O diabo na garrafa
Demônio escaldado tem medo de água fria
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Certo homem, que tinha todos os motivos do mundo para desconfiar da esposa, necessitou viajar a um país distante. Preocupado com o que poderia acontecer durante sua ausência, pediu ao demônio que vigiasse a mulher. O diabo concordou prontamente – e se transformou num serviçal.
A mulher, contudo, era muito esperta e percebeu que havia algo estranho naquele empregado que fiscalizava todos os seus movimentos e lhe fazia as vontades com extrema rapidez. Chamou, então, o demônio, e disse: “Vejo que você é um empregado com dotes excepcionais, capaz de verdadeiros milagres... Mas duvido que consiga fazer uma coisa...”. O demônio, envaidecido, e querendo provar seu poder, respondeu: “Posso fazer tudo o que a senhora me pedir – e muito mais”. A mulher, aproveitando-se do exagerado amor-próprio do diabo, sugeriu, apontando para uma garrafa vazia sobre a mesa: “Pois duvido que você consiga entrar naquela garrafa”. O capeta, sem perceber a arapuca, enfiou-se no vasilhame. E antes que ele pudesse escapar, a mulher fechou a garrafa com uma rolha.
Nas semanas que se seguiram, a mulher desfrutou de sua liberdade como bem entendeu, comprovando todas as desconfianças do marido. Quando este retornou de viagem, depois de ser recebido com extremo carinho pela esposa, perguntou pelo empregado. “Ah, meu amor”, respondeu a mulher, “um dia, não sei por qual motivo, ele ficou enfezado e simplesmente partiu...” E enquanto o marido pensava sobre o que poderia ter acontecido, ela completou: “Será que não era o demônio? Veja só o cheiro de enxofre que ficou nesta casa desde que ele foi embora!”. De fato, a casa fedia a alguma coisa que a mulher, de caso pensado, queimara sem que o marido percebesse. “Por que você não pega esta garrafa, vai à igreja e enche-a de água-benta? Depois jogamos a água pelos cantos da casa e nos livramos desse cheiro do Inferno...
”O marido, que além de ciumento era um simplório de marca maior, obedeceu. Quando chegou à igreja, aproximou-se da pia de água-benta e, tirando a rolha, começou a encher a garrafa. Mas quando a primeira gota caiu sobre o demônio, este fez o vasilhame explodir – e, queimado pela água-benta, disparou rumo ao Inferno para nunca mais voltar.
O marido, sem nada entender, ainda meio tonto por causa da explosão, voltou para casa. E, para alegria da esposa, continuou viajando a trabalho – mas sem conseguir que o demônio aceitasse tomar conta de sua mulher.
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