domingo, 8 de agosto de 2010

Pedagogia e Educação Física

Muito mais que estabelecer uma relação entre a Educação Física e a Pedagogia, este estudo pretende demonstrar como a Educação Física contribui ou pode contribuir no processo de aprendizagem em todos os níveis escolares, dentro de seus valores e conteúdos, que acredita-se corresponder com os objetivos educacionais da Pedagogia. Para tanto, iniciar-se-á buscando uma definição do que é a Educação Física, diferente das definições tradicionais, como " ciência que estuda o movimento humano".  MEDINA(1983) citado por OLIVEIRA(1994), define Educação Física como: " A arte e a ciência do movimento humano que, através de atividades específicas, auxiliam no desenvolvimento integral dos seres humanos, renovando-os e transformando-os no sentido de sua auto-realização e em conformidade com a própria realização de uma sociedade mais justa e livre."  Já para PEREIRA(1988), " É a parte da educação do ser humano que acontece a partir, com e para o movimento. A educação física é um meio de educação social que ocorre através – e para – a prática consciente, processual, metódica de atividades físicas gímnico desportivas, que valorizam o conhecimento do corpo humano e objetivam o seu desenvolvimento. Educação Física é a educação corporal, via exercitação física, realizada necessariamente sob o prisma pedagógico, de unidade sócio-biológica, que pelo desenvolvimento e treinamento de habilçidades motoras e qualidades físicas, psíquicas e morais que visa a plena elevação cultural, harmoniosa e integral do homem." GLASER(1981), define Educação Física como: "Um aspecto da educação, por parte de um todo; portanto tem os mesmos fins da educação, isto é, formar o indivíduo física, espiritual e moralmente sadio".  Aqui, rapidamente adota-se o conceito de que a Educação Física pode ser a ciência que estuda a ação humana, tanto do ponto de vista motor quanto social. Estuda o homem como agente transformador, que lança mão de suas ações, movimentos e expressões corpóreas; da sua cultura e consciência corporal em si, para determinar e transformar o mundo e sua vida material. Por isso justifica-se o estudo de conteúdos relacionados à História, Filosofia e Sociologia da Educação Física, nos cursos de Educação Física e Pedagogia. Mas, dentro do processo educativo, como age a Educação Física? É quase de comum acordo entre os estudiosos que analisam todas as faces das Educação Física Escolar, de que a mesma educa por dois processos, ao mesmo tempo similares e ao mesmo tempo tão distintos: Educação para o Movimento e, Educação pelo Movimento. Educação para o movimento, é a utilização de atividades físicas, motoras e recreativas, com o objetivo de desenvolver a motricidade geral do educando. Visa o ensino e o aprimoramento de capacidades físicas (força, velocidade, etc.) e capacidades motoras de base (coordenação, lateralidade, noção espacial), bem como habilidades específicas, no que concerne às técnicas de movimento. A educação centra-se no movimento. Para FREIRE(1992), na educação pelo movimento, o movimento é um instrumento facilitador da aprendizagem de conteúdos ligados ao aspecto cognitivo. O movimento torna-se então, um meio de aquisição e desenvolvimento de objetivos educacionais de ensino, como psicomotricidade, cognição e afetividade, por exemplo. LE BOULCH(1987), acredita que "o objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende ao mesmo tempo a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar." Conforme MATTOS (1999), a "educação pelo movimento visa conjugar os fenômenos motores, intelectuais e afetivos, garantindo ao homem melhores possibilidades na aquisição instrumental e cognitiva, bem como na formação de sua personalidade."  É justamente por intermédio da educação pelo movimento que a Educação Física interage com a Pedagogia no processo educativo, pois ambas visam o desenvolvimento de métodos e processos de ensino que objetivam o desenvolvimento global do indivíduo. Mas, antes de esclarecer de forma mais específica como a Educação Física se relaciona com a Pedagogia e como contribui para a Educação geral...cabe ressaltar que a Educação Física, como ocorre com a Educação, sofre e sofreu influência de tendências e concepções variadas, servindo também aos interesses do estado e instrumento ideológico do sistema econômico dominante. CASTELLANI Fº(1988, p.11.), afirma que a Educação física, muitas vezes, "tem servido de poderoso instrumento ideológico e de manipuilação para que as pessoas continuem alienadas e impotentes diante da necessidade de verdadeiras transformações no seio da sociedade." Por conseqüência escreve-se quase sempre uma história que é o próprio reflexo dessa situação de dominação que se pretende eternizar.  A Educação Física como componente curricular educacional, pode-se dizer que sofreu ampla influência das tendências ou concepções de educação que surgiram e vigoram até hoje na escola. SAVIANI(1998, p. 19), considera como tendências, "determinadas orientações gerais à luz das quais e no seio das quais se desenvolvem determinadas orientações específicas, subsumidas pelo termo correntes". Dentro de uma concepção de que a Educação Física, como componente educacional, também passou e passa por influências pedagógicas e ideológicas e, que também pode estar à serviço de modelos sociais e políticos dominantes, tentar-se-á relacionar a Educação Física escolar às tendências e concepções pedagógicas vigentes ou que já vigoraram na educação brasileira, com o intuito de verificar a influência dessas concepções no referido campo de estudo. Esta análise se iniciará com a Pedagogia Tradicional, com suas características já descritas anteriormente, de que forma esta influenciou ou influencia a prática do ensino da  Educação Física na escola. A Educação Física adentrou na educação brasileira, com fins militares e higiênicos, no Brasil Império a grande maioria dos trabalhos sobre Educação Física, devem-se ao Colégio do Rio de Janeiro(Faculdade de Medicina), que exigia dos candidatos ao diploma de doutor em medicina, uma tese obrigatória. Influenciados pelas teorias de Rousseau e Spencer, muitos dos doutorandos escolhiam a Educação Física como tema de suas teses. CASTELLANI Fº, diz estar a História da Educação Física no Brasil, se confundindo em muitos momentos, com a dos militares.(1988, p. 34). Desde a criação da Academia Real Militar em 1810(dois anos após a chegada da Família Real no Brasil), passando pela fundação da Escola de Educação Física da Força Policial do Estado de São Paulo, em 1910 ( o mais antigo estabelecimento especializado em todo o país), até a criação do Centro Militar de Educação Física  em 1922, criado à partir de uma portaria do Ministério da Guerra, somados a outros fatos, marcaram a presença dos militares na formação dos primeiros professores civis de Educação Física.  Desta forma, a Educação Física no Brasil, teve suas origens marcadas pela forte influência das instituições militares, que por seu lado, foram influenciadas e "contaminadas" pelos princípios positivistas de manutenção da ordem social para chegar-se ao "Progresso e ao Desenvolvimento" do país. Assim, "a Educação Física no Brasil, desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para forjar o indivíduo forte, saudável, indispensável à implantação do processo de desenvolvimento do país". (CASTELLANI Fº, 1988, p.38 e 39). Esta tendência Higienista(Educação do Físico/Saúde Corporal), não deve-se apenas aos militares, mas também aos médicos da época, que dentro da sua produção acadêmica, como já citado anteriormente, em referência a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; também influenciaram nos padrões de conduta física, moral e intelectual da sociedade. Influência esta, que vem da Europa do século XVIII onde a medicina era muito mais como técnica geral da saúde, do que propriamente "serviço das doenças ou arte das curas", pois o médico de certa forma estabelecia algumas condições morais(higienistas) à família européia. (CASTELLANI Fº, 1988, p. 40-41).  A força física, a energia física, transformava-se em força de trabalho; os exercícios físicos então, passam a ser entendidos como "receita" ou "remédio". O trabalhador, até então, cheio de moléstias acarrentadas pelo seu modo de vida, deveria adquirir um corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela nova sociedade capitalista; desta forma, neste período, a Educação Física correspondeu plenamente aos interesses da classe social hegemônica. (SOARES, 1992, p.51).  Foi por influência higienista que os educadores passaram a defender a introdução da ginástica nos colégios, apesar da resistência da elite que via com preconceitos a prática da atividade física, porque valorizava o trabalho intelectual. A Educação Física era, inclusive por seus defensores (como por exemplo Rui Barbosa), algo relacionado apenas ao corpo, separado do espírito e do intelecto, dentro de uma visão dual do homem. O surgimento dos métodos ginásticos na Europa, foi uma necessidade de sistematização dos exercícios físicos formativos.  "No Brasil, especificamente nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante no sistema educacional a influência dos métodos ginásticos e da instituição militar".(SOARES, 1992, p.53). A educação Física era assim concebida, como atividade exclusivamente prática. Como a prática da Educação Física escolar basicamente iniciou-se com o militarismo e o higienismo, estes possuiam dentro da pedagogia tradicional ampla relevância no sentido da formação do corpo vigoroso e saudável, com suas destrezas bem aprimoradas, com o objetivo de formar o indivíduo "forte" e apto para o trabalho e para o cumprimento das obrigações militares. Basicamente as atividades físicas praticadas na escola em nada distinguiam da praticada nos quartéis, com ampla utilização dos métodos ginásticos europeus e ênfase acentuada nos exercícios calistênicos (repetitivos, sequênciais, formativos, militarizantes), que objetivavam o desenvolvimento das qualidades físicas essenciais como força, velocidade, agilidade, ritmo,etc. Alguns exemplos desses exercícios são o "poli-chinelo", a flexão de braço, o abdominal, o "canguru", etc.  O professor de Educação Física, então como mero transmissor destes conteúdos, em nada faz com que estes sejam motivantes ou despertem o prazer pela prática, o aluno deve apenas reproduzir e executar corretamente os movimentos orientados pelo professor, de maneira passiva e disciplinada, semelhante realmente a um quartel. Tanto que para isso, algumas "vozes de comando" eram utilizadas na Pedagogia Tradicional, como "esquerda ou direita volver" ou "posição de sentido", etc. A Pedagogia Tradicional quando lança mão de algum conteúdo que não seja a ginástica formativa militarista, utiliza de desportos tradicionais como o atletismo, a ginástica olímpica, o futebol, voleibol, basquetebol e o handebol.  Aqui a avaliação dos conteúdos é somativa e a reprovação, quando ocorre, se efetua por desempenho físico-motor insatisfatório. Assim a Educação Física na Pedagogia Tradicional, nada mais é que uma disciplina potencializadora de saúde para o mundo do trabalho e para o serviço militar. Como conseqüência dessa prática autoritária, ocorre o que chama-se de "alienação do corpo", limitando a autonomia do aluno em relação a sua criatividade de expressão corporal, condicionando-o à executar as funções criadas pelo sistema.  "Historicamente a educação liberal iniciou-se com a Pedagogia Tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a Pedagogia Renovada (Escola Nova)." (MYAGIMA, 1989, p.07). Na 2º fase do Brasil República(1930-1937), as reformas educacionais realizadas em diversos estados brasileiros, nas décadas de 20 e 30, contemplam a Educação Física como componente curricular do ensino primário e secundário. À partir desse momento a Educação Física começou a ser alvo das atenções dos profissionais da educação, além dos militares e médicos; começando assim, o início de um leve distanciamento dos princípios higienistas. Após a Constituição de 1937 (Ditadura Vargas), algumas questões como a Segurança Nacional e o reforço do civismo, fizeram com que a Educação Física assumisse um caráter de "militarização do corpo" mais acentuado (moralização do corpo, aprimoramento eugênico, preparo ideológico do indivíduo por meio do físico -adestramento físico). As práticas físicas, neste período, não mudaram muito no que se refere ao conteúdo dos períodos anteriores, devido ao auge da "Escola Renovada" ter ocorrido na década de 30, onde o Brasil buscava seu desenvolvimento nacional, as influências militaristas, higienistas e eugênicas que predominavam nas décadas anteriores, permaneciam fortes na educação pelas necessidades da época. Com isso, os conteúdos curriculares permaneciam centralizados na ginástica e no desporto, mas, devido aos conceitos de centralização do processo educativo nos interesses e necessidades dos alunos, começa a despontar aqui, o interesse pela Recreação no conteúdo de Educação Física, como agente motivador e catalisador do prazer pela aula de Educação Física, que também lançou mão, além das brincadeiras tradicionais, dos esportes como meio de recreação, motivação e lazer, fruto de conceitos advindos do período Pós-Revolução Industrial. A Recreação atende aos preceitos Escola Novistas  do professor (recreador) como mediador e facilitador da aprendizagem e o aluno como um ser ativo, centro do processo; seus interesses, motivações e auto-realização dirigem a aula. A partir do ensino que privilegiou os aspectos metodológicos em contraposição à ênfase dos conteúdos das matérias, introduz-se nos sistemas públicos de ensino a tecnologia educacional, incorporando à prática escolar os recursos fornecidos por esta tecnologia, criando a Pedagogia Tecnicista ou Analítica, caracterizada pela exacerbação dos meios técnicos de transmissão do conhecimento.(MYAGIMA, 1989, p.07). 

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