que dêem suas respostas,


monte um painel com elas e deixe-o em um lugar bem visível, pois ele será retomado ao longo das discussões sobre leitura.


2. O segundo momento desta atividade será desenvolvido com


portadores de textos variados, escritos em outras línguas, possibilitando que os educadores reflitam sobre O que os jovens e adultos sabem sobre a leitura, mesmo antes de freqüentarem a escola? No Anexo 2 há várias imagens desses portadores, você também pode buscar outros,


como: rótulos variados (sabonete, whisky, balas), manuais de produtos eletrônicos, bulas de remédio, cartazes (sempre em outras línguas), livros de história sem texto escrito etc.


3. Divida os educadores em grupos, dê um portador de texto diferente para cada um deles e peça que observem, discutam e descubram:


A que portador o texto se refere?


Para que serve?


Quais as estratégias utilizadas pelo grupo para descobrir a que se refere o portador?


Qual sua função?


4. Após a apresentação das conclusões de cada grupo, comente,


procurando resgatar e confrontar as respostas produzidas pelos


educadores na atividade inicial de Tempestade de idéias.


5. Agora, os educadores deverão responder individualmente às


seguintes questões:


Como os jovens e adultos aprendem a ler e escrever?


Com que tipos de texto os jovens e adultos devem interagir?


Essas questões devem ser distribuídas em folhas de papel sulfite, uma para cada pessoa. Planeje-se para que a metade de sua turma


responda à questão a e a outra metade responda à questão b. Quando os educadores terminarem, organize grupos de cinco pessoas, reunindo sempre educadores que responderam à mesma questão; peça a eles que socializem e discutam todas as respostas e, ao final, produzam uma síntese que será apresentada por um relator escolhido.


6. Para finalizar, os grupos devem ler as páginas 8 a 11, do livro Viver, Aprender 1 – Guia do educador, buscando localizar as questões a que responderam nessas páginas, procurando observar o que o texto traz de confirmação, discordância e/ou complementação à resposta produzida.Após as exposições e discussão em plenária, elabore uma síntese final.






Alfabetização matemática


Primeira atividade


Descobrindo as funções dos números (2h)


1. Pergunte aos educadores: Para que servem os números em nosso cotidiano?


No quadro-de-giz, registre as respostas que, neste caso, podem ser as mais diversas. Os educadores podem dizer que os números servem para indicar:


o preço de alimentos, o valor do salário, o número de uma casa, a


ordem dos andares de um prédio, o número de filhos de uma família, o comprimento de um tecido, a data em que estamos, o peso de pessoas e objetos, o tamanho de sapatos e roupas. Ou, ainda, para registrar: a placa de um carro, a linha de ônibus ou documentos pessoais.


2. A seguir, proponha que copiem no caderno de notas todas as


indicações, agrupando-as a partir dos critérios abaixo:


Números que quantificam Números que ordenam Números que codificam (que indicam quantidade) (que indicam ordem) (usados para criar códigos)


3. Organize um cartaz registrando os agrupamentos. Atente para que


não ocorram confusões entre as diferentes funções do número.


/odem ocorrer algumas questões em relação aos números que codificam. Uma boa dica é lembrar que tais números são lidos e


falados sem necessariamente expressar o valor posicional dos


algarismos. Assim, um número como o do Registro Geral – 18.767.901 (carteira de identidade) pode ser lido ou falado das seguintes maneiras:


Dezoito; sete, meia, sete; nove, zero, um ou Dezoito, setecentos e sessenta e sete, novecentos e um.


Dificilmente esse número será falado ou lido como: dezoito milhões,


setecentos e sessenta e sete mil, novecentos e um. Isso ocorre porque nos códigos os números são usados para fazer combinações e não para expressar um lugar numa seqüência numérica ou uma quantidade.


Outra dificuldade pode aparecer em relação aos números que indicam


ordem. A data é um exemplo disso, representa tanto a quantidade de


tempo transcorrido como um lugar em uma seqüência numérica (dias,meses e ano).


Veja um modelo de como esse quadro com as indicações levantadas


pelos educadores pode ser organizado:


Números que quantificam Números que ordenam Números que codificam (que indicam quantidade) (que indicam ordem) (usados para criar códigos)


• Preço do salário • Ordem dos andares em um prédio • Placa de automóvel


• Número de filhos • Ordem de nascimento dos filhos • Data


• Data • Data • Números em documentos


• Peso pessoais


• Comprimento


Esta atividade demanda por parte dos educadores uma reflexão sobre


os significados e as funções dos números no cotidiano. Introduz


também a discussão sobre os conhecimentos prévios de jovens e


adultos em relação ao número, balizadas por suas experiências


cotidianas.


4. Agora, proponha que os educadores reflitam sobre as experiências


que jovens e adultos possuem em relação às funções dos números.


Vivendo em nossa sociedade, dificilmente as pessoas desconhecem


para que os números são usados. Coloque as perguntas no quadro-de- giz e peça que as respondam individualmente no caderno de notas: O que pessoas jovens e adultas que nunca foram à escola sabem


sobre os números?


Como essas pessoas lidam com os números que fazem parte das


atividades mais corriqueiras do dia-a-dia?


5. Quando todos tiverem respondido, solicite que façam uma leitura


individual do texto Números e operações numéricas, da Proposta


Curricular (pp. 111 e 112). Indique que devem grifar, em cada um dos parágrafos, a informação que considerarem mais relevante. Ao final,eles devem comparar suas respostas com as informações do texto.


6. Para finalizar a atividade, solicite que dois educadores apresentem


suas respostas iniciais e as comparem com as informações obtidas no


livro. Quanto aos outros educadores, poderão fazer colocações,


conversando um pouco mais sobre o assunto.






SEGUNDA ATIVIDADE


A carta enigmática (2h)


Nesta atividade, os educadores irão comparar um sistema


numérico inventado com o sistema decimal de numeração, analisando


suas propriedades e refletindo sobre o ensino e a aprendizagem desse conteúdo na alfabetização.


1. Forme duplas de trabalho entre os educadores e providencie cópias


da Carta enigmática (Anexo 3) para cada dupla. A seguir, solicite que


leiam e: Decifrem o código numérico da carta, identificando os símbolos


usados nesse código e o que representa cada um dos números


apresentados.


Identifiquem os diferentes significados dos números que aparecem na


carta.


2. A seguir, você deverá montar no quadro-de-giz uma tabela como a


seguinte:






Propriedades Sistema de numeração da carta Sistema decimal de numeração


1. Símbolos utilizados


2. Valor posicional


3. Base do sistema


3. Solicite aos educadores que leiam a carta e verifiquem se


conseguiram realizar a tarefa corretamente (compare com a Carta


enigmática decifrada, Anexo 4). Então, peça que digam quais são os


símbolos usados para representar os números no sistema de numeração da carta (# > * ^), anote-os na tabela. Peça que digam


quais os símbolos usados para representar os números no sistema


decimal de numeração (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9) e anote na tabela.


Fazendo o mesmo para cada uma das propriedades, ao final, sua


tabela deve estar preenchida do seguinte modo:


É importante chamar a atenção dos educadores para outro


princípio do sistema de numeração decimal. Enquanto na carta o


sistema tem a propriedade aditiva, isto é, soma-se a quantidade de


símbolos de cada ordem para determinar a quantidade representada, o sistema de numeração decimal é multiplicativo. Isso significa que,


dependendo do lugar que o número ocupe na escrita, ele deve ser


multiplicado; no caso da unidade, é multiplicado por 1; na dezena por


10; na centena por 100; na milhar por 1000, e assim ucessivamente.


4. Finalize a atividade, lendo em voz alta para os educadores o texto


Sistema decimal de numeração, da Proposta Curricular (pp. 112 a


114). Dê pequenas paradas a cada parágrafo para levantar e esclarecer possíveis dúvidas.






TERCEIRA ATIVIDADE


Cálculos e operações (2h)


/ Nesta atividade, os educadores deverão analisar os


procedimentos envolvidos no cálculo mental, pois grande parte de seus educandos utiliza procedimentos semelhantes para resolver situações roblema em seu cotidiano.


1. Inicialmente, pergunte aos educadores:


Vocês já perceberam, em alunos que iniciam o processo de


escolarização, se conseguem resolver problemas matemáticos,


especialmente aqueles que envolvem o sistema monetário?


Como jovens e adultos lidam com o dinheiro, em atividades de compra,na realização de pagamentos etc.?


É provável que muitos digam que seus alunos realizam cálculos


mentalmente, porém não sabem registrá-los.


2. Depois desse levantamento, os educadores serão convidados a


resolver os problemas (Anexo 5). Divida sua turma em dois grandes


grupos A e B. Reagrupe os elementos do grupo A e B em trios. Todos os trios do grupo A deverão resolver os problemas usando somente o


cálculo mental (realizarão as contas “de cabeça”), registrando o


resultado e discutindo sobre o modo como fizeram o cálculo. Todos os






Propriedades Sistema de numeração da carta Sistema decimal de numeração


1. Símbolos utilizados # (milhar), > (centena),


* (dezena) e ^ (unidade) 0 a 9


2. Valor posicional não tem valor posicional (são os tem valor posicional (dependendo símbolos que representam os do lugar que o algarismo ocupe valores) equivale a uma quantidade ou lugar


em uma seqüência numérica)


3. Base do sistema base 10 base 10






...grupo B deverão resolver os problemas usando o cálculo escrito


(realizarão os problemas usando a técnica operatória), registrando o


resultado e as operações que realizaram. Para muitos educadores é surpreendente descobrir que há inúmeras maneiras para resolver um problema usando o cálculo mental. No caso do cálculo escrito, nos problemas que resolveram, só é possível chegar ao resultado usando a técnica operatória da subtração.


3. Peça para pelo menos dois trios de cada grupo (A e B) apresentarem como resolveram os problemas, explicando os procedimentos que seguiram e os registrando no quadro-de-giz. Nesta etapa da atividade, alguns educadores podem ter dificuldades para registrar o modo como realizaram o cálculo mental,especialmente quando utilizam a adição e a subtração


simultaneamente. Caso tenham dificuldade, construa esse registro


junto com eles, peça para que ditem cada um dos passos que


seguiram, escreva-os no quadro-de-giz e compare-os com os


procedimentos de outros educadores.


Ressalte, ainda, que muitos jovens e adultos sabem fazer cálculos


mentais, mesmo que não saibam escrever números ou explicar como


realizaram tal procedimento.


4. Para complementar a atividade, peça aos educadores que


respondam, individualmente, no caderno de notas, às seguintes


perguntas:


Qual a importância do cálculo mental no processo de


escolarização?


Por que pode ser difícil para jovens e adultos pouco escolarizados fazer contas no papel?


Em seguida, organize a turma em grupos e peça a eles que apresentem suas reflexões e as discutam, chegando a respostas comuns que deverão ser registradas em uma folha de papel sulfite.


5. Ainda em grupos, os educadores deverão ler os seguintes textos:


Qual a importância do cálculo mental? e Por que pode ser difícil para os alunos fazer as contas no papel, do livro Viver, Aprender 1 – Guia do educador (pp. 22 a 25). Ao final, os educadores devem comparar as respostas do grupo com as apresentadas no livro e, coletivamente,


discutir semelhanças e diferenças entre ambas.


& Sugira como leitura complementar os textos Operações e Adição


e subtração, da Proposta Curricular (pp. 118 a 121).






QUARTA ATIVIDADE


Um pouco mais sobre a Matemática na alfabetização (2h)


1. Organize sua turma em grupos, de modo que cada um deles se


responsabilize por responder a uma das perguntas relacionadas abaixo.


É importante que os grupos cheguem a uma resposta comum,


elaborada a partir de sua prática em sala de aula.


Qual o papel da Matemática na alfabetização?


O que os jovens e adultos não-escolarizados sabem sobre Matemática?


Como o educador pode atuar na ampliação desses conhecimentos?


Como diagnosticar os conhecimentos dos alunos?


O que se espera que os alunos aprendam na alfabetização?


Como descobrir as regularidades dos números e da escrita numérica?


Como trabalhar com situações-problema?


Que materiais podem ser utilizados na alfabetização matemática?


De onde partir e até onde chegar no ensino de Matemática?


2. Quando todos tiverem respondido, solicite que os grupos encontrem a pergunta que responderam no texto Alfabetização matemática, do livro Viver, Aprender 1 – Guia do educador (pp. 17 a 27), comparando-a com a resposta dada por eles. Solicite que cada um dos grupos faça um seminário para apresentar a resposta elaborada por eles e a apresentada no texto, utilizando cartazes (se for preciso), apontando discordâncias e concordâncias entre ambas.


3. Para finalizar o módulo e avaliar como os conteúdos estudados


foram incorporados pelos educadores, sugerimos que eles comparem


atividades de Matemática propostas no livro Viver, Aprender 1 com as


atividades de outro material elaborado para jovens e adultos. Você pode tomar como exemplo as páginas 18 a 22 do Viver, Aprender 1. Peça que analisem a proposta e depois a comparem com as páginas


reproduzidas no Anexo 6, que são de outro material. Nessa análise, à


luz do que foi discutido e estudado, os educadores deverão argumentar sobre as diferenças entre as propostas. Explicite que, para isso, deverão recorrer às leituras realizadas e apontamentos que fizeram durante a realização do módulo. Retome também que mesmo jovens e adultos que nunca passaram pela escola sabem muita coisa sobre números e operações e, como vimos, é esse o ponto de partida para qualquer aprendizagem. Espera-se que o educador seja capaz de argumentar de modo favorável às atividades propostas no Viver, Aprender, pois a proposta ali apresentada parte do pressuposto de que jovens e adultos sabem os significados dos números e conseguem realizar cálculos mesmo sem o


domínio da representação numérica. No Anexo 6 os educadores irão


deparar com atividades que partem do pressuposto de que jovens e


adultos ainda não estabeleceram a relação entre números e a


quantidade representada, desconhecem números que são comuns no


cotidiano (usados no dinheiro, no calendário, no relógio etc.) e que o


cálculo escrito deve prevalecer em relação ao cálculo mental. Muitos


educadores podem argumentar de modo contrário, especialmente


porque usam propostas como as do Anexo 6 em sala de aula. Espera-se


que o coordenador seja capaz de retomar, neste momento, os


conteúdos trabalhados e debatê-los com os educadores.






VAMOS REPRESENTAR NÚMEROS


94


MOBRAL. Alfabetização: livro de Matemática. São Paulo: Abril Cultural,


[19--] 65p.


Módulo 7


Refletindo sobre a


linguagem na Educação


de Jovens e Adultos






Apresentar os fundamentos teóricos, os eixos e os principais aspectos


da Proposta Curricular para a área de Língua Portuguesa, por meio de


atividades que propiciem aos professores vivência e reflexão sobre


algumas particularidades do trabalho com a língua.


Espera-se que, por meio das atividades e das reflexões propostas, os


educadores sejam capazes de:


• explorar as diferentes situações e usos da linguagem oral;


• propor situações e reflexões a respeito das diversas funções e usos


da linguagem escrita, tanto na perspectiva da leitura como da produção


de textos;


• exercitar efetivamente a leitura e a escrita significativas.


• Linguagem oral;


• leitura;


• produção de textos;


• conhecimentos lingüísticos.


• Proposta Curricular, Viver, Aprender 1 e 2 (livro do aluno e Guia do


educador);


• papel sulfite;


• papel para cartaz;


• pincel atômico;


• papel pautado;


• cartelas;


• fotocópias dos textos Piscina (Anexo 2) e A velha contrabandista


(Anexo 3).


Cartaz com o esquema Nossa língua (Anexo 1).


PRIMEIRA ATIVIDADE


Conhecendo os objetivos da Proposta Curricular (1h30)


1. Depois de ler para o grupo cada item da Síntese dos objetivos da


área de Língua Portuguesa, na Proposta Curricular (pp. 60 e 61),


organize grupos, garantindo que cada um deles discuta um ou dois


objetivos e prepare a apresentação com os seguintes itens:


O que significa esse objetivo? Como você pode fazer para


realizá-lo? Cite três ações. Justifique.


2. Em seguida, passe à apresentação dos grupos, que poderão utilizar


cartelas ou outros recursos que acharem convenientes. O fundamental é que significados e objetivos fiquem registrados e possam ser observados pelos grupos ao longo das atividades.


3. Conduza a discussão mostrando que, para cumprir esses objetivos,


organizou-se a proposta para Língua Portuguesa em torno de dois


grandes eixos: a linguagem oral e a diversidade de textos (na leitura e na produção), e a análise lingüística é tratada como elemento


fundamental para a expressão oral, para a leitura e para a escrita. Para isso, apresente o esquema de abordagem da Língua Portuguesa no quadro-de-giz ou em folhas grandes de papel (Anexo 1).






SEGUNDA ATIVIDADE


Linguagem oral – aquecimento e problematização (30min)


1. Disponha o grupo em semicírculo e dê a seguinte instrução:


ð Vocês irão contar uma história imaginária, que deverá ser


construída pelo grupo. Não se esqueçam de que vocês deverão contar


uma única história. Se houver dificuldade, você poderá iniciar a história; nesse caso,


comece com algo como Era uma vez..., buscando garantir a narração


de um fato imaginário. Durante o exercício, fique atento para garantir


que todos falem, mas que não se estendam muito, para que não se


perca o ritmo da história. Aliás, antes de começar o exercício é


oportuno chamar a atenção do grupo para a necessidade de que não


haja interrupções. Só depois da história terminada serão feitos os


comentários.


2. Ao avaliar a atividade com o grupo, ouça os participantes e ao final


enfatize: a) a importância de saber ouvir e b) os “problemas” da história como deslizes que muitas vezes acontecem quando falamos, relatamos um fato a alguém, incoerências, lacunas etc. É comum que a história não tenha um desenvolvimento muito


adequado; no geral, os participantes fecham e recomeçam a história


várias vezes e acabam finalizando bruscamente. Aproveite este


momento para enfatizar que o exercício tem exatamente este objetivo:


levantar problemas para a reflexão; destaque também a importância da linguagem oral para a comunicação e para o processo de


aprendizagem.


TERCEIRA ATIVIDADE


Debate (1h30)


1. Leia para o grupo o item Linguagem oral, em Blocos de conteúdo e


objetivos didáticos, da Proposta Curricular (pp. 62 a 67). Em seguida,


distribua as questões relacionadas abaixo entre os grupos, que deverão discuti- las e levantar três argumentos que justifiquem sua resposta. A partir das atividades realizadas e da leitura do texto, qual a importância do trabalho com a linguagem oral na Educação de Jovens e Adultos?


Quais usos você acredita que seus alunos façam da linguagem oral no


cotidiano?


O que eles devem aprender a respeito do uso da linguagem oral?


Você pode pedir para que cada dois grupos respondam a apenas


uma das questões, de forma que possam alimentar o debate. Oriente


os grupos para que tomem nota dos argumentos e justificativas como


apoio para a apresentação.


2. A partir das respostas, organize um “debate” com duração média de trinta minutos. A idéia é propiciar a apresentação da opinião de todos; por isso,garanta o direito à palavra a todos e procure controlar a utilização adequada do tempo. Não se esqueça de, ao final, sintetizar a discussão e salientar os principais aspectos.


QUARTA ATIVIDADE


Elaborando atividades para desenvolver a linguagem oral (1h10)


1. Retome com o grupo a leitura dos Tópicos de conteúdo e objetivos


didáticos – Linguagem oral, na Proposta Curricular (pp. 64 a 66). Cada grupo deve ficar responsável por um tópico para formular uma atividade que gostaria de desenvolver com seu aluno em sala de aula (registrar em transparência ou papel). Na apresentação para o grande grupo, os educadores deverão enfatizar o objetivo e a descrição da atividade elaborada.


2. Comente as apresentações e encerre a discussão retomando os


exercícios desenvolvidos (contar a história, discussão em grupo,


argumentação em torno de uma questão, mediação e o papel do


coordenador) como diferentes possibilidades de uso da linguagem oral,voltando aos tópicos de conteúdo, sempre que necessário.


3. Peça aos educadores que anotem individualmente e em seus


cadernos de notas as principais contribuições, questões, dicas etc.


propiciadas pelas atividades e discussões. Chame a atenção para a


importância desse registro e para sua utilização como subsídio para a


prática e para a reflexão cotidianas.






QUINTA ATIVIDADE


Leitura – estratégia de aquecimento e sensibilização (1h)


1. Solicite que cada participante procure lembrar-se do primeiro


contato que teve com a leitura (livro que leu ou a primeira história que ouviu) ou que marcou sua vida e por quê. Em seguida, cada grupo (de no máximo seis pessoas) deve verificar se há experiências/livros em comum e fazer uma síntese das leituras do grupo, que será apresentada por escrito (em cartelas ou folhas de papel). Com esta atividade pretende-se fazer um inventário dos primeiros contatos do educador com a leitura, procurando mostrar a diversidade de experiências, as possíveis restrições etc.


2. A partir dessa reflexão procure discutir se as experiências são todas positivas, negativas, mistas e as razões para as diferenças.


Chame a atenção dos educadores para o fato de que essa


diversidade tem como causa as diferentes histórias de vida, que


também deve ser observada em relação aos educandos e precisa ser


considerada como informação fundamental para o início das atividades.


SEXTA ATIVIDADE


Reconhecendo diferentes tipos de textos (2h20)


1. Elabore com o grupo uma listagem dos vários tipos de textos de que eles conseguirem lembrar-se e peça a um educador de cada grupo que anote em cartelas. Em seguida, os participantes devem propor uma organização dos textos e justificar o agrupamento. Após a apresentação, oriente a leitura individual e os comentários sobre o item


Leitura e escrita de textos, na Proposta Curricular (pp. 73 a 76).


2. Em seguida, cada grupo deve ler atentamente e preparar a


apresentação de uma ou duas modalidades de texto, recorrendo à


leitura do item Modalidades de texto e Tópicos de conteúdo e objetivos didáticos, também na Proposta Curricular (pp. 76 a 90). A cada apresentação, sistematize e mostre a correspondência entre os


agrupamentos iniciais e as apresentações dos educadores,


evidenciando a tipologia adotada na Proposta Curricular como


referência.


3. Diga para o grupo que você vai ler um texto, cujo título é Piscina


(Anexo 2); peça aos educadores que pensem no título e levantem


hipóteses a respeito da história. Em seguida, leia o texto, verifique com o grupo a pertinência das hipóteses e realize uma análise, levando os educadores à observação de conteúdo (tema), tipologia, função (ou funções sociais), marcas de estruturação, linguagem, recursos lingüísticos e pertinentes.


4. Realize trabalho semelhante com uma notícia de jornal de sua


escolha.


SÉTIMA ATIVIDADE


Os educadores elaboram novas atividades (1h40)


1. Atribua um “tipo de texto”, extraído dos livros Viver, Aprender 1 e 2,para cada grupo e solicite que realizem a análise do texto e preparem a apresentação. Procure garantir a análise de um conto ou crônica, um poema, um texto jornalístico, um relato, um texto instrucional, um de informação científica, uma carta. Para realizar a seleção dos textos,verifique os volumes do Viver, Aprender e consulte, sempre que necessário, na Proposta Curricular, o item Modalidades de texto (pp. 76 a 88).


2. Em seguida, os grupos deverão pensar como esses textos podem ser


utilizados em atividades com seus alunos em sala de aula. Novamente devem ser preparados cartazes com a indicação do perfil dos alunos e das sugestões dos educadores para a utilização de cada um dos textos. Como subsídio, os educadores deverão ler, no livro Viver, Aprender


2 – Guia do educador, o item Algumas idéias sobre o processo de


ensino e aprendizagem (pp. 4 a 8). Há também os vários trabalhos


realizados com diferentes tipos de texto que podem ser consultados


posteriormente.


3. Cada educador deverá registrar, em seu caderno de notas,


comentários e reflexões sobre as atividades de leitura, mencionando o seu próprio aprendizado e contribuições que poderão ajudá-lo no


trabalho com seus alunos.


OITAVA ATIVIDADE


Funções da escrita (1h)


1. Anote na lousa Escrever é... e peça a cada educador que complete a frase com uma palavra ou expressão curta, anotando-a em letras


grandes em uma cartela.


2. Em seguida, monte um painel com os resultados, considerando as


diferentes visões e representações do que é escrever. Juntamente com os educadores, agrupe as cartelas por tipo de resposta.


3. Peça aos grupos que pensem e registrem em folhas ou cartelas


separadas: Em que situações, com que objetivo e para que pessoas


costumam escrever?


É a mesma coisa escrever nesses diferentes momentos?


O que muda?


Em que momentos é mais difícil?


E mais fácil?


E mais gostoso?


4. Cada grupo apresenta sua síntese. O coordenador deve organizar


uma tabela, dispondo cada um dos itens mencionados em uma coluna


(no quadro ou em papel). Comentar os diferentes aspectos abordados e as diferentes posturas em relação à escrita.


NONA ATIVIDADE


Produção de texto (4h30)


1. Leia para o grupo o texto A velha contrabandista (Anexo 3),


conduzindo uma breve discussão para garantir o entendimento. Em


seguida, proponha a seguinte situação: considerando o fato abordado


no texto – a velhinha descoberta fazendo contrabando de motos –, os


grupos deverão elaborar:


a. uma notícia de jornal divulgando o fato;


b. um relatório produzido pelo fiscal, informando o fato aos seus


superiores;


c. uma carta que teria sido escrita pela velhinha para seu sócio,


contando o fato;


d. uma página do diário da velhinha registrando o fato;


e. as instruções produzidas pela velhinha para que outra pessoa


continue a realizar o contrabando sem ser descoberta;


f. supondo que o fiscal não cumpriu sua palavra e denunciou a


velhinha, que por isso foi presa, um grupo deverá produzir um texto


argumentando em defesa da velhinha;


g. outro grupo argumentando no sentido de culpá-la.


Caso considere necessário, você pode excluir ou incluir


alternativas, sempre garantindo a diversidade de funções sociais e tipos de textos solicitados.


2. Chame a atenção do grupo para a necessidade de que se tenha


clareza do objetivo, do destinatário, que se considere a adequação da


linguagem etc. Oriente os educadores para a importância de consultar,na Proposta Curricular (pp. 76 a 88), a caracterização dos diferentes


tipos de textos e suas funções. Destine quarenta minutos para a


produção individual.


3. Nos mesmos grupos, mas agora individualmente, os educadores


deverão fazer um registro no caderno de notas, respondendo às


seguintes questões:


Como foi escrever o texto?


Que dificuldades sentiram?


Como acham que poderiam saná-las?


4. Cada grupo escolhe um dos textos para ser lido e analisado por


todos. Nesse momento o texto escolhido poderá sofrer transformações ou, ainda, pode-se optar pela criação de um novo texto coletivo.


5. Cada um dos textos escolhidos deve ser lido, discutido e analisado,


considerando a adequação da estrutura, a linguagem etc. Uma


alternativa é pedir que os textos sejam analisados primeiramente pelos grupos e só depois sejam apresentados para a apreciação geral.


Antes de iniciar a análise, leia com os grupos o item O que está


em jogo na produção de textos, do livro Viver, Aprender 2 – Guia do


educador (pp. 8 a 10), e os itens Pontuação e Análise lingüística, na


Proposta Curricular (pp. 90 a 95).


6. Encerre o encontro abrindo espaço para que os grupos comentem a análise dos textos, mostrando que movimento semelhante pode ser


realizado (com as devidas adequações) em sala de aula com os


educandos. Peça também que alguns educadores comentem os


aspectos registrados sobre o processo de produção individual,


enfatizando as diferentes funções sociais da escrita e o caráter


processual envolvido na produção de textos.






NOSSA LÍNGUA


Instrumento para interagir com as outras Sistema de representação da realidade,pessoas, para acessar as informações, que dá suporte a que realizemos diferentes os saberes, enfim, a cultura da qual operações intelectuais, organizando o fazemos parte. pensamento, possibilitando o planejamento das ações e apoiando a memória.


Língua Portuguesa abrange o desenvolvimento da linguagem oral e da leitura e escrita Linguagem Sistema alfabético oral e ortografia


Leitura e escrita de textos


Pontuação Análise lingüística






Anexo 2


PISCINA


Fernando Sabino


Era uma esplêndida residência na lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos alastrando-se pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.


Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim.


Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam


olhando.


Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim tônica no terraço, e a


mulher, um banho de sol, estirada de maiô à beira da piscina, quando


perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.


Era um ser encardido, cujos molambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.


De súbito pareceu à dona da casa que a estranha criatura se


esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos. Ergueu-se um


pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingiu a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos, sempre a olhá-la, em desafio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco tempo sumia-se pelo portão.


Lá no terraço, o marido fascinado assistiu a toda a cena. Não durou


mais que um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os


instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.


Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.






Sugestões para análise


É provável que quando você solicitar aos educadores que levantem


hipóteses a partir do título, as respostas concentrem-se em aspectos


relacionados ao prazer, à diversão, ao lazer. Raramente as pessoas


imaginam que um texto com o título Piscina possa abordar uma


questão tão séria e crítica como a desigualdade social. Aproveite esse


elemento para conversar com o grupo sobre os preconceitos que temos a respeito das informações, a influência de nosso conhecimento prévio sobre nosso processo de construção de sentidos etc.


Ao analisar o texto chame a atenção do grupo para alguns aspectos,


tais como:


1. O autor inicia o texto descrevendo o cenário no qual se passa a ação narrada (estrutura). Ao fazê-lo, Fernando Sabino recorre a alguns recursos de linguagem para que o leitor construa imagens do cenário: a residência é esplêndida, cercada de jardins e tem uma bela piscina. Em contraposição, a favela ao lado se alastra (como uma epidemia ou erva daninha?) comprometendo a paisagem. Ressalte esse jogo realizado pelo autor para, desde o início, explicitar que se trata de um conflito, de um confronto.


2. No parágrafo seguinte o autor evidencia o movimento que marca o


cotidiano das personagens, acentuando que em torno da bela


residência circulam os moradores da favela.


3. No terceiro parágrafo há a introdução do conflito que ocorre


“Naquela manhã”. Nesse mesmo parágrafo vale observar a oposição


entre o cotidiano dos moradores da favela e o dos moradores da


esplêndida residência. Além disso, do terceiro ao quinto parágrafo o


conflito desenvolve-se. Sendo que no quinto se concentra todo o


suspense e o detalhamento do conflito e do confronto vividos pelas


personagens.


4. O sexto e o sétimo parágrafos compõem o fechamento do texto e


reforçam o conflito comparando o fato com uma guerra. Além disso, ao revelar a atitude do marido, fornece ao leitor uma chave de leitura, ou seja, propõe uma reflexão em torno do fato narrado.


5. Chame a atenção para a escolha das palavras para caracterizar


personagens (pobres e ricos) e cada momento do texto: a intensidade de detalhes, a economia e a precisão das palavras utilizadas. Relacione esses elementos com o efeito que o texto causa nos leitores ou ouvintes. Geralmente no quinto parágrafo, as pessoas sentem-se profundamente tocadas pelo texto.


6. Fale sobre a função do texto literário (veja na Proposta Curricular, pp.


76 e 77).






Anexo 3


A VELHA CONTRABANDISTA


Stanislaw Ponte Preta


Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela


passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.


Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal


perguntou assim para ela:


– Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?


A velhinha sorri com os poucos dentes que ainda lhe restavam e mais


os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:


– É areia!


Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar: lá dentro só tinha areia.


Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.


Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo.


Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as


vezes, o que ela levava no saco era areia.


Diz que foi aí que o fiscal se chateou:


– Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço.


Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da


cabeça que a senhora é contrabandista.


– Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a


lambreta, quando o fiscal propôs:


– Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte,


não apresento, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer:


Qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os


dias?


– O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha.


– Juro – respondeu o fiscal.










– É lambreta!






Módulo 8


Novos desafios para ensinar e


aprender Matemática na


Educação de Jovens e Adultos






16 horas


• Propiciar condições para que os professores que atuam na Educação


de Jovens e Adultos reflitam sobre como a Matemática pode contribuir para a formação da cidadania e desenvolvam a competência necessária para articular objetivos, conteúdos e orientações didáticas, buscando transformar seu planejamento em um instrumento importante de trabalho.


Ao final do módulo espera-se que os professores:


• tenham uma visão ampla do que é apresentado na Proposta


Curricular;


• estejam motivados para dar continuidade à leitura da Proposta


Curricular e também para a busca de outras fontes de informação que permitam aprofundar as reflexões iniciadas com este trabalho.


• A importância da Matemática na formação de jovens e adultos;


• o ensino e a aprendizagem de Matemática: a prática do dia-a-dia;


• objetivos, conteúdos e maneiras de ensinar.


• Proposta Curricular;


• papel para cartaz;


• canetas coloridas.


• Ábacos;


• calculadoras etc.






PRIMEIRA ATIVIDADE


A Matemática vista por educandos e educadores (4h)


1. Peça aos educadores que se organizem em pequenos grupos e


pensem sobre as seguintes questões:


ð Como meu aluno vê a Matemática? Qual é a minha visão em


relação à Matemática?


2. Oriente os grupos para que, durante a discussão, procurem refletir


sobre a visão do aluno e a visão dos educadores em relação à


Matemática.


Para alimentar as discussões dos grupos, o coordenador poderá


indicar alguns pontos que merecem destaque, como, por exemplo:


• na visão dos educandos: se, de modo geral, gostam ou não de


estudar Matemática; se há momentos, ao longo da aprendizagem, em


que perdem o interesse pelos estudos dessa área do conhecimento e


por que isso acontece; se aprendem Matemática com facilidade


(especificar o conteúdo); se há conteúdos cuja aprendizagem é mais


difícil (indicar possíveis causas);


• na visão dos educadores: se, de modo geral, gostam ou não de


ensinar Matemática (justificar); quais conteúdos têm facilidade para


ensinar e quais têm dificuldade (indicar possíveis causas); que tipo de


recursos consideram que ajudam o professor a ensinar Matemática de


forma mais eficiente (explicar e justificar); explicar objetivamente por


que é importante ensinar Matemática para os alunos.


3. Informe aos grupos que, para apresentar as duas visões, eles


poderão utilizar diferentes linguagens, tais como: a escrita de um


pequeno texto em forma de crônica, uma dramatização, um desenho,


uma história em quadrinhos, uma charge etc. Destine trinta minutos


para essa tarefa.


4. Organize um painel para apresentar os trabalhos dos grupos e peça


a um educador para elaborar uma síntese das apresentações,


destacando os aspectos mais significativos na visão dos alunos e na


visão dos educadores.


5. Ainda em pequenos grupos, os educadores devem ler o texto


Síntese dos objetivos da área de Matemática, na Proposta Curricular


(pp. 109 e 110).


6. Peça aos grupos que expliquem cada um dos objetivos,


exemplificando com situações de sala de aula como se podem


desenvolver as habilidades mencionadas nos objetivos. Essa


discussão deverá ser registrada e preparada para apresentação no


coletivo.


7. Após a discussão das apresentações, os educadores devem apontar sugestões para superar os problemas indicados na visão inicial. Nesse momento, faça um resumo das alternativas indicadas pelos grupos, em um cartaz que deverá ficar exposto na sala.


Sugira aos educadores que façam uma avaliação sobre o que


aprenderam nesta atividade, contando o que foi mais significativo, por meio de um pequeno texto coletivo que deve ser registrado no caderno de notas.






SEGUNDA ATIVIDADE


Refletindo sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática (4h)


1. Peça aos educadores que se organizem em duplas ou trios e atribua a cada um deles uma das questões que seguem, para que discutam e respondam por escrito:


! Por que, hoje em dia, é importante ensinar Matemática para os


nossos alunos e o que é fundamental que eles aprendam? (Proposta


Curricular, pp. 99 e 100).


Quando jovens e adultos que nunca freqüentaram a escola procuram o curso de alfabetização é comum dominarem conhecimentos


matemáticos? O que eles sabem? Como podem ter adquirido esses


conhecimentos? (Noções e procedimentos informais, Proposta


Curricular, pp. 100 e 101).


Que situações são mais interessantes para tratar a Matemática na sala de aula? (A Matemática na sala de aula, Proposta Curricular, pp. 101 e 102).


O que significa trabalhar a resolução de problemas como um caminho


para ensinar Matemática? (A resolução de problemas, Proposta


Curricular, pp. 103 e 104).


Qual é o papel dos materiais didáticos no ensino e na aprendizagem da Matemática? (Os materiais didáticos, Proposta Curricular, pp. 105 a 107).


Quais são os conteúdos de Matemática fundamentais a serem


ensinados nos cursos de alfabetização e pós-alfabetização para jovens e adultos? (Os conteúdos, Proposta Curricular, pp. 103 e 104).


/ Para iniciar esta atividade anote apenas as questões no


quadro-de-giz. A indicação dos textos e as respectivas páginas da


Proposta Curricular, que aparecem logo após cada uma delas, serão


utilizados no item 3 desta atividade.


2. Em seguida, todos os grupos que receberam a mesma questão se


reúnem para a leitura de suas respostas, discutem novamente a


questão e produzem uma nova resposta por escrito.


3. Após esse exercício, oriente os novos grupos para que leiam, na


Proposta Curricular, o texto referente à questão discutida e comparem com a resposta que elaboraram, buscando identificar pontos comuns e divergentes, fazendo alterações se for necessário.


4. Para finalizar, cada grupo apresenta a questão estudada para o


coletivo. Oriente os grupos para que usem exemplos de situações de


sala de aula nas suas explicações e preparem cartazes ou façam uma


síntese no quadro-de-giz.


Sugira aos educadores que façam, individualmente, uma


avaliação sobre o que aprenderam nesta atividade, escrevendo, no


caderno de notas, frases que mostrem o que foi mais significativo para cada um.


TERCEIRA ATIVIDADE


O que ensinar de Matemática? (4h)


1. Em pequenos grupos, os educadores escolhem um dos assuntos


indicados para analisar a abordagem apresentada na Proposta


Curricular. A saber: Números, Operações, Medidas, Geometria,


Introdução à Estatística.


É importante assegurar que ao menos dois grupos discutam um


mesmo assunto. Caso haja tempo disponível, pode-se propor aos


grupos que analisem dois assuntos antes da realização da síntese final. Para subsidiar essa discussão, os educadores devem consultar, no


item Blocos de conteúdos e objetivos didáticos, na Proposta Curricular (pp. 111 a 158), o texto referente ao assunto escolhido e os respectivos quadros que apresentam os tópicos dos conteúdos e os objetivos didáticos.


Recomendamos que o bloco de conteúdos que trata dos


Números e Operações numéricas, por ser muito longo, seja separado


em dois: Números e Operações e entregue para análise a dois grupos


diferentes.


2. Oriente o trabalho de cada grupo, indicando os principais pontos


sobre os quais o grupo deverá refletir e tomar decisões. Peça também


aos grupos que preparem uma síntese para posterior apresentação.


Para os Números:


• a importância de se desenvolver o sentido numérico e a


compreensão das regras que caracterizam o sistema de numeração


decimal;


• os significados que os números naturais e as frações assumem em


diferentes contextos;


• obstáculos à aprendizagem, decorrentes da complexidade de certos


aspectos relacionados aos números naturais e às frações;


• contextos apropriados para criar situações-problema voltadas para o estudo dos números;


• ênfases e aspectos secundários no ensino e na aprendizagem dos


números naturais, das frações e dos números decimais;


• seqüência de ensino;


• atitudes que podem ser desenvolvidas no trabalho com


números.


Para as Operações:


• explicitação do que é o sentido operacional e de como ele pode ser


trabalhado nas aulas de Matemática;


• os diferentes significados relacionados ao conceito de cada uma das


operações fundamentais e a importância de trabalhar com esses


significados;


• a importância de se trabalhar os diferentes procedimentos de cálculo mental e cálculo escrito, em situações que envolvem números naturais e números decimais;


• a importância do trabalho com estimativas no ensino e na


aprendizagem do cálculo;


• seqüência de ensino;


• atitudes que podem ser desenvolvidas no trabalho com as


operações.


Para a Geometria:


• alternativas para o estudo do espaço no início da aprendizagem


escolar;


• alternativas para o estudo das formas bi e tridimensionais nas séries iniciais;


• a importância das representações gráficas na aprendizagem dos


conceitos e dos procedimentos geométricos;


• seqüência de ensino;


• atitudes que podem ser desenvolvidas no trabalho com o espaço e a forma.


Para as Medidas:


• dimensões do conteúdo matemático e de outras áreas do


conhecimento que podem ser favorecidas com o estudo das grandezas e medidas. Exemplificar;


• conhecimentos fundamentais para desenvolver a noção de medida;


• seqüência de ensino;


• atitudes que podem ser desenvolvidas no trabalho com grandezas e


medidas.


Para a Introdução à Estatística:


• abordagem nas séries iniciais das noções de Estatística, tais como: a coleta e a organização de dados, a construção de listas, tabelas de


dupla entrada e gráficos, a noção de probabilidade e média aritmética;


• seqüência de ensino;


• atitudes que podem ser desenvolvidas no trabalho com o tratamento da informação.


3. Os grupos poderão preparar suas exposições em cartazes e utilizar


recursos para ilustrá-las, comentando abordagens apresentadas em


livros didáticos, artigos especializados ou vídeos educativos. Poderão


ainda apresentar atividades com materiais como ábaco, calculadora,


sólidos geométricos, instrumentos de medida etc.


Para desenvolver esta atividade é fundamental que o coordenador


conheça bem os textos indicados, fazendo uma leitura cuidadosa antes de apresentá-los aos professores.


4. Sugira aos educadores que façam uma avaliação sobre o


que aprenderam nesta atividade, utilizando a expressão corporal


ou a dramatização para mostrar o que foi mais significativo para


cada um.


QUARTA ATIVIDADE


Planejando o trabalho de sala de aula (4h) Ao iniciar esta atividade, reúna, no espaço em que está sendo


realizado o trabalho, toda a produção dos educadores, principalmente


os cartazes construídos na atividade anterior. É interessante, também,sugerir a retomada das anotações feitas no caderno de notas e as avaliações que indicam o que foi mais significativo para cada um no decorrer do trabalho.


1. Em pequenos grupos, os educadores lêem e discutem o módulo 2


(pp. 63 a 104), Nosso tempo, do livro Viver, Aprender 1.


2. Após a leitura, indicam os objetivos a serem atingidos e os


conteúdos matemáticos a serem desenvolvidos com as atividades


apresentadas neste módulo. Além disso, é interessante que os


educadores identifiquem, nas atividades propostas, aspectos


comentados nos textos que leram na Atividade 3.


3. Oriente os educadores para que, individualmente, escolham um


tema, como, por exemplo: Quem somos?, Nosso lugar, Nosso trabalho ou Nosso corpo, e desenvolvam uma proposta de trabalho em Matemática (programação), a ser aplicada em sala de aula no período de uma semana.


/ Essa programação deverá ser construída de modo que fique


visível como os conteúdos serão intercalados e quais conexões poderão ser estabelecidas em função da seqüência escolhida. Esse


planejamento deverá romper com o modelo tradicionalmente proposto,em que os conteúdos são apresentados isoladamente, hierarquizados e esgotados em um único momento de aprendizagem.


Para tanto, os educadores poderão tomar como referência a análise


dos conteúdos feita na terceira atividade e o exemplo apresentado no


módulo Nosso tempo.


4. Prepare antecipadamente um roteiro para auxiliar a elaboração da


programação. Sugestão de alguns itens que poderão fazer parte desse roteiro:


• a série a que se destina;


• os objetivos, ou seja, as capacidades a serem desenvolvidas ou


ampliadas;


• os conteúdos que serão trabalhados (se possível, contemplar


conteúdos dos diferentes blocos: Números e Operações numéricas,


Medidas, Geometria, Introdução à Estatística);


• se possível, os conteúdos novos que serão introduzidos e conteúdos


que serão mantidos e sistematizados;


• a atividade desencadeadora do estudo que está sendo proposto:


situação-problema inicial que vai gerar a necessidade de construir


novos conhecimentos;


• as possíveis conexões dos conteúdos de Matemática com conteúdos


de outras áreas do currículo;


• as fontes de informação e os recursos para subsidiar o trabalho dos


alunos e do professor;


• o tempo de duração desse trabalho.


5. Quando os trabalhos estiverem prontos, os educadores reúnem-se


novamente em pequenos grupos para apresentá-los e discuti-los.


Assegure que cada um dos temas propostos seja discutido por


pelo menos um grupo, propiciando, assim, a troca de idéias e o


enriquecimento das propostas individuais.


6. Organize uma exposição das unidades elaboradas para que todos


conheçam os trabalhos produzidos. Caso haja condições, podem-se entregar cópias dessas


programações ao coordenador, para que as reproduza e distribua aos


professores interessados.


7. Encerre o trabalho abrindo espaço para que os educadores façam


pequenos depoimentos, relatando aos demais os novos aspectos que


incorporaram na sua compreensão do processo de ensino e aprendizagem


em Matemática, a partir das atividades desenvolvidas neste módulo, e como isso se reflete na programação elaborada por ele.