Relacionando sentimentos e representações nas séries iniciais a partir de Diego Rivera
Na Escola de Educação Básica Feevale – Escola de Aplicação do Centro Universitário, em Novo Hamburgo/RS – o muralismo, na expressão do artista popular mexicano Diego Rivera, motivou crianças da 1ª etapa do Ensino Fundamental a participarem de atividades de sensibilização e de educação do olhar, em projeto desenvolvido pela arte-educadora Eva Monalisa Quadros. Licenciada em Artes Visuais e integrante do Grupo de Estudos do Pólo Arte na Escola da Feevale, ela organizou seu plano de trabalho em nove aulas de dois períodos, que culminaram com uma exposição dos trabalhos no hall Salão de Atos da Universidade.
Levando em conta o objetivo geral da 1ª etapa do Ensino Fundamental - “relacionar expressões faciais, sentimentos e estereótipos nas diferentes representações e meios” -, a professora Eva Monalisa definiu como seus objetivos para o primeiro trimestre de 2003 levar alunos na faixa dos 7 aos 8 anos a observar expressões faciais e sensoriais, bem como expressões estereotipadas, tendo por base a obra do artista Diego Rivera, contextualizada e apresentada em imagens reproduzidas de livros e revistas.
“Quanto mais cedo a criança tiver contato com imagens de obras de arte, conhecendo artistas e movimentos, mais subsídios ela terá para entender o processo, aprendendo a ler o mundo, a dialogar com ele e a expressar-se de forma criativa”, justifica a professora.
Etapas do processo (9 aulas de dois períodos)
1. No primeiro momento, os alunos expressaram, por meio de desenho a lápis aquarela, o que gostariam de fazer e aprender em Artes nas próximas aulas.
2. Sentados em círculo sobre o carpete do ateliê, apreciaram os desenhos em conjunto e expuseram suas opiniões, sendo estimulados pela professora a perceber como as pessoas pensam e expressam suas idéias de forma diferente. O conceito de expressão e seu significado foi então trabalhado. Utilizando imagens de cores frias e quentes, a professora perguntou: “Quando entramos na água, o que sentimos? Qual é a sensação quando estamos na praia, sob o sol? E na chuva? Assim, foram sendo estabelecidas relações entre as sensações que cada cor proporciona. Depois, iniciou-se a atividade de sensibilização pelo olfato, em que parte do grupo experimentava cheiros como alho, talco, perfume, chá e sabonete, com os olhos vendados. Enquanto isso, a outra parte do grupo observava a expressão dos colegas, sem conversar. Só então foi iniciada a sessão de comentários, em que puderam imitar as expressões curiosas dos colegas em contato com os diferentes cheiros. Ao final da aula, cada um deveria representar, sobre duas folhas A4, expressões faciais: em uma, as “carinhas feias” e, em outra, as “carinhas bonitas”.
3. Depois de comentar os trabalhos do grupo, a professora mostrou imagens de revistas e pediu que dissessem quais os tipos de expressões que percebiam e identificavam. Logo após, foi apresentada uma caixa surpresa, com uma pequena abertura na parte superior, contendo elementos com diferentes texturas: gel, palitos, areia, fibra vegetal, isopor, arame. Sem conversar, sentiram os materiais. Em seguida, através de desenho com lápis de cor, representaram o que imaginaram e sentiram em cada um e refletiram em grupo sobre o exercício. No quadro, a professora reproduziu quatro tipos de expressões faciais estereotipadas. Pediu que escolhessem dois tipos, agregando a cada expressão selecionada alguns elementos correspondentes. Exemplo: carinha feliz = sorvete, sol, flor.
4. Após os comentários sobre os trabalhos realizados, foram apresentadas imagens com novas expressões faciais e propostos exercícios corporais para reproduzi-las. A atividade seguinte foi um trabalho coletivo com tinta, representando, sobre o muro localizado ao lado do ateliê, as diversas expressões e personagens que haviam descoberto.
5. Ao comentar o trabalho realizado no muro, a professora contou que aquela atividade era semelhante ao que fazia o artista mexicano Diego Rivera, que havia pintado mais de 4.000 m2 de muros e paredes, auto-retratos e retratos. Mostrou imagens de um livro e lâminas coloridas, contando um pouco da vida daquele artista que retratava o dia-a-dia do seu povo. A próxima atividade foi o desafio de desenhar o retrato de um colega. Alguns pediram para desenhar o pai ou a mãe.
6. Na avaliação dos trabalhos, foi explicada a diferença entre um auto-retrato e um retrato. A professora propôs que fizessem o auto-retrato de memória. Depois, deveriam colar em volta dele, sobre meia cartolina branca, imagens tiradas de revistas que tivessem alguma relação com o próprio aluno e as coisas das quais mais gosta.
7. Grandes desenhos resultaram da atividade anterior. Novamente foram mostradas imagens de obras de Diego Rivera. A professora contou que se relacionavam com costumes do povo mexicano, explicando, por exemplo, que lá o Dia dos Mortos é comemorado com uma festa. Perguntou a eles que tipos de festas existem no Brasil. Em seguida, mostrou a imagem da obra “Festa das Flores”, de 1925, onde duas figuras em primeiro plano estão de costas, sem olhos e boca. Pediu que observassem e imaginassem sobre o que estariam conversando. Como seria a expressão daqueles rostos? A postura? Deveriam então desenhar o que imaginavam estar acontecendo naquele momento, entre aquelas pessoas, naquela festa. Ao final, todos os trabalhos foram apreciados e comentados em grupo.
8. A atividade seguinte era imaginar uma festa da qual gostariam de participar e desenhar um esboço. Em seguida, sobre papel pardo de 60 x 70 cm, com fundo branco feito pelo grupo, ampliaram os esboços, usando tinta acrílica e formas bem grandes, tendo como idéia a festa ideal. Os trabalhos individuais foram colocados lado a lado dando a idéia de um grande mural.
9. Cada aluno falou sobre a festa escolhida. A aula foi encerrada com a seguinte proposta: Como é sentir alegria? Tristeza? Calor? Frio? Medo? Paz? Preguiça? Como deve sentir um gato? Cachorro? Formiga? A proposta era vivenciar essas sensações todas, tendo como objetivo imaginar a cena de uma festa em que estivessem presentes animais e pessoas com os quais mais se identificassem. Em grupo, os alunos planejaram a cena e a representaram em aula, divertindo-se muito com a atividade.
Registrando os comentários dos alunos e fazendo avaliações do processo em todas as aulas, a professora considerou o projeto bem-sucedido pois a turma passou a estabelecer relações entre os conhecimentos adquiridos e a produção plástica, observando aspectos técnicos e conceituais. “Ao conhecer diversas obras de Diego Rivera, eles ampliaram seu repertório de imagens, reflexões e conhecimentos, passando a perceber sentimentos, expressões e a fazer relações com outros artistas e ambientes.”
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